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A Nova Onda dos Jogos de Tirinho

Mercenary Kings e Broforce são dois jogos que vieram para completar esse gênero tão divertido de meter bala em seus inimigos e foram feitos por produtoras independentes.

Desde os ancestrais tempos da primeira encarnação do jogo Contra, o gênero conhecido como Run n' Gun (Correr & Atirar) se estabeleceu no panteão das diversões eletrônicas. Derivado dos eternos jogos de plataforma, a ideia é correr com seu bonequinho pela tela tentando desviar do fogo dos inimigos enquanto você, por sua vez, também manda bala neles. Lembro com certa nostalgia masoquista de quando eu jogava Eswat no meu Master System (jogo que talvez encaixe melhor no gênero Walk Slowly n' Gun) e não conseguia passar de nenhuma fase direito, ou porque os controles eram horrorosos ou porque eu não tinha a coordenação motora básica necessária para prosperar nesse joguinho mesmo.

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Outro clássico preferido dos arcades era o levemente racista Sunset Riders, com seus personagens em sombreros de cor magenta cegante e calças verde limão escroto. Conforme o tempo foi passando na era de ouro dos 16 bits, muito jogo bizarro foi produzido nesse estilo, do famoso The Earthworm Jim, com sua estética de vinheta da MTV, a jogos menos populares e um pouco mais ridículos, como Dinossaurs For Hire, baseado em uma história em quadrinhos obscura. Tirando alguns jogos memoráveis, como True Lies, a visão desses jogos à época era quase sempre lateral, como a maior parte dos jogos de plataforma, às vezes tentando misturar com a mobilidade de andar para cima e para baixo como num jogo de Beat em' up no estilo Streets of Rage, o que nem sempre funcionava muito legal.

Maravilhosas propagandas dos anos 1980.

Foi em 1996 que o gênero de mais ou menos uma década de existência ganhou um de seus títulos mais fortes: Metal Slug. Com seu bizarro e, por vezes, incompreensível (para ocidentais medianos como eu) humor japonês, o jogo fez enorme sucesso através dos arcades de todo o mundo e depois nos quartos e salas da galera, sendo vendido não apenas para Neo Geo (o videogame da publisher do jogo, a SNK), mas também, a partir do segundo jogo da série, para Playstation e, posteriormente, para outras plataformas.

Algo muito interessante introduzido por Metal Slug no gênero, que é um dos recursos clássicos dos jogos de plataforma, foi alterado: desde o início do gênero, na grande maioria dos jogos, o ato de seu bonequinho encostar em algum personagem inimigo faz você se machucar, como se ele tivesse uma aura de maldade tão forte que o mero toque nesse vilão tão cruel machucasse fisicamente. Em Metal Slug não apenas é ok encostar no inimigo, como você também pode chegar próximo a ele e, em vez de dar um tiro com a arma que você está usando, sacar sua peixeira da cintura para dar uma possante facada no bucho do inimigo, causando mais dano do que um tiro comum.

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Se depender da internet, o Sonic (e derivados) estaria presente em todos os jogos já feitos. Ok, mas aonde você quer chegar com essa contextualização histórica do gênero Run n' Gun (Correria e Tiros)?

Dois jogos recentes vieram para completar esse gênero tão divertido de meter bala em seus inimigos e, assim como grande parte dos jogos mais interessantes dessa década, eles não foram feitos por grandes empresas de videogame, e sim por produtoras independentes. Eles são Mercenary Kings e Broforce, cada um deles focando em pontos distintos que podem ser trabalhados dentro do gênero: o primeiro é mais lento, com upgrades, armas personalizadas e níveis que você visita de novo e de novo atrás de itens. Já o segundo é muito mais ação rápida, explosões em cadeia, pedaços de inimigos voando pelos ares e mortes instantâneas.

A facada está presente no Mercenary Kings também, mas diferentemente do Metal Slug, há um botão específico para ela. À primeira vista, Mercenary Kings parece derivar diretamente de Metal Slug com sua estética meio nipônica de personagens engraçadinhos e militares caricatos, mas é só uma aparência inicial. Conhecendo melhor o jogo, você logo percebe que grande parte da jogabilidade não é algo comum a jogos do gênero de tirinho-plataforma e sim um gostoso mergulho nos menus que o jogo arremessa na sua cara. Crafting talvez seja (depois do Metroidvania) a nova onda dos indie games, e em Mercenary Kings você tem uma boa liberdade para montar sua arma preferida a partir dos modelos disponíveis, podendo escolher individualmente seis partes da arma, incluindo armação, pente, coronha, munição, cano, mira. A escolha das partes da arma mudam diretamente os vários atributos dela como poder, precisão, munição, velocidade de recarga, etc., etc., etc.

