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Por que os Japoneses Não Estão Transando?

Não é só você que não transa, fique tranquilo.

De acordo com um relatório recente da Associação de Planejamento Familiar do Japão, um número cada vez menor de pessoas na Terra do Sol Nascente está afogando o ganso. O novo dado, que contribui para a narrativa polêmica de um Japão cada vez mais assexuado, é um motivo de preocupação para os burocratas da nação, que, nos últimos anos, vêm tentando encontrar os incentivos certos para fazer com que mais cidadãos engravidem com o objetivo de tentar reverter o declínio da população do país.

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Das pessoas que responderam a pesquisa, 49% disseram que não tinham feito sexo no mês anterior, 5% acima dos números de 2013. A maioria culpou o cansaço, a perda da chama ou a sensação de que o sexo é apenas um aborrecimento. Mas 18% dos homens (20% deles entre 25 e 29) afirmaram que não têm interesse ou não gostam da viagem pra trás da horta, sugerindo uma mudança social profunda além de um período de seca coletivo.

Esses números surgem em meio a preocupações com o declínio da fertilidade no Japão e seus impactos econômicos em potencial. Com a maior expectativa de vida do mundo (80 anos para homens e 87 anos para mulheres, 83 anos em média) e sendo um dos 20 países com as menores taxas de nascimentos (1,4 filhos por mulher, índice abaixo dos níveis de reposição), muitos temem que, até 2020, as vendas de fraldas para incontinência superem as de fraldas para bebês; que, em 2040, as pessoas acima de 80 superem as abaixo de 15; e que, em 2060, a população japonesa encolha dos atuais 128 milhões para 87 milhões, com mais de 40% deles acima dos 65 anos. Dada a resistência da nação em aceitar mão de obra imigrante, isso poderia estancar a mão de obra viável e relegar o Japão ao que cada vez mais é visto como uma espiral inevitável para o declínio econômico – sem mencionar o abandono de muitos idosos, fora (no melhor dos cenários) o cuidado de robôs de companhia.

Embora a baixa atividade sexual esteja longe de ser o único ou mesmo o mais significativo fator alimentando a baixa fertilidade da nação – sexo nem sempre resulta em gravidez, e bebês nem sempre são resultado do sexo entre casais –, qualquer tendência que leve a menos gravidezes chama a atenção nacional e global nesse país tão faminto por bebês.

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Mas alguns rejeitam a narrativa de que o Japão está desenvolvendo uma "síndrome celibatária" única e generalizada, argumentando que, apesar de um número considerável de cidadãos não ter interesse em sexo, suas fileiras não são realmente impressionantes. Esses números, alegam os que acreditam num Japão sexual, parecem desproporcionais devido ao uso equivocado de estatísticas de namoro, casamento e nascimento para sustentar a noção de abstinência endêmica.

Muitos acharam problemático um artigo de 2013 do Guardian, que estava ancorado na noção de que os jovens japoneses pararam de fazer sexo. O artigo sustenta seu argumento baseado em diversas estatísticas sobre a cena dos solteiros na nação e em citações de mulheres lamentando as normas de gênero às quais as esposas têm de se conformar e as dificuldades de se manter uma carreira quando se tem um filho. Como os críticos apontaram, a falta de casamentos, relacionamentos ou experiências sexuais não é igual à falta de desejo sexual ou de atividade sexual para aqueles experientes mas não comprometidos.

Alguns críticos da narrativa celibatária argumentam que os números chocantes sobre falta de desejo sexual mascaram a realidade de uma nação cada vez mais cheia de tesão. Desde 1990, eles apontam, o número de indivíduos solteiros passando sem sexo caiu de 65 para 50% em relação às mulheres e de 45 para 40% nos homens. (Esses são estudos sobre como a queda na taxa de casamentos afeta essas estatísticas.) Um estudo de 2013 sobre atividade sexual realizado pela Sagami Gomu, uma fabricante de camisinhas japonesa, também mostra que 59% dos homens e 75% das mulheres na faixa dos 20 anos estavam transando, enquanto 83% dos homens e 57% das mulheres que não tinham feito sexo expressavam interesse em tentá-lo.

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Mas essas estatísticas não dissipam as preocupações levantadas pela última pesquisa da Associação de Planejamento Familiar do Japão. Como ser solteiro não significa necessariamente que uma pessoa não esteja transando, pessoas que fizeram sexo no passado não estão necessariamente fazendo sexo hoje. Mesmo atividade sexual em andamento não indica interesse sexual em alguns casos. Então, a única maneira de conseguir um indicador preciso para saber se os japoneses estão ou não transando é perguntar diretamente a eles sobre seus interesses sexuais, separando isso de seus status de relacionamento ou virgindade.

