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Música

Discos: Kouhei Matsunaga

Um artefacto especial.

Drawings

Fang Bomb

Há já vários anos que Kouhei Matsunaga merecia um formato que fizesse justiça à diversidade da sua arte, que passa não só pela música, como também pelo desenho, arquitectura e até pela performance (reparem nos seus óculos

new wave

). Quis a sorte que fosse uma label sueca (a fascinante Fang Bomb) a assumir essa responsabilidade, com a edição de um objecto à altura do seu autor. E, para que as nossas estantes fiquem mais alegres e preenchidas, aí está

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Drawings

: livro de capa grossa, com 88 páginas e 40 ilustrações desenhadas num preto e branco suficientemente expressivo para que todas as outras cores sejam dispensáveis. Aliás, todas as cores necessárias para pintar os espaços vazios destas páginas estão incluídas num pequeno grande vinil de sete polegadas, que vem atribuído ao disfarce Koyxen Mattsunagnen, mas que faz todo o sentido como apêndice deste lançamento.

 Drawings

 passa assim à condição rara de livro de colorir, em que as aguarelas necessárias estão espalhadas pelas quatro músicas do vinil.

É de facto especial este artefacto, em que um fragmento de Kouhei Matsunaga pinta uma parte maior de si, com a participação da nossa imaginação, mas, lá está, o japonês de Osaka vive há muito uma pluralidade artística que eventualmente daria um fruto tão único quanto este. Em Drawings, tal como nos quatro temas de Koyxen Mattsunagnen e na música de Matsunaga em geral, toda a merda que pode acontecer acaba realmente por se revelar a um ritmo alucinante, que é típico dos híper-criativos japoneses (por oposição aos grandes senhores da calma como o realizador

Yasujirō Ozu).

Folheamos estas páginas e vamos encontrando figuras humanas flutuantes e grotescas, montes e montes de pássaros e outros animais com universos dentro das suas linhas (estes últimos recordam por acaso a bela raposa desenhada pela muito entusiasmante artista e modelo

Iris Santos

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). É óbvio que nada disto tem movimento no papel, mas agitação e energia são coisas que não faltam às quatro preciosas malhas, em que Kouhei Matsunaga não precisa de ser mais do que ele próprio para confirmar que ainda é um dos bons inovadores da

 bass music

 (revisitando alguns dos seus discos é possível comprovar que ele já produzia a sua espécie de dubstep, antes da palavra ter todo esse peso). Se houvesse por acaso um boneco mais feliz que aquele

smile

 ali em cima, era esse que eu escolhia como nota para

Drawings

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