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Pior Chacina da história de Londrina teve participação de PMs e ocultação de provas

São 20 mortos que demonstram a preferência por alvos jovens, negros e moradores da periferia - alguns com passagem pela polícia por pequenos delitos.
A pixação na Concha Acústica de Londrina se converteu em símbolo de indignação e revolta nas redes sociais. Foto por PME - Pixo Manifesto Escrito.

A Tocha Olímpica fez na terça-feira dia 28 sua passagem por Londrina e arrastou uma multidão controlada por um forte esquema de segurança. Conduzida pelo locutor global Galvão Bueno, londrinense ilustre, a chama também atraiu manifestantes que protestavam contra a chacina mais letal registrada em território brasileiro neste ano que deixou pelo menos 17 vítimas fatais. Em um dos cartazes, a frase "Quem matou os 20?" incomodou policiais militares, que apreenderam o material sem dar qualquer justificativa. A reposta dessa pergunta esteve, desde a data dos crimes, na ponta da língua dos londrinenses.

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As chacinas de janeiro seguiram o mesmo roteiro macabro de incontáveis chacinas cuja autoria recaiu posteriormente sobre policiais militares: a preferência por alvos jovens, negros e moradores da periferia - alguns com passagem pela polícia por pequenos delitos -, a precisão dos tiros direcionados a regiões vitais e a ação rápida e coordenada de homens encapuzados e fortemente armados em regiões distantes. A VICE publicou uma reportagem sobre o episódio no dia 1º de fevereiro.

Em maio, a força-tarefa composta por uma centena de policiais militares e civis designada para apurar o caso concluiu o que todos já sabiam. Oito PMs e um empresário acusado de fornecer armas de fogo para o bando foram presos temporariamente. Também foram cumpridos seis mandatos de condução coercitiva, quando o investigado é forçado a prestar depoimento, um deles contra o ex-porta-voz do batalhão da PM instalado em Londrina.

O secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita, afirmou à Agência Estado que havia "provas contundentes de participação [nas chacinas] dos indivíduos presos", incluindo arquivos de vídeo e áudio. Uma dessas provas é um relatório entregue à Polícia Civil pelo Sindicato dos Jornalistas de Londrina. No documento, ao qual a VICE teve acesso, estão relatos perturbadores de uma vítima que sobreviveu aos tiros e de uma pessoa que presenciou o planejamento da ação.

Ocultação de provas dificulta investigação

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O relatório aponta que na noite do dia 29 de janeiro pelo menos nove PMs saíram às ruas dispostos a condenar à morte quem tivesse passagem pela polícia ou estivesse cumprindo pena em regime aberto com tornozeleira eletrônica. Apenas dois deles foram presos na operação do dia 13 de maio. Os policias de plantão na escala do dia deram cobertura ao grupo de "justiceiros", chegando rapidamente aos locais dos crimes e eliminando evidências que pudessem implicar policiais.

Em uma residência, os oficiais à paisana chegaram por volta das 22h e interromperam a balas um jantar comemorativo onde havia pelo menos sete pessoas, entre as quais duas crianças de cinco e oito anos que ficaram no centro do tiroteio. Os tiros foram disparados do lado de fora do portão da casa. Quatro pessoas morreram na hora e outra, gravemente ferida, perdeu a vida enquanto recebia socorro. As crianças, por sorte, saíram fisicamente ilesas. Minutos depois, chegaram os policiais fardados que cuidaram de recolher cartuchos de munição e quebrar uma câmera de segurança que poderia ter registrado a ação. A Polícia Civil só chegou uma hora e meia depois, quando já não havia vestígios da participação de PMs.

"Esta investigação foi e está sendo bastante complexa, por ausência de indícios em locais de crime, de subtração de material que lá deveria estar, e pelo temor de testemunhas em auxiliar a polícia na elucidação. É importante destacar que tivemos um fundamental apoio da Corregedoria da PM desde os primeiros momentos, quando foram percebidas as irregularidades", afirmou na época ao portal Bonde o delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Julio Reis.

Os PMs envolvidos na onda de assassinatos foram indiciados criminalmente por homicídio qualificado e fraude processual e também responderão a processos administrativos que podem acarretar expulsão da Polícia Militar. Dois deles responderão por porte ilegal de munição e foram soltos sob fiança. Todos foram afastados temporariamente da função até a conclusão do inquérito.

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