FYI.

This story is over 5 years old.

VICE Sports

Um passeio pelo United London FC, o clube em que os torcedores escolhem a escalação

O sonho de todo brasileiro é a mais pura realidade no norte da Inglaterra.

Nenhum desses caras é vaiado. Foto: United London FC

Não é difícil perceber que a transparência não é o forte no cenário do futebol mundial. Decisões costumam ser tomadas por donos de clubes e conselheiros para, depois, muito depois, serem anunciadas aos torcedores.

Embora a hierarquia dos times exerça papel crucial no funcionamento de alguns clubes, o futebol em geral poderia se beneficiar se desse mais poder a seus torcedores. Transparência e prestação de contas são indicadores de um time bem gerenciado e, para uma boa gestão, a cooperação com a torcida é necessária.

Publicidade

Hoje são poucos os times de futebol que considerariam delegar poderes a seus torcedores tão radicalmente quanto o United London FC, "o primeiro time de futebol sem gerência do mundo", segundo diretor e criador do clube – embora talvez seja mais correto afirmar que este seja o único clube comandado por seus torcedores.

A premissa básica é que torcedores do mundo inteiro podem votar na escalação do time a cada semana, em um nível sem precedentes de controle. Não existe um único gerente, e as decisões são sempre tomadas pelo coletivo. O clube está prestes a estrear em sua primeira temporada e botará à prova o novo modelo na Essex Alliance Premier League – equivalente ao décimo segundo nível na pirâmide do futebol inglês.

Não foi difícil para o United London atrair o interesse de jogadores para o time, formado em parte por garotos recém-saídos de ligas de futebol e de times de divisões inferiores ou não totalmente profissionais. O clube tem o objetivo declarado de ajudar aqueles que ainda não brilharam, dando-lhes mais uma chance de impressionar algum treinador e de mostrar seus talentos. Com jogadores voluntários, o United London tem potencial para se tornar uma nova incubadora de profissionais e semiprofissionais

O sistema de votos é simples. Torcedores poderão participar de uma enquete online em datas específicas e o resultado será utilizado para determinar os 11 jogadores do time principal. O United London fará uma compilação com perfis e estatísticas de cada jogador, fornecendo aos torcedores as informações necessárias para as escolhas. Haverá ainda imagens dos treinos, mapas de calor e relatórios detalhados de cada jogo. Ao fim de cada votação, o time será escolhido segundo o voto popular.

Publicidade

A abordagem do time não é apenas radicalmente democrática, mas também pode dar novas oportunidades de carreira a jogadores que, por algum motivo, não conseguiram decolar. Muitos ex-jogadores jovens têm dificuldades em se adaptar a uma nova vida fora dos campos, o que pode causar problemas pessoais desastrosos. Com mais de 700 jovens saídos das escolas de futebol a cada ano, o número de talentos esquecidos é considerável. A tentativa de reduzir este número é um aspecto da responsabilidade social do United London, que também é um time único.

Para conhecer melhor o United London, conversei com Mark North e suas motivações ao criar o time e sua missão. Segundo North, o conceito do sistema de votação do time surgiu em parte porque gostava da ideia de um engajamento mais ativo com torcedores e também porque, um dia, estava assistindo ao programa X-Factor e pensou que podia criar uma versão daquilo para o futebol (sem Simon Cowell).

Fã da série de jogos Football Manager, North decidiu misturar o simulador de futebol preferido do público com o formato de um show de talentos e criar um time de de verdade que seria formado de acordo com votos do público. Com a estreia do United London em seu primeiro amistoso de pré-temporada na Hackney Cup no último fim de semana, sua ambição está prestes a ser realizada.

Curtindo uma convocação na Hackney. Foto: London United FC.

A ideia do United London foi posta em prática logo após seu surgimento, e agora o clube conta com quase 1000 fãs administradores prontos para começar a participar. Mark conta que, além dos muitos torcedores de Londres e de outras partes do Reino Unido, o time tem torcedores na Europa, Austrália, Rússia e Estados Unidos. O clube tem um caráter internacional que contribui ainda mais para sua peculiaridade. "Queríamos que fãs de qualquer lugar do mundo pudessem participar e dar vida ao clube", diz.

Publicidade

Segundo Mark, o clube recebeu enorme apoio local, algo que credita a um senso de camaradagem no futebol de base, assim como um aumento geral na popularidade do futebol semiprofissional e amador. "Recebemos o apoio de times como Clapton FC, Romford e outros. Queremos focar no futebol de base. O bom desempenho de times como Dulwich Hamlet e Salford trouxeram vida ao futebol de base." O United London quer fazer parte deste movimento, apesar de um longo caminho pela frente.

Mark concorda quando sugiro que a democracia direta baseada nos torcedores parece uma reação aos esquemas opacos das categorias superiores. "Quanto mais se sobe no sistema das categorias, menos engajamento há entre clubes e torcedores. Queremos reverter completamente esse cenário. Não tenho poder nenhum, e eu sou o diretor!" Acima de tudo, Mark parece estar verdadeiramente comprometido com o desejo de dar uma segunda chances aos jogadores rejeitados. "Temos jogadores que vieram de escolas como as de clubes como QPR, Stoke, Leyton Orient e diversos outros times profissionais. Em dois testes, tivemos mais de 200 candidatos."

O cenário mostra a enorme quantidade de talentos existente, jogadores que repentinamente se viram de fora do futebol profissional e que querem voltar. Segundo Mark, o perfil dos jogadores estará disponível para clubes nacionais e internacionais, em uma tentativa de incentivo à contratação destes nomes. "Em alguns clubes, as oportunidades acabam completamente após os 18 anos. Muitos desses meninos são bons o suficiente para jogar, e queremos que eles voltem ao sistema."

Não se sabe se a abordagem democrática do time é garantia de sucesso em campo, mas este pode ser o começo de algo muito especial. Não só o United London contará com a participação sem precedentes do público, como proporcionará a seus jogadores um novo começo. No mundo cada vez mais distante do futebol atual, esta só pode ser uma boa oportunidade.

Para informações sobre a próxima temporada, visite a página do United London ou siga o clube no Twitter aqui.

Tradução: Flavio Taam