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Música

Die Antwoord

Na real, ninguém entende o Die Antwoord. Tudo que sabemos é que o 'grupo de rap-rave que tá num outro nível' consiste de um MC branco magrelo de cueca samba-canção que tem uns trutas na prisão de Pollsmoor e uma piriguete loira boca-suja de legging...

Na real, ninguém entende o Die Antwoord. Tudo que sabemos é que o ‘grupo de rap-rave que tá num outro nível’ consiste de um MC branco magrelo de cueca samba–canção que tem uns trutas na prisão de Pollsmoor e uma piriguete loira boca-suja de legging dourada de spandex, e são frequentemente acompanhados no palco por uns gangstas de Mitchell’s Plain e um DJ com síndrome de progeria. Ah, e desde sua estréia eles arrebataram um legião de fãs agressivamente dedicada que berra as letras de toda e qualquer música durante os shows, soca estranhos no rosto aleatoriamente e depois desmaia numa poça morna de vômito de Jägermesiter. A juventude africânder desiludida tem um novo par de anti-heróis para venerar? Essa é a pergunta retórica com a qual lidamos aqui.

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VICE: Uma introdução, por favor.
Ninja: Yo, wat pomp? Eu sou o Ninja (mostra a tatuagem na mão), e essa é minha parceira Yo-Landi Vi$$er. Estamos curtindo aqui em Snoekies, no porto em Houtbaai.
Yo-Landi: É isso mesmo. Comendo um enroladinho e um pouco de peixe.

E como está sendo o dia de vocês até agora?
Ninja: Fokken lekker. Acabei de fazer um som pensando em todo aquele conceito de Yin-Yang que a gente tava falando. As rimas são mais ou menos assim… Yin, Yang/Yin, Yang/Good, Bad/Happy, Sad/Kwaai, Kak/Life’s tough (beat box)… Vai ficar duidelik.

Certo. Então, qualé, vocês são do rap?
Ninja: Ja, somos da família hip-hop, mas fazemos um rap-rave que tá num outro nível. Die Antwoord começou com meu trutão DJ Hi-Tek (mostra tatuagem na mão)— ele tem seu próprio PC e faz umas batidas pesadas, tipo rap-rave. Eu tava curtindo os lances dele, e começamos a fazer umas batidas, tipo, um lance outro nível. Daí tava falando com minha truta Yo-Landi, e ela tem mó balanço, daí começamos um lance meio que, tipo, 2Unlimited, C+C Music Factory… só que um pouco mais gangsta, com um lado rua. Daí, descobrimos que dá pra colocar as músicas de graça na internet, sem problema nenhum. Agora o disco tá bombando mundialmente, tipo uma parada futurística que tá num outro nível. Escócia, Tóquio, Japão… Em, tipo, em um segundo, estamos do outro lado do mundo, é instantâneo – tipo Matrix.

Bom, rave é um troço meio caído ultimamente.
Yo-Landi: Nunca foi caído na nossa área.
Ninja: Aqui na África do Sul os táxis tocam som rave fokken alto my bru. Dá pra ouvir de outra cidade, quando os táxis vêm você ouve DUM DUM DUM— os mega-mixes de rap-rave bombando que nem numa boate. Então minha maior inspiração são os táxis. O disco todo é baseado no som que vai fazer quando tiver bombando num táxi — é aquela parada energética, não tem nem comparação.
Yo-Landi: Nossa filosofia toda é, tipo, dirigir a milhão tocando música kak no talo. É zef rap-rave jol, com lasers, máquinas de fumaça, gráficos 3D, rappers… e todo mundo vai estar lá.

Zef?
Ninja: Zef é a nossa parada, nosso estilo. Quer dizer que a gente é foda pra caralho. Mas é muito mais do que isso, na real. Ninguém consegue nem chegar perto da nossa parada. Zef é o estilo definitivo, simplesmente isso.

Você avalia que o zef rap-rave em africâner tem potencial pra além de, vamos dizer, Sunnyside ou Parow?
Ninja: Em nosso primeiro disco decidimos mergulhar em nosso próprio lance pessoal e fazer a parada real, entendeu, e representar de onde viemos e como falamos. O próximo disco chama Ten$ion, e nesse disco queremos rimar mais como os guias turísticos da África do Sul, tipo manter nosso estilo AS e também fazer uma parada pra quem tá do outro lado do oceano entender… com tipo 95% inglês e daí um pouquinho de africâner.
Yo-Landi: Africâner pros palavrões.
Ninja: Resumindo, nesse pico, África do Sul, tem muitas coisas diferentes: brancos, negros, ingleses, africâneres, Xhosa, Zulu, watookal— eu sou todas essas coisas diferentes, todas essas pessoas diferentes, fudido em uma pessoa.

Sim senhor, isso pode ser verdade, mas ninguém da África do Sul se dá bem de verdade mundialmente. Você entende isso?
Ninja: Ja, se liga, é que nem os corredores da Etiópia — eles sempre vão pras Olimpíadas e apavoram pesado todo mundo! E porque isso é possível, my blaar? Porque na Etiópia o ar é rarefeito pra cacete. Não tem ar lá, basicamente, então eles chegaram num nível nas Olimpíadas que os pulmões deles ficaram super oxigenados e acabaram com todo mundo. É assim que eu me sinto a respeito disso; a África do Sul é uma merda. Toda minha inspiração, meu balanço, meu estilo, vem daqui, mas nós também estamos treinando em um nível mínimo de oxigênio, então eu sou tipo um corredor etíope só esperando pra ir pra porra das Olimpíadas. Me dá o microfone, me dá o bastão e nós vamos apavorar todos esses cuzões. Tô sentindo essa parada, tenho uns calafrios do cacete, my bru.
Yo-Landi: Mmm, esse picles de cebola tá muito bom.
Ninja: Ja, essas cebolas tão bombando.