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Quando estamos deprimidos o tempo demora mais a passar

O tempo demora a passar, mas o tempo também voa, e, ainda assim, chega sempre a tempo. Esquisito, não é?
Carlo Scherer/Flickr

Sabe-se que o tempo é relativo. Ou, de outra forma, a percepção do tempo é relativa. O meu minuto não é igual ao teu minuto - muito provavelmente, apesar de estarmos todos a viver sob o mesmo relógio. O tempo demora a passar, mas o tempo também voa, e, ainda assim, chega sempre a tempo. Esquisito, não é?

A percepção do tempo não é uma trivialidade da psicologia. E tal como imaginávamos, tem implicações na saúde mental. Por isso, a existência de um estudo sobre a forma como a depressão influencia a nossa percepção do tempo - atrasa-o dramaticamente, na grande maioria das vezes - talvez não seja assim tão surpreendente. É um facto angustiante (de maneira geral) que quanto mais horrível é o mundo, mais o tempo demora a passar.

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Este novo estudo - levado a cabo pelos psicólogos Sven Thönes e Daniel Oberfeld-Twistel, da Universidade Johannes Gutenberg - foi publicado no Journal of Affective Disorders. Tomando 16 estudos individuais, examinaram um total de 433 sujeitos depressivos e 485 não depressivos, e descobriram que enquanto os indivíduos depressivos, na sua esmagadora maioria, reportaram que o tempo se movia muito lentamente (ou nem sequer se movia!), reportaram também que eram igualmente aptos para "julgar intervalos de tempo" quanto os indivíduos não depressivos. Isto é, a distinção entre qualitativo vs. quantitativo, tal como previsto.

O aspecto quantitativo da percepção do tempo é, no decorrer dos 16 estudos analisados, examinado em quatro formas primárias.

Primeiro, existe uma verbalização da estimativa do tempo: que é quando é facultado aos sujeitos um sinal que marca início e outro que marca o fim (stop), perguntando-lhes qual a duração do intervalo. Depois, pedem aos intervenientes que reproduzam determinados intervalos de tempo, por exemplo, consideremos 10 segundos (tanto "10 segundos", ou, como no primeiro teste, em que um intervalo é realmente demonstrado) e pedindo-lhes que digam quando é que o espaço de tempo deve começar e quando deve terminar (normalmente com a ajuda de botões). E finalmente, há uma "discriminação da duração" que é exactamente tal como o nome indica: é dado a um sujeito dois intervalos de tempo em que deverá perceber qual a diferença entre ambos.

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Na sua maioria, os depressivos conseguem dar conta destas tarefas tão bem quanto os não depressivos. A experiência quanto ao tempo qualitativo foi, contudo, diferente.

"Nos diferentes graus da escala visual analógica, os sujeitos têm que marcar um ponto numa linha em que as extremidades representam simultaneamente a flutuação do tempo de uma forma muito lenta e de uma forma muito rápida", explicam no relatório Oberfeld-Twistel e Thones. "De forma notável, estas classificações diferem das tarefas [de estimação de tempo] devido à flutuação subjectiva do tempo que é assimilada, o que não acontece quanto à percepção ou produção dos intervalos de tempo definidos". No decorrer dos 16 estudos, os investigadores descobriram "efeitos médios" de depressão na percepção do tempo. Isto é: diferentes relógios, basicamente.

"Sobre este modelo, a observação de que os pacientes depressivos reportam frequentemente que o tempo passa mais devagar, pode ser explicada pela existência de um relógio mais rápido comparativamente aos não depressivos", ressalva o mesmo relatório.

Então, imagina que estás numa sala com um relógio que se move um bocadinho mais rápido e, após uma hora decorrida de acordo com esse relógio mudas para uma outra sala com um relógio normal. Esse relógio normal mostraria que, na realidade, uma hora decorreu em menos tempo que o primeiro relógio. A relatividade em estado puro, por assim dizer.

Acima de tudo, a análise de Oberfeld-Twistel e Thones mostra enormes falhas no nosso conhecimento actual sobre a relação entre saúde mental e o tempo. Por exemplo, como é que os antidepressivos afectam este tipo de percepção? Como é que os pacientes bipolares percepcionam o tempo? Será que acelera durante as crises? E quanto à esquizofrenia? Há ainda muitas questões em aberto.

"O nosso relatório mostra também que vários aspectos ainda não foram investigados com o devido detalhe no contexto da percepção do tempo em situações de depressão e é provável que sejam direccionados para futuras pesquisas", acrescentam os investigadores. "Aspectos como, por exemplo, o papel do sistema de neurotransmissores dopaminérgicos, que influenciam diferentes sub-tipos de depressão, potenciais influências nos estímulos, e ainda tarefas específicas como a estimativa do tempo entre 'perspectiva vs. retrospectiva'". Só o tempo o dirá.

Este artigo foi inicialmente publicado em Motherboard.