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As partes das armas podem ser coisas meio ridículas como privadas (?) ou esse gatinho que pode virar o corpo da sua metranca (o som dele miando quando você atira pode se tornar algo incrivelmente irritante).

Diferente de Metal Slug, em que você tem um pente aparentemente infinito de balas na pistolinha, em Mercenary Kings você precisa recarregar sua arma manualmente assim que a munição acaba. Errar o timing da recarga deixa você mais tempo sem poder dar tiros, o que geralmente o coloca em uma enrascada daquelas, e acertar na mosca para recarregar faz com que os seus tiros fiquem mais potentes. O curioso é que, apesar de ser um jogo de tiro e ação, grande parte do tempo você irá gastar fazendo armas, pegando materiais para comprar upgrades e passeando pelos menus enquanto customiza habilidades e armas. Mercenary Kings é um jogo para você jogar de boa, pra dar uma relaxada, e até as batalhas com os chefes das fases tem um ritmo mais lento do que o normal para um jogo de ação – eles sempre seguem um padrão definido de ataques que, se você souber contra-atacar, tudo fica bem de boa.

O detetive John McClane metendo bala nos terroristas.

Embora ainda esteja em desenvolvimento, o pessoal da Freelives já deixou disponível em Early Access (quando você pode comprar e jogar um jogo que não está pronto ainda) seu próximo título: Broforce. Baseado no imaginário dos filmes de ação de Hollywood dos anos 1980, Broforce conta a história desses defensores da liberdade americana invadindo variados cenários na guerra contra o terrorismo enquanto resgatam seus companheiros (Bros) de jaulinhas espalhadas pelas fases. O jogo lembra uma mistura de um Run n' Gun com Super Meat Boy, em que qualquer bala ou explosão dos inimigos mata seu bonequinho e você quase imediatamente volta à ação depois de morrer.

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O lance é que, apesar de você poder jogar com vários personagens diferentes, e cada um deles ter um estilo único de jogo, você não escolhe com quem irá jogar, e, assim que você resgata um companheiro das mãos imundas dos inimigos, você imediatamente ganha uma vida e muda de personagem, que também é escolhido aleatoriamente (a mesma coisa acontece quando você morre). É bem possível que depois de um tempo de jogo você tenha um personagem favorito e queira sempre jogar com ele, decisão que será tirada de suas mãos, já que é impossível escolher qual personagem controlar, o que acho uma puta escolha boa por parte dos desenvolvedores. Mas, como o jogo ainda está sendo desenvolvido, é possível que isso mude. Espero que não. ;(

Os personagens são referências diretas a heróis de filmes de ação como Rambo, John McClane (Duro de Matar), Exterminador do Futuro, Neo do Matrix, Blade o Caçador de Vampiros, Ellen Ripley da série Alien (até o momento, a única mulher da turma), Mr. T em Esquadrão Classe A, e por aí vai. Alguns personagens são interpretados pelo mesmo ator, como é o caso de Conan e Exterminador do Futuro interpretados por Arnold Schwarzenegger, um dos casos de diastema de maior sucesso em Hollywood. O nome de todos os personagens é uma zoeira com o nome original do filme ou seriado, sempre com a palavra BRO no meio: o Robocop, por exemplo, vira Brobocop. Cada personagem tem um ataque principal, um ataque especial e um botão de facada (que, até o momento, é a mesma para todos). O Rambro, por exemplo, empunha uma metralhadora como ataque principal e arremessa granadas em seu ataque especial.

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Embora até então o jogo não tenha uma história, a narrativa parece bastante simples: você, por meio de um maravilhoso movimento da política externa americana, invade outro país para resgatar seus Bros e destruir o terrorismo junto com tudo o que você encontra no caminho. E por destruir tudo eu digo destruir tudo mesmo, já que até o chão que você pisa é destrutível e quando você chega ao checkpoint final de cada fase, seu personagem é resgatado por um helicóptero ao mesmo tempo em que um maravilhoso solo de guitarra two-hands começa e o cenário todo explode pelos ares. É o poder da democracia chegando para esses estrangeiros sujos.

Área devidamente liberada.

Se em Mercenary Kings você tem o controle total de customização da sua arma que muda diretamente a forma conforme você joga, em Broforce você sequer escolhe qual personagem irá controlar, tornando o jogo muito mais dinâmico e imprevisível, e talvez até temerário, e é isso o que diferencia profundamente os dois jogos. Apesar de serem jogos do mesmo grande gênero, o ritmo deles é completamente diferente, o que altera absurdamente a jogatina. Ambos são ótimos motivos para você ir atrás de um bom controle com USB que funcione no seu computador, já que tudo indica que surgirão cada vez mais jogos que valem a pena jogar no PC.

Siga o Pedro Moreira no Twitter: @pedrograca