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A minha primeira orgia iraniana

Orgias num país em que existe o conceito de mostrar demasiado cabelo.

Tinha acabado de regressar a Teerão e estava entusiasmada. Esta era, em 24 anos, a primeira vez que punha os pés na minha terra natal desde que, em 1984, ainda criança, fugi do Irão quando começou a guerra com o Iraque. Queria enfardar comida persa e ver todas as caras conhecidas, mas nas ruas apercebi-me de que o Irão em 2008 não era muito mais relaxado do que aquele do qual eu tinha fugido, quase um quarto de século antes. Tudo aquilo que comecei a tomar por garantido no Ocidente — sexo, namorar, masturbar-me com brinquedos em frente do camarim do Axl Rose — aqui