FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

O que Aconteceu na Casa de Shows Bataclan Durante os Ataques de Paris

O cerco ao Bataclan foi o último de seis ataques realizados em diferentes locais da cidade.

Quatorze dias depois da onda de ataques terroristas que levou Paris a um impasse e deixou 130 mortos, investigadores agora têm uma imagem clara do que aconteceu dentro da casa de shows Bataclan, onde três homens armados mataram 90 vítimas.

Uma das maiores casas de eventos da cidade, com 1.500 assentos, o Bataclan fica no 11º Arrondissement, no coração da capital francesa. O número exato de pessoas no show da banda Eagles of Death Metal em 13 de novembro continua não confirmado, mas testemunhas dizem que o recinto estava lotado.

Publicidade

"A atmosfera era muito rock 'n' roll, o vocalista estava brincando com a plateia, que estava curtindo muito o show", disse Pierre, um membro do público que sobreviveu ao ataque.

O cerco ao Bataclan foi o último de seis ataques realizados em diferentes locais da cidade. Abaixo, você lê o que já se sabe sobre aquela noite.

21h40 – Homens armados abrem fogo

Às 21h40, aproximadamente 30 minutos depois do começo do show do Eagles of Death Metal, três agressores invadiram o prédio e começaram a atirar na multidão.

Dois dos seis seguranças trabalhando naquela noite estavam cuidando da porta principal e correram para abrir as saídas de emergência quando ouviram os tiros. "Didi", que supervisionava a segurança no Bataclan naquela noite, contou ao Le Monde que os agressores dispararam contra a equipe de segurança e quebraram a proteção de vidro na entrada do salão.

Às 21h49, a primeira mensagem anunciando o ataque foi postada no Twitter. O promotor público François Molins mais tarde revelou que um celular, que provavelmente pertencia a um dos terroristas, foi recuperado de uma lata de lixo em frente ao Bataclan. O aparelho continha uma mensagem de texto enviada às 21h42 para um contato desconhecido. "Saímos", a mensagem dizia. "Estamos começando."

Muitos dos sobreviventes relataram que achavam inicialmente que os tiros eram "fogos de artifício" ou pirotecnia – até perceberem que os terroristas estavam atirando na multidão por trás. Alguns dos presentes disseram que só perceberam que estavam sob ataque quando a banda fugiu do palco.

Publicidade

Louise, 27 anos, estava perto do palco quando os agressores entraram na casa de shows. Falando com o jornal Libération na quinta retrasada, Louise disse que não entendeu imediatamente o que estava acontecendo. "A banda já tinha saído do palco. Me virei e vi pessoas deitadas no chão. Aí senti cheiro de sangue." Ela teve apenas ferimentos leves na cabeça e conseguiu se esconder no fosso da orquestra até que as forças de segurança chegassem.

21h45 – A polícia chega ao local e mata um dos terroristas

Segundo um relatório da polícia publicado pela revista francesa Marianne, oficiais da Brigada Anticrime receberam uma chamada às 21h45 e foram os primeiros a chegar à cena. Cerca de 20 policiais ajudaram a evacuar as pessoas que conseguiram fugir do salão, montando uma estação improvisada de emergência num restaurante próximo.

Um vídeo feito por um repórter que morava em frente a uma das duas saídas de emergência do Bataclan mostra pessoas feridas fugindo do salão.

Segundo depoimentos das vítimas, algumas pessoas aproveitaram o momento em que os terroristas estavam recarregando as armas para escapar pela entrada principal, enquanto outras, sem conseguir acessar as saídas de emergência, tentaram se esconder nos banheiros ou no telhado do prédio.

Um comandante da polícia e seu parceiro foram os primeiros policiais a entrar no local. Eles atiraram em um dos homens armados, que estava de pé em frente ao palco. O agressor estava mantendo um membro do público sob sua mira, ordenando que as pessoas se deitassem. "Atiramos imediatamente na certeza de que iríamos o acertar daquela distância porque treinamos muito", o comandante da polícia declarou ao canal francês M6. "Entretanto, também sabíamos que, se errássemos, iríamos morrer, considerando o poder de fogo dele." A polícia acredita que o cinto explosivo do terrorista detonou quando ele caiu no chão.

Publicidade

Relacionado: A polícia francesa quer saber se você reconhece este homem-bomba dos ataques de Paris

Em seguida, os dois oficiais saíram do salão e esperaram por reforço. "Os policiais tiveram de recuar, enquanto os outros terroristas recarregavam as armas, para esperar a intervenção das forças especiais", afirmou o vice-secretário geral do sindicato da polícia francesa para a AFP.

