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Fresh Made BR

Alta gastronomia que brota da terra

Em documentário, mostramos ingredientes e receitas indígenas que estão inovando a culinária brasileira.

ESTE CONTEÚDO É UMA COCRIAÇÃO DE BE BRASIL E VICE ESTÚDIO CRIATIVO.

É difícil, num país de dimensões continentais como Brasil, eleger quais elementos são os mais usados em suas cozinhas. Carnes? Temos todas. Grãos? Do jeito que você imaginar, fazemos. Cada estado tem sua peculiaridade, seu tempero, sua tradição, seu gosto. Ainda assim, há alguns traços e cheiros que podem ser encontrados em todo o país. Falamos daqueles ingredientes que podem ser usados de muitas formas para complementar nosso arroz com feijão de todo santo dia.

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Alex Atala, o chef mais conhecido do país, disse certa vez que o alimento que unia o povo brasileiro era a mandioca. E de fato ela está em todo lugar. Serve para fazer doces, sucos, caldos, massas, temperos… Bem, tudo. Desde muito antes da chegada das primeiras caravelas no Brasil, os índios já faziam suas receitas com a raíz. Para a tribo Tupinambá, a mais conhecida da costa brasileira, a mandioca é sinônimo de sustento e também de festa. Em dias especiais, as mulheres da tribo preparam o cauim, um drink alcoólico fermentado tipo cerveja. Hoje, além de ter inspirado outras bebidas do tipo, a mandioca está presente como tira-gosto em botecos comuns e, também, em pratos refinados de restaurantes caros.

Em novo episódio de FreshMadeBR, parceria de VICE e APEX, fomos atrás das origens e possibilidades da mandioca e de outros ingredientes tradicionais do Brasil que tiveram técnicas aprimoradas pelas tribos indígenas do Norte e hoje conquistaram os paladares de chefs renomados por todo o país.

O tucupi, pode-se dizer, é a estrela da vez. Extraído da mandioca-brava, uma espécie rica em cianeto,o ingrediente requer paciência e atenção para perder o gosto de perigo e veneno. Na panela, ele se transforma em um caldo aromático com notas ácidas que encantam qualquer paladar apurado. É indicado para acompanhar tapiocas, aves ou mesmo ervas aromáticas, como no caso do jambu, outra estrela da culinária nacional que vem sendo redescoberta por chefs de todo país.

É com o caldo dourado que essa ervinha curiosa, também chamada de "agrião do Pará", ganha forma e molejo, na receita do tacacá. Nativa da Amazônia, a erva tem sabor e propriedades um tanto quanto curiosas, para dizer o mínimo. Na boca, o jambu faz a festa, estimulando sensações que vão do tremor ao adormecimento da língua e papilas gustativas. Tudo isso acompanhado por um leve sabor picante.

A flor do jambu também é aproveitada em infusões, transformando a aguardente tradicional em uma bebida quase mágica e tremelicante. É uma espécie de adaptação do que os indígenas faziam no começo. Para muitas tribos no norte do Brasil, o botão dourado do jambu era utilizado como um poderoso medicamento anestésico.

Alimentos como jambu e tucupi nos mostram como a culinária nacional sempre foi assim, um movimento de idas e vindas no tempo. Raízes são mantidas, modificadas, adaptadas, aprimoradas. Tudo na culinária nacional é passível de transformação. Se visitar uma cozinha brasileira, pode reparar: chefs nacionais estão sempre olhando para dentro, reinventando temperos e ingredientes que, por sorte, nascem, crescem e vivem aqui. No prato, tudo isso tem um sabor ainda mais especial. Entram, afinal, num caldo sentimentos de pertencimento e orgulho da fertilidade da terra.