As outras protagonistas dos filmes pornográficos

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As outras protagonistas dos filmes pornográficos

A realizadora Erika Lust e a sua equipa composta quase exclusivamente por mulheres desafiam as convenções da indústria pornográfica, criando filmes de qualidade onde o prazer feminino é o mais importante.

Erika Lust não gosta de definir o seu trabalho como pornografia. A realizadora diz que a sua carreira começou com o desejo de fazer um filme erótico com um lado mais feminino e real. Aqui não há lugar para corpos de silicone nem orgasmos fingidos; nos filmes desta realizadora sueca sediada em Barcelona a naturalidade e o desejo feminino é o denominador comum. A produtora Lust Films é composta quase exclusivamente por mulheres - e um ou outro homem - e não é por acaso. Juntas são como uma brisa de ar fresco dentro de uma indústria sexista e obsoleta onde os desejos femininos pouco importam. Todas são mulheres talentosas e com carreiras profissionais bem sucedidas. Como é que acabaram a trabalhar na indústria pornográfica? O que é se sente ao criar uma nova forma de fazer pornografia? Falámos com elas para saber como é ser mulher (ou homem) e trabalhar em pornografia.

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ERIKA LUST, Estocolmo. Realizadora de filmes eróticos. Como começaste?
Quando comecei a ver pornografia sentia-me frustrada porque não me sentia identificada com aquilo que via. Assim, anos mais tarde, decidi ser eu a filmar o sexo que gostaria de ver. Já foste criticada por feministas?
Sim, mas, felizmente, a maioria das feministas têm sido capazes de entender que a pornografia bem feita pode beneficiar as mulheres, em vez de as denegrir. Como é a verdadeira sexualidade das mulheres?
Eu acho que dentro da sexualidade feminina existe tanta diversidade como existem mulheres no mundo. Na pornografia convencional toda essa diversidade é reduzida a um estereótipo irrealista que realmente não nos excita. Nós mulheres queremos pessoas reais. Porque trabalhas só com mulheres?
Porque temos a mesma sensibilidade ao filmar e entendemo-nos muito melhor. Qual a melhor coisa de ser mulher em 2015?
Cada vez existem mais raparigas que defendem a individualidade de podermos fazer o que quisermos sem medo de ser julgadas.

JULIA ROCA (com o actor Mickey Mod), Barcelona. Actriz. Como começaste a trabalhar em pornografia?
Fiz um calendário erótico realizado por um realizador de pornografia e perguntei-lhe o que tinha que fazer para trabalhar como actriz. O que é melhor e pior?
O melhor é poder realizar todas as minhas fantasias, o pior é o machismo que prevalece dentro da indústria. Como é a verdadeira sexualidade das mulheres?
A sexualidade é muito mais do que simplesmente metê-lo. Que mensagem gostavas de deixar?
Quero reivindicar a naturalidade. Já me pediram muitas vezes para depilar-me e eu não o faço porque acho que é uma tortura. Qual a melhor coisa de ser mulher em 2015?
As nossas armas e como as podemos usar.

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CLAIRE O'KEEFE, Maiorca. Estilista. Como é trabalhar com mulheres?
Normalmente, as rodagens são muito mais hierárquicas, aqui é tudo muito mais flexível, ajudamo-nos umas às outras. É um companheirismo diferente. Consideras-te uma feminista?
Penso que é a nossa única alternativa. Há uns anos atrás apercebi-me que, salvo algumas excepções, sempre que estudava história as personagens mais importantes eram homens, quando na verdade existem muitas mulheres que não foram reconhecidas pelo seu trabalho. Para ti, como seria um mundo dominado pelas mulheres?
Eu ficaria muito assustada. Acredito na igualdade. Como é a verdadeira sexualidade das mulheres?
Para mim é uma aprendizagem contínua, à medida que vou experimentando coisas ou pessoas novas vou rompendo as barreiras da minha própria sexualidade.

MARTA PICAZO, Saragoça. Maquilhadora. O melhor de trabalhar com mulheres?
Existe um ambiente muito bom, cheio de talento. Mulheres ao poder! Para ti, como seria um mundo dominado pelas mulheres?
Acho que teria muito poder, temos muita autoridade e somos muito tenazes. Achas que exibir publicamente o corpo feminino dá poder às mulheres?
Eu considero-me muito exibicionista, parece-me muito bem que as mulheres mostrem o seu corpo - sempre que não esteja demasiado frio. O importante é que tenhamos liberdade para o fazer. Qual a melhor coisa de ser mulher em 2015?
É um bom momento para ser uma artista.

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ALMUDENA MONZÚ, Madrid. Produtora. Como é trabalhar em pornografia?
Sempre tenho alguma coisa para contar quando estou com os meus amigos. E ainda me dá os instrumentos necessários para compreender o mundo contemporâneo em todos os seus aspectos. E o pior?
Já não vejo pornografia por prazer, estou muito saturada! Como é a verdadeira sexualidade das mulheres?
A pornografia convencional está cheia de homens musculados, gigantes e tatuados tipo o Nacho Vidal que não têm nada a ver com a figura do homem que realmente excita as mulheres. Achas que exibir publicamente o corpo feminino dá poder às mulheres?
Para mim, a nudez é a coisa mais natural do mundo e não me parece nada ofensivo.

NOEL ALEJANDRO, Barcelona. Editor de vídeo. Como é trabalhar em pornografia?
Eu não tenho a sensação de estar a trabalhar em pornografia. Que tal trabalhar com mulheres?
Estou acostumado - fui criado entre mulheres -, sinto-me cómodo e o ambiente é óptimo. Consideras-te um feminista?
Qualquer reivindicação por um grupo que foi desvalorizado parece-me algo positivo. Para ti, como seria um mundo dominado pelas mulheres?
Provavelmente seria melhor.

MARÍA del CARMEN PÉREZ, Equador. Responsável de imprensa e comunicação. O melhor de trabalhar em pornografia?
Para mim é como se estivesse a trabalhar em cinema. A única diferença é que tenho no meu escritório uma fotografia de um pénis pendurada na parede. Como é trabalhar quase exclusivamente com mulheres?
Todas conectamos de uma forma extraordinária apesar de sermos muito diferentes. Como é a verdadeira sexualidade das mulheres?
Na America latina é muito mais conservadora; desde que trabalho aqui a minha mente está mais aberta e a minha vida sexual melhorou consideravelmente. Qual a melhor coisa de ser mulher em 2015?
Este é o ano da mudança.

MARTA SALAZAR, Murcia. Directora de arte. O melhor de trabalhar em pornografia?
A diversidade: hoje gravamos numa galeria e amanhã gravamos uma sequência de sado. Que tal trabalhar com mulheres?
Somos uma equipa, existe um companheirismo muito forte e apoiamo-nos muito umas às outras. Consideras-te uma feminista?
Não particularmente, mas reivindico o papel da mulher no cinema. Qual a melhor coisa de ser mulher em 2015?
O mesmo que ser um homem: finalmente poder escolher livremente o que queres ser. Este artigo foi inicialmente publicado em i-D.