22h15 – Os terroristas levam reféns para o andar superior

Depois de trocar tiros com os policiais posicionados fora do prédio, os dois agressores restantes foram ao segundo piso, fazendo, a portas fechadas, cerca de dez pessoas reféns num corredor. Agentes da Brigada de Busca e Intervenção (BRI, em francês) e da unidade de Busca, Assistência, Intervenção e Detenção (RAID) chegaram minutos depois. Segundo os relatórios, nenhum tiro foi disparado depois da 22h15.

Stéphane, 49 anos, estava entre os reféns. Falando para o L'Humanité dias depois do ataque, ele descreveu as duas horas em que ficou sob poder dos terroristas. A vítima explicou que estava assistindo ao show de um dos balcões quando ouviu os primeiros tiros. "Estávamos tentando nos esconder entre os assentos, porém eles nos viram", ele lembrou. "Eles vieram até nós e disseram 'Não vamos matar vocês, nos sigam'."

"Eles vieram até nós e disseram 'Não vamos matar vocês, nos sigam'."

A primeira unidade entrou no Bataclan por volta das 22h30, permitindo que os feridos fossem evacuados. As forças de segurança vasculharam o prédio e chegaram à porta que estava fechada às 23h15. Os terroristas estavam com os reféns lá dentro.

Publicidade

Quando a polícia tentou abrir a porta, um dos reféns – escolhido pelos terroristas – gritou que a polícia não deveria entrar, dizendo que os agressores iriam começar a matar os reféns.

Os terroristas pediram para falar com a polícia pelo telefone; assim, de acordo com o jornal francês L'Obs, cinco chamadas foram feitas para um número dado pelos atiradores entre 23h27 e 00h18. Numa entrevista para o L'Obs, o negociador chefe do BRI – conhecido somente como "Pascal" – informou que logo percebeu que os homens não tinham intenção de se render.

00h18 – A polícia lança o ataque final

Os policiais entraram no corredor numa formação única, protegidos com um escudo à prova de balas sob rodas conhecido como "Ramsès". O escudo, que pesa cerca de 80 quilos, parou 27 balas durante a investida.

O escudo 'Ramsès' usado pela polícia para entrar no Bataclan: – jeremiah jacques (@js_jacques), 17 de novembro de 2015

A polícia conseguiu libertar todos os reféns sem ferimentos, e os dois terroristas – que estavam usando cintos explosivos – foram mortos. Segundo o vice-diretor da BRI, Georges Salinas, muitos membros do público estavam escondidos em armários e partes ocas do teto, fazendo com que levasse uma hora para a polícia evacuar todos do prédio.

Relacionado: Eagles of Death Metal fala sobre os ataques de Paris

Dois dos terroristas do Bataclan foram identificados. Eles eram Ismaël Omar Mostefaï, um francês de 29 anos nascido no distrito de Essonne, ao sul de Paris, e Samy Amimour, 28 anos, nascido em Drancy, ao norte da cidade. Os dois eram conhecidos da inteligência francesa por terem viajado para a Síria nos últimos anos.

Publicidade

Segundo a rádio francesa RTL, investigadores também identificaram o terceiro terrorista, mas isso ainda não foi confirmado. Noventa pessoas morreram durante o cerco. Muitas outras tiveram ferimentos graves e ainda estão em tratamento.

Na terça-feira, o promotor Molin falou sobre outro cenário – o de que o cérebro por trás dos ataques, o jihadista belga Abdelhamid Abbaoud, estivesse assistindo ao caos que ajudou a criar.

Enquanto a polícia estava libertando os reféns, um homem suspeito estava andando pelas ruas próximas ao Bataclan entre as 22h58 e 00h28. Ele poderia ser o infame Abbaoud.

A possibilidade de que o mentor dos ataques estivesse na cena se baseia no fato de que o celular que Abaaoud teria usado foi rastreado em um perímetro que inclui não apenas o Bataclan como os bares e cafés que foram devastados por metralhadoras e explosivos. Abaaoud é suspeito de ser membro de uma equipe de três homens que matou muitas pessoas sentadas em bares e cafés naquela noite.

Naquela noite sangrenta de sexta, Abaaoud pegou o metrô em Montreuil (onde o carro usado nos ataques a bares foi encontrado) para voltar até o centro de Paris. Segundo Molins, ele vagou pelas ruas das mortes e assistiu ao trabalho da polícia no Bataclan.

Abaaoud foi morto na quarta-feira após o ataque durante uma batida da polícia francesa em Saint-Denis, um subúrbio do norte de Paris. Para Molins, ele planejava um ataque ao La Défense, o maior distrito comercial de Paris, no dia em que foi morto.

Siga a Lucie Aubourg no Twitter.

Tradução do inglês por Marina Schnoor.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.