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Fotos

Uma Entrevista com Luiza Sá

Descobrimos que ela tem umas fotografias lindonas, muito além dos bastidores dos shows que participou - entre 2004 e 2010 ela já clicou mais de 6 mil fotos.

Eu e a Luiza Sá somos muito amigos. Mentira! Mas é verdade que a gente já se falou bastante por e-mail e telefone, até o dia em que ela cansou de ser bróder – e com razão. Foi durante a produção da entrevista que fizemos com o CSS para o The Creators Project. Como, além de tocar guitarra na banda, ela sabe fotografar, fiquei responsável por encher o seu saco pedindo fotos e mais fotos do grupo para ilustrar o vídeo numa época em que ela estava terminando a faculdade, começando as gravações do terceiro disco e tentando relaxar depois de mais ou menos quatro anos de estrada.

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Acabou que já estamos de bem, mas graças à minha insistência por trocentas imagens acabamos descobrindo que ela tem umas fotografias lindonas, muito além dos bastidores dos shows que participou – entre 2004 e 2010 ela já clicou mais de 6 mil fotos. A gente gostou tanto que imprimimos algumas delas nas páginas da Edição do Embargo e na atual Edição de Foto. Sobre essa última, liguei pra ela (de novo) pra conversar. A saber, ainda não chamo ela de Lu, o que é uma pena. Se a gente fosse amigo, com certeza eu teria fotos bem mais legais pra postar no Orkut do que aquela de quando fui pra Porto Seguro.

Qual a história dessa foto que você mandou pra nossa Edição de Foto? É um móbile equino…
Essa foto eu tirei na Noruega, em Oslo. A gente [CSS] estava fazendo turnê lá em 2007, abrindo pra Gwen Stefani. Depois do show a gente foi discotecar num clube, um clubezinho bem pequeno. Era um lugar muito louco que tinha, assim, uma parede inteira de adesivos do Bob Esponja e umas outras coisas super interessantes. Esse lugar existe, era tipo um bar.

Você já tirava foto antes de entrar na banda, certo? Mas era o seu primeiro plano, virar fotógrafa, ou você já queria ser rockstar?
Acho que eu não tinha nenhum plano pra nada [risos]. Eu era muito nova quando comecei a fotografar – meu pai tinha uma câmera [Nikon SE] que eu peguei e comecei a fotografar. Aí entrei na faculdade de Artes Plásticas porque comecei a achar que queria fazer isso, só que no meio do curso começou a banda. Não é que eu tinha um plano de ser fotógrafa ou música, eu só fui indo. Precisava estudar, era daquilo que eu gostava… As coisas foram acontecendo naturalmente.

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E foi aprendendo como?
Totalmente autodidata, só errando e tentando.

Qual equipamento você usa hoje em dia?
Continuo usando essa Nikon, adoro ela – inclusive tem uma lente de 28 mm que eu amo, acho que é minha lente preferida. Mas eu uso várias câmeras diferentes para situações diferentes, desde aquelas mais compactas point-and-shoot até… Essa foto do cavalo eu tirei com uma Leica. E tem outra câmera que eu gosto muito que é a Contax G2. E tudo filme, nunca tirei foto digital.

E você tem alguma característica específica?
Eu tenho uma estética, tem coisas que eu sempre procuro. Tem vários fotógrafos que eu amo, mas eu não tento fazer o que eles fazem.

Qual seu fotógrafo favorito?
É uma pergunta difícil… Eu gosto muito do William Eggleston, Robert Frank…

E o que você mais detesta?
Então, tem coisas do Terry Richardson que eu realmente detesto. Tem coisas que eu gosto, acho bonito, mas tem coisas que eu acho horríveis, que representam toda uma coisa que eu odeio – um machismo misturado com um uso de poder em cima de uma pessoa jovem, sabe? E também é feio, às vezes. E quando você tem… Um dos fotógrafos que eu mais gosto também é o Larry Clark, então quando você tem um Larry Clark, o Terry Richardson parece bobo dependendo do que ele faz. Na verdade ele é um pervertido. Tá na cara.

