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Fotos

Uma Entrevista com Milos Mali

Milos Mali é um charmoso fotógrafo polonês que vive e trabalha em Sydney. As fotos dele saem direto na Russh, Vogue, Oyster e um monte de outras revistas que sua irmãzinha e eu sempre ficamos empolgadas quando lemos.

Milos Mali, que tirou essa charmosíssima foto com um frango para nossa Edição de Natureza-Morta, é também um charmoso polonês que vive e trabalha em Sydney. As fotos dele saem direto na Russh, Vogue, Oyster e um monte de outras revistas que sua irmãzinha e eu sempre ficamos empolgadas quando lemos. Enquanto dava uma olhada no seu trabalho, percebi que já tinha visto muitas fotos suas por aí antes mesmo de saber quem ele era, então conhecê-lo foi como fechar um ciclo na minha memória visual. Aqui a gente conversou sobre modelos, revistas, Londres, fotogenia e como câmera cara é coisa de babaca.

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Vice: Vou começar perguntando o básico. Quanto tempo faz que você é fotógrafo?
Milos Mali: Provavelmente comecei em 1999 ou algo assim, uns 11 anos.

O que inspira o seu interesse em fotografia?
Ah, eu tive aulas na escola e simplesmente aconteceu. Fazia parte do curso de artes, e nunca consegui desenhar bem ou nada disso, não tinha nenhum dom artístico. Aí quando comecei a fazer fotografia percebi que tinha algo a dizer.

De que tipo de coisa você tirava foto quando começou?
O mais engraçado é que o meu professor de arte tinha um monte de revistas de nu, então isso foi meio que minha inspiração. Mas sabe como é, tirava fotos das minhas namoradas, de amigos e tal.

Então você gosta de tirar fotos de pessoas?
É, mais ou menos isso.

Um amigo me contou que você curte tentar fazer as pessoas tirarem a calça para fotografar. É importante pra você que as pessoas esqueçam que estão sendo fotografadas?
Bom, eu sempre tento capturar a espontaneidade. Tento pegar as pessoas fazendo algo besta, na verdade. Tipo, um dia de trabalho muito bom, ou a melhor coisa no meu trabalho, é quando as pessoas acabam fazendo coisas estúpidas na frente da camera. Esse é o elemento divertido de tudo isso.

Eu vi sua natureza-morta com o frango. O que te levou a essa idéia?
Realmente não tinha muita idéia. O pai do meu amigo estava cozinhando um negócio demorado. Vocês pediram material e mandei um monte de coisa, aí escolheram essa. Só depois percebi a foto tem significados que eu não tinha percebido até então.

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É estranho como você pode colocar um monte de coisa junto e as pessoas tiram seus próprios significados.
Pois é, isso que é bacana. Isso tem a ver com editar e com o que você decide mostrar. Você olha a primeira vez e vê uma foto estúpida de um frango, mas agora que eu parei pra pensar, ela fala muito sobre mim. Como eu amo comida cozida lentamente, como eu amo cerveja. Sabe? Esse tipo de coisa.

Eu estava olhando o seu trabalho e é realmente estranho, porque vi tantas fotos suas por tanto tempo, desde quando eu era bem pequena, e nunca pensei que fosse falar com o fotógrafo delas. As de natureza-morta, aqueles batons da Russh e tal…
Lembrando dessa sessão que eu fiz para a Russh, ficou muito bonita, mas era tão simples. Era esse livro do Paul Theroux, que foi a primeira coisa que a stylist achou, e aí a gente construiu a foto em cima disso. Tecnicamente, a foto é bem simples, tipo, eu tirei a foto ali no jardim da stylist. Não foi iluminada nem nada, é uma foto realmente simples e que deu certo. Quando você faz tudo de forma simples e trabalha com pessoas que gosta, e vocês confiam um no outro, boas coisas acontecem.

Recentemente você fez um editorial para a Vogue
Aquela sessão de fotos foi bem simples. Era meio que um catálogo. Acho que eles estavam muito ocupados com outras coisas então, deixaram que eu organizasse tudo. Gosto de fazer as coisas de maneira simples. Algumas pessoas se perguntam o que é que tem no meu trabalho que o faz se destacar. É porque eu não uso técnicas muito loucas e não coloco nada para só enfeitar. O casting é a parte mais importante, e acho que a maioria não entende isso.

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É bom deixar o que vai ser fotografado falar por si mesmo.
Bom, claro, mas você tem que saber escolher o que vai fotografar. Esse é meu toque pessoal, digamos.

Como é trabalhar com a Catherine McNeil?
Ela foi bacana. Estava um pouco doente, mas teve momentos em que ela realmente se destacou. Dá pra perceber porquê é uma grande modelo. Uma grande modelo tem que ser valente. Se ela confia em você, e gosta do seu trabalho, se deixa levar por completo. É uma experiência muito divertida.

Eu tenho essa dúvida, a molecada de hoje em dia compra essas câmeras muito caras e fica falando que é fotógrafo. Que conselhos você, como um fotógrafo de verdade, pode dar para esses que pensam que já são fotógrafos?
Bom, pra falar a verdade, todos os meus assistentes tem equipamento bem melhor que o meu. Minha câmera está caindo aos pedaços, mas me recuso a comprar uma nova até que essa quebre. Eu posso pegar uma câmera nova, mas ela não vai melhorar minhas fotos. Quando eu comecei a fotografar e estava lendo todas essas revistas sobre fotografia, isso fodia com a minha cabeça porque eu estava acreditando nessa merda toda. Essa experiência me ensinou muito sobre essas revistas, no sentido em que elas são feitas para que você se sinta inseguro.

