Anelis Assumpção lembra que é bicho em 'Taurina'
Foto: Caroline Bittencourt/Divulgação

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Anelis Assumpção lembra que é bicho em 'Taurina'

No disco mais pessoal da carreira da cantora, ela explora seus instintos e discute duas perdas que a marcaram: a da irmã e a do pai.

Em "Mergulho Interior", primeira faixa de seu novo disco, Anelis Assumpção se apresenta como quem faz um convite ao ouvinte: "Senta aqui comigo nessa pedra / Vamos dar um mergulho interior". Curiosamente, a faixa foi o primeiro vislumbre que ela teve de Taurina, terceiro álbum de estúdio de sua carreira solo. Nessa sexta (16), Anelis lança o disco oficialmente em show no Sesc Pinheiros.

"Mergulho Interior" lembra de um outro momento na discografia de Anelis. A faixa "Cê Tá com Tempo?", que abre seu disco Amigos Imaginários (2014), também entra com o mesmo tom. “Gostava da ideia do convite. Depois fiquei achando que isso é uma ideia repetitiva em mim. Uma hora talvez eu faça outro movimento, mas tem sempre um convite, uma vontade de convidar e me apresentar”, me contou a cantora em entrevista no começo dessa semana.

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Se o objetivo de Anelis era se apresentar, em Taurina ela realiza esse desejo. Produzido por Beto Villares e mais pessoal que seus outros dois lançamentos, o disco se constrói ao redor do personagem Taurina, que seria não o feminino de signo de touro, mas o próprio signo se ele fosse uma figura feminina. “Fiquei pensando, por que eu não sou de ‘vaca’ ou ‘búfala’? Por que o signo é masculino? Sem querer justificar apenas com o machismo histórico. É como se o signo fosse um orixá – ele tem uma energia pra um lado ou pra outro. E por que todos os signos do zodíaco tem uma energia masculina?”

A figura de Taurina, para Anelis, tem muito mais a ver com ela do que o signo de touro. Reparando em sua generosidade roubada, docilidade, competência em fazer muitas coisas ao mesmo tempo e habilidade de se doar aos outros sem esperar nada de volta, a cantora passou a se sentir muito mais conectada ao seu lado animal, se comparando a uma vaca.

“A gente vive sem prestar muita atenção nesse tipo de coisa. A gente vive conectado o tempo todo, querendo distrair a cabeça quando alguma coisa dói ou quando a gente sofre. É importante lembrar que a gente é um bicho”, fala. Essa realização veio para Anelis depois de grandes eventos na sua vida: o nascimento dos dois filhos, e a perda do pai e da irmã. “No fim das contas, nessas situações difíceis, o que me sobrou foi o instinto. Curiosamente, nas duas perdas eu tinha bebês muito pequenos, mas tinha que conseguir atravessar aquela dor e ficar numa boa. Senti que eu estava num lugar muito animal da minha existência nesse momento.”

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As duas perdas, separadas por mais de uma década, se mostram em Taurina. A da irmã, Serena, mais recente, é a que vem mais forte: tanto em letras do disco escritas por ela ("Flor de Jasmin"), quanto em homenagens literais ("Gosto Serena") e algumas que apareceram sem querer ("Mortal à Toa", parceria com Ava Rocha e Liniker). “Ela era viva ainda quando fiz as músicas. Depois de ter terminado o disco. fiquei achando coisas que apareciam, palavras como ‘caroço’, ‘limão’, que era o formato do tumor que ela tinha. Alguns elementos do disco têm muito a ver com doença, a existência dela, a fé, a piscianisse [risos]. É uma homenagem.”

A do pai aparece mais nas entrelinhas. "Receita Rápida", faixa que fecha o disco e conta com participação de Céu e Thalma de Freitas, é uma composição de Itamar nunca antes lançada. Para Anelis, a característica mais marcante do novo disco é uma nova confiança artística. Desde o início, sua carreira se baseou em "disputar um espaço esquisito" com seu pai e tentar superar as expectativas colocadas nela pelo papel marcante de Itamar.

“Esse disco é uma continuação desse atravessamento. É meu modo de dizer 'oi, mundo, eu sou essa pessoa, sou filha desse cara, e também faço as minhas coisas'. Por isso o recorrente pedido de convite, pedindo devagar uma licença para me mostrar e mostrar que ele existe através disso de alguma forma.”

Anelis Assumpção no Sesc Pinheiros
16/3, às 21h.

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