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Tecnologia

Pernas Robóticas e 50.000 Pontinhos: a Tecnologia por Trás da Bola Copa do Mundo

O que há de novo a se fazer em um artigo esportivo tão simples, uma bola de futebol? A Brazuca tem lá seus segredos.
Imagens: Adidas

Este talvez seja um dos artigos esportivos mais simples em uma longa história: uma bola. Que tipo de trabalho de design pode ser feito em uma esfera inflada? Um pouco de geometria, design de materiais e algumas pernas robóticas, aparentemente.

Com a Copa do Mundo de 2014 se tornando a Copa das Copas, eu conversei com Matthias Mecking, o diretor do departamento de futebol da Adidas, para saber um pouco mais sobre a ciência do objeto mais indispensável em campo. A Brazuca foi apresentada pela primeira vez em dezembro, e enquanto alguns jogadores tentarão sem dúvidas culpá-la por partidas ruins em algum momento ou outro do torneio (eles sempre fazem isso), há mais de dois anos e meio de inúmeros testes de alta tecnologia por trás da bola oficial.

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Mecking explicou que eles utilizaram a Tango, bola adotada no torneio Euro 2012 e a Finale, usada na Liga dos Campeões de 2013 como ponto de partida depois de consultar jogadores de todos os níveis sobre qual dos designs eles considerariam para ser a referência atual.

Provavelmente seja bom o fato de eles não terem retornado à última Copa do Mundo para inspiração, já que a Jabulani, criação da Adidas, foi fortemente criticada, mesmo considerando a frequente tendência dos futebolistas de culparem suas ferramentas. Por sua vez, Mecking insistiu que eles ainda estavam “muito orgulhosos” da Jabulani, que foi a bola “tecnicamente mais avançada” criada pela Adidas na época.

Ainda assim, eu perguntei: “quanto você pode realmente inovar em alguma coisa que é, no fim das contas, uma simples peça do equipamento?”. “Essa é uma boa questão. Eu me pergunto isso a cada edição”, disse Mecking. Ser redonda não é o único fator limitante; a bola também precisa aderir aos rigorosos padrões da FIFA, que definem como uma bola pode ser produzida.

A FIFA explica seu critério principal dessa forma: “uma bola deve responder da mesma maneira todas as vezes que for batida, seja nos 90 minutos de jogo ou no pontapé inicial”. Assim, a confiança e a repetibilidade, mesmo com todos os abusos sofridos durante a partida, são fundamentais.

“A bola é um tema tão sensível porque, se você modifica pequenas coisas, pode afetar coisas maiores”, disse Mecking, mas ele acrescentou que inovações em materiais e produção ainda deixam muito espaço para desenvolvimento. Embora o interior da bola seja igual ao dos designs anteriores, a camada externa da Brazuca oferece algumas diferenças essenciais.

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Em primeiro lugar, ela conta com apenas seis painéis – menos do que nunca – e eles ainda têm todos o mesmo formato (como uma espécie de hélice), entrelaçados em forma de mosaico. O resultado é um acabamento mais homogêneo. “Portanto, seu comportamento é mais simétrico, mais preciso e mais consistente”, ele disse.

Ter apenas seis painéis também a torna mais eficiente, e por sua vez deixa menos espaço para erros e conduz a uma melhor consistência geral. Depois, há o acabamento esburacado da Brazuca, que quase a faz parecer uma bola de basquete. As 50.000 protuberâncias basicamente têm um efeito antiderrapante que a faz mais apropriada para os chutes – ou para segurá-la, se você estiver no gol – em um tempo chuvoso.

Então vêm os testes; a bola foi testada tanto na Adidas quanto em laboratórios independentes para garantir a conformidade com os padrões da FIFA – quiques, absorção de água, peso, pressão e assim por diante. Eles a entregaram para jogadores para obter um feedback, mas também fizeram testes em laboratório para alcançar resultados mais objetivos e reproduzíveis.

“Nós temos, por exemplo, um dispositivo bem legal, como a nossa perna robótica, que é uma máquina que pode chutar uma bola de uma maneira sempre consistente”, explicou Mecking. “Assim, nós podemos analisar seu comportamento no ar; nós podemos analisar a velocidade da bola, então qualquer comentário subjetivo dos jogadores pode ser comparado aos testes de laboratório”.

E, claro, já que estamos em 2014, a própria bola está entrando no jogo da tecnologia com a sua conta no Twitter. Eu realmente quis considerar isso como uma jogada de marketing, mas, apesar de mim mesmo, achei hilários alguns dos comentários do objeto inanimado. O gerente de relações públicas da Adidas, Alan McGarrie, aconselha um replay do jogo sempre que qualquer coisa importante aconteça: “tenho certeza de que terá algo a dizer sobre isso”.

Tradução: Cecília Floresta