Com certeza…
Por dois anos eu me senti um merda com uma merda de uma câmera, mas a câmera não faz a foto. De qualquer forma, a maioria das câmeras que estão aí são boas demais pra maioria das pessoas. O que eu diria para os estudantes é para aprender a tirar o máximo que você consegue da sua câmera antes de passar para a próxima. É jogar dinheiro fora. Especialmente com as câmeras digitais. Você gasta US$ 2 mil, US$ 3mil dólares numa câmera digital e aí ela vale só, tipo, US$500 no ano seguinte. Outro conselho que eu daria é que, em vez de comprar uma porra de uma câmera, vá comprar uma passagem de avião pra qualquer lugar.

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Eu concordo com isso. Você tem alguma cidade favorita?
Eu morei em Londres por seis anos. Tenho boas memórias daquele lugar e sinto muita saudade. Londres é provavelmente minha cidade favorita porque é grande e acontece muita coisa por lá. Eu morei em Nova York também, mas Nova York é um pouco pequena, de uma certa maneira.

Sério? Mas Nova York é enorme.
É, é grande, mas o que é engraçado é que as coisas só acontecem em áreas específicas. Enquanto que em Londres a cidade é utilizada como um todo, sabe?

Dando uma olhada no seu blog dá pra ver que você trabalha muito com modelos, tira uma porção de fotos para os portfólios delas. Como é trabalhar constantemente com garotas muito bonitas?
É um pouco irritante. O que acontece é que esse é um trabalho que fode com a auto-estima das mulheres porque você está sempre cercado de pessoas absurdamente bonitas. É divertido no início, mas depois de um tempo não tem mais graça. Te faz ter essa expectativa ridícula. Não é uma coisa muito saudável, mas que se dane.

Nas suas próprias palavras, conte-me de forma curta o que a fotografia significa pra você.
Pessoalmente, ajuda a definir meu mundo. Me revela coisas sobre ele. Ultimamente estou tirando um monte de fotos, normalmente é tudo digital, mas as fotos sempre acabam ficando no computador e você nunca mais as vê novamente. Mas agora eu estou usando uma analógica e começando a ver coisas que eu não percebia antes nas fotos.

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Qual é a melhor foto que você já tirou?
Eu realmente não acho que tiro boas fotos.

E uma favorita?
Tipo, alguma que eu tenha visto?

Qualquer coisa que você tenha tirado e que você goste.
Eu acho que não consigo escolher uma foto só, mas as minhas favoritas são de pessoas próximas a mim. Já tirei algumas fotos bacanas da minha amiga Michella.

E qual foto que você ama, mas outra pessoa tirou?
Eu realmente amo as nuvens no Equivalents, do Alfred Stieglitz. Ele trouxe a arte moderna para os EUA e simplesmente fez essa série inteira com fotos de nuvens. Elas eram pequenas, tipo 10x12 cm, e abstratas. Elas evocam todos esses significados. Acho que realmente demostram o poder da fotografia.

Quais são suas influências e quais técnicas você gosta de usar nas suas fotos?
Eu realmente gosto do Walker Evans, ele é um fotógrafo da velha guarda. O que acontece com o trabalho dele é que é tudo bem básico. Ele tinha um flash montado na câmera já na era da Grande Depressão. Isso é muito contemporâneo. Ele é uma das minhas maiores influências, acho.

Às vezes vejo algo de que eu realmente quero tirar foto, mas assim que eu a tiro vejo que a imagem é muito diferente do que eu tinha visto sem a câmera. Isso acontece com você? Como combater isso?
Pô, claro, isso acontece o tempo todo. Basicamente, digo, isso acontece cada vez menos se você praticar. Com o tempo, quanto mais você tira fotos, mais você descobre o que funciona e o que não funciona. É só tirar um monte de fotos que você aprende se o que vai entrar na foto funciona ou não.

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Por que você acha que algumas pessoas saem bem em uma foto e outras não? Você já pensou que alguém poderia sair bem em uma foto, mas, assim que você tira a fotografia, percebe que a pessoa não está tão bem quanto pessoalmente?
Uma fotografia é um momento congelado no tempo. Quando você olha para uma pessoa e pensa o quanto ela é bonita é porque você conhece sua personalidade, a pessoa por completo, sabe? Seus movimentos etc. Às vezes algumas pessoas que não são convencionalmente bonitas estão sempre confortáveis e confidentes. Essas fotografam bem.

Beleza estética é a forma mais sem graça de representação humana. Eu vi uma foto ontem de um cara cheio de marcas de espinha, mas ele era muito bonito. Estava incrível.

Descreva um tema imagético que você curte.
No momento eu estou curtindo garotas sexys lendo livros (risos). Quero fazer uma série de fotos com filhotinhos de cachorro.

Cor favorita?
Azul.

Modelo favorita?
Lara Stone.

Ela se casou recentemente.
Que pena (risos).