Fazendo isso, os números parecem mostrar um declínio do impulso sexual com o tempo. Em 2012, 36% dos homens adolescentes e 59% das mulheres adolescentes (uma população supostamente cheia de hormônios em todo o mundo) expressaram não ter interesse ou que ativamente recusavam sexo – um aumento de 19 e 12% em relação aos números de 2008, respectivamente. (Uma pesquisa do final de 2013 parece mostrar níveis mais baixos de desinteresse sexual, mas os números examinam uma faixa etária diferente e, portanto, impossível de comparar, especialmente porque a narrativa de celibato é mais marcada nas gerações mais jovens.) No mesmo ano, outra pesquisa da Associação Japonesa de Educação Sexual descobriu que a atividade sexual de universitárias tinha caído para 47%, uma queda de 60% desde 2005. Um estatístico criou uma série de gráficos para buscar as origens dessa tendência, que mostrou apenas como o impulso sexual do país é menor que os de outras nações.

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Comentários culturais tentaram culpar os "homens comedores de grama" ou "herbívoros", uma faixa demográfica supostamente grande de homens sensíveis e sexualmente tímidos. Mas aqueles que estudam essa subcultura (que parece ser uma rejeição da masculinidade padrão japonesa) não acharam evidência real de desinteresse sexual, com alguns deles se dando muito bem nessa área.

Outros culpam os fechados, homens jovens desempregados e socialmente inábeis vivendo com pouco contato social. Mas o número deles é menos de um milhão – muito pouco para explicar esses números.

Apontar esses grupos como causa do desengajamento sexual do Japão também parece um pouco com o ato de se banalizar para rebaixar, já que isso pede que acreditemos que a timidez dos homens pode explicar uma falta de interesse sexual nas mulheres jovens por toda a nação.

A explicação mais convincente para a tendência, portanto, podem ser as pressões culturais generalizadas e os desejos de vida em mutação da juventude japonesa. Comentaristas apontam que normas sociais ainda existentes sobre modéstia e pureza tornam difícil buscar escapadas ou sexo casual, o que leva alguns a verem isso como um incômodo.

O artigo do Guardian cita um conselheiro local de sexo e relacionamento, Ai Aoyama, que fala sobre como muitos jovens não querem se envolver em estruturas tradicionais de relacionamento ou experiências carregadas de sexo.

"Eles vêm até mim porque acham que, por quererem algo diferente, há alguma coisa errada com eles", Ayoama contou ao Guardian. "Muitos homens e mulheres me dizem que não veem o objetivo do amor. Eles não acreditam que isso leva a lugar nenhum. Os relacionamentos se tornaram muito difíceis."

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O governo japonês, numa tentativa de revigorar as taxas de fertilidade da nação, tem se focado amplamente em incentivos para procriação, em vez de se focar no sexo.

Há anos, o governo sedia sessões de encontro expresso, misturadores de solteiros, e tem colocado milhões em incentivos ficais e pagamentos em dinheiro para novos pais, além de políticas como cobertura estendida de creche, para facilitar a vida das mulheres que trabalham e têm filhos. A tentativa mais sexual foi estimular as empresas a expulsar seus funcionários às seis horas da tarde na esperança de que as pessoas cheguem mais cedo em casa e coloquem mais alguns bebês nos números do censo.

Como a falta de interesse sexual é uma questão profunda, pessoal e aparentemente crescente no Japão, isso pode não ser resolvido com nenhuma das medidas acima, deixando pouco claro o que o governo deveria fazer para ajudar a aquecer a nação.

Existem alguns exemplos de programas de outras nações visando a promover a centelha sexual – da "Noite Nacional" de Singapura em 2012, vendida como patriotismo, ao Dia da Contracepção de 2007 na Rússia, dando prêmios para aqueles que dessem à luz num certo dia –, mas a efetividade desses projetos é questionável na melhor das hipóteses, e esses não são necessariamente modelos a se seguir.

Mas, assim como o melhor jeito de entender a tendência de desengajamento sexual seja perguntar às pessoas ano após ano se elas estão ou não interessadas em esconder o salame, talvez a melhor maneira de encontrar soluções também seja perguntar aos entrevistados por que eles se sentem assim. Se os participantes disserem que isso é resultado das pressões sociais, talvez o primeiro-ministro Shinzo Abe faça alguma coisa a respeito disso. Se eles falarem que é assim que eles são e como se sentem, então o governo japonês deve considerar a hipótese de trabalhar em suas políticas de imigração para salvar a mão de obra do país em vez de se fixar no isolacionismo e na libido das pessoas.

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Tradução: Marina Schnoor