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Música

Na cozinha com a Corrina

"Não foi um disco fácil de fazer e muito menos de trazer para palco, mas este processo de tocá-lo todas as noites está a torná-lo mais agradável e simples."

Corrina está numa casa numa pequena aldeia junto ao Lago Como, em Itália, copo de vinho branco de aperitivo para o jantar e para relaxar na primeira de quatro noites de folga. Pergunto-lhe se está a gostar de descansar um bocadinho, e a resposta vem em forma de polegar esticado e um sonoro e enfático "YESSS!". "Não é que esteja farta de andar na estrada", assegura-me, "mas são seis semanas de digressão no total e isso é muito tempo, muitos quilómetros"…para além do mais é a primeira vez que Corrina Repp o faz na condição de artista a solo, e depois de um período conturbado na sua vida pessoal. Separação, perda, dor, descrença no amor.

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Aquelas "pequenas" coisas que normalmente são rastilho para grandes discos. Principalmente quando se é músico e se exorciza a vida em canções. E quando se ouve "The Pattern of Electricity" - novo disco da norte-americana e mote para a digressão que a traz pela primeira vez a Portugal, no Porto (hoje, dia 20, no Passos Manuel) e em Lisboa (amanhã, 21, no Palácio Pombal) - é impossível não se perceber que desde o fim dos Tu Fawning, a sua banda/relação, houve dor, perda e descrença. Não é que seja um disco absolutamente negro e sombrio. Não é. Tem até uma luminosidade nos arranjos (que se poderia dizer pop de tão perfeitas e bonitas que são estas canções) que quase contradizem o que sai da boca de Corrina. Luz contra as sombras. É assim.

Com um sorriso gigante, Corrina confirma-me: "Não foi um disco fácil de fazer e muito menos de trazer para palco, mas este processo de tocá-lo todas as noites, com banda ainda por cima, está a torná-lo mais agradável e simples e a dar uma espécie de nova vida às canções". Residente em Portland há 20 anos, actriz na série de culto "Portlandia", house-sitter numa casa na floresta, empregada num restaurante e senhora de uma carreira que com "The Pattern of Electricity" (Caldo Verde Records/Discolexique, 2015) leva já cinco discos e começou em 1998,Corrina Repp não é propriamente uma novata, "mas há muito tempo", sublinha com uma expressividade adorável, "que não estava tão feliz". "Estou a viajar, que é uma coisa que adoro e que me inspira muito, ainda para mais na Europa onde há todo um contexto histórico tão diferente dos Estados Unidos", sublinha, dando-me a deixa perfeita para lhe perguntar se tem ideia do sítio magnifico e único onde vai actuar em Lisboa, na cozinha do Palácio Pombal, onde o próprio do Marquês há-de ter sido faustosamente servido. Sai-lhe um "Wow!!!" de boca aberta e de sincero espanto.

Queres história Corrina? It doesn't get much better…" Na verdade sabia que íamos tocar num sítio especial, mas não tinha noção exacta da carga histórica…agora ainda estou mais ansiosa por tocar em Portugal", garante-me entre risos, depois de lhe dar uma achega sobre o espaço - que tem curadoria da Associação Carpe Diem e está situado na Rua do Século - e antes de se despedir com uma declaração de amor absoluto, eterno, à música, "sem a qual de certeza não viveria", e um até já: "Espero que o Palácio tenha boa acústica e que vá muita gente".

Depois não digam que não foram avisados.