Agora que você se formou me diga: sobre o que era o seu trabalho de conclusão de curso?
Essa é uma grande pergunta, acho que não dá pra eu resumir com uma palavra – até porque eu tentei juntar coisas muito diferentes, não só fazer uma edição óbvia que um editorial faria, com tema. Tentei abordar coisas que eu gosto. Não sei, pra eu te explicar teria que ter meu texto aqui pra ler [risos]. É algo como estar vivo e se relacionando. Tem uma parte teórica, mas não tem uma conclusão, não necessariamente tem que provar alguma coisa. Vou pensar um pouco. Faz outras perguntas que eu te respondo essa [risos]. Acho que eu fiquei tão encanada com esse trabalho que agora me deu um branco.

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Tá vai. Vi que você participou de uma exposição na Austrália em 2009. Costuma expor bastante?
Na verdade acho que eu poderia fazer mais coisas. Fiz umas coisinhas nos Estados Unidos, também, menores que essa exposição, mas acabou que a vida que eu tive nos últimos cinco anos foi meio corrida, então não sobrou muito tempo pra ficar tendo muito plano. É que eu não sou workaholic, sabe? Preciso de tempo entre os trabalhos. Então em 2009 eu fiz essa exposição, mas foi um ano basicamente de férias. Fiz algumas outras coisas com fotografia, mas acho que sou meio vagal [risos]. Devia ir mais atrás. E pra mim também é difícil, tipo, agora a gente tá fazendo um disco, e é muito difícil caber na minha cabeça uma exposição enquanto fico pensando no disco ao mesmo tempo. Eu tenho que fazer uma coisa por vez. Assim, posso estar fotografando agora, mas se eu tiver que fazer um puta projeto acho que vou ficar meio louca, e eu não gosto disso. Gosto de estar totalmente focada.

Aquela exposição tratou mais da relação das fotógrafas com o ser feminino através de uma exploração sensorial, além da visual – tá, eu li no release. Tem algo que você prefira fotografar ou que odeie fotografar?
Eu não consigo fotografar estranhos. Isso é muito raro. Não tenho essa vontade de fotojornalismo, de ficar indo pra Índia fotografar sei lá quem na rua… Não me relaciono com isso, não consigo fazer. Não gosto de fotografar pessoas quando elas não sabem, não gostam, não querem ou quando estão frágeis. É um senso de ética, sinto que não preciso mostrar o lado negativo pra mostrar o lado positivo. Gosto de fotografar pessoas que eu conheço, lugares que eu tenham alguma relação com alguma coisa que eu esteja sentindo na hora.

Já teve alguma chateação por você ter sido a ‘fotógrafa oficial’ de uma banda que ficou em turnê por quatro anos, tipo achar que você é quem tem que passar todas as fotos da banda?
[Risos] Teve um momento em que eu tive que separar as coisas. Quando fiz essa exposição na Austrália até me perguntaram se eu queria que enviasse um release para os fãs verem, e eu não quis. Eu tenho o maior orgulho de ser da banda, e tenho o maior orgulho de tirar foto, mas acho que as coisas têm que se sustentar por si só. Resumir minha fotografia a essa coisa da banda, de backstage, me irritou uma hora porque poderia cair nisso, mas eu achei que era muito pouco. Não é que eu não queira fazer, mas eu não quero fazer só isso. E acho que não é só isso.

Das suas duas atividades atuais, qual você acha que sabe fazer melhor: tocar guitarra ou fotografar?
[Risos] Putz, meu… Eu não acho que eu toque muito e também acho que não fotografo muito bem, mas todo mundo pode fazer isso, sabe? O que me atrai mais é criar, o processo de criação no estágio número um. Por exemplo: em relação à música eu não sou muito detalhista, gosto mais de pensar pra criação geral – prefiro que outra pessoa cuide dos detalhes. Com a fotografia… Não sei, a música é uma coisa conjunta, que eu não faço sozinha. A fotografia é uma coisa que eu faço sozinha, que não depende de ninguém. É outra relação, sei lá, mas eu não acho que eu seja boa em nada, mas quero continuar fazendo tudo.

Bom, já conseguiu pensar em alguma coisa pra descrever seu trabalho de conclusão de curso?
[Risos] É… Agora que você tá me perguntando eu já pensei muito naquilo que eu mostrei, e pensei de uma forma diferente do que aquela hora que eu mostrei, sabe? Eu tenho outra visão, uma visão mais crítica… Mas acho que quis mostrar relações humanas com lugares. É o que une, o que toca um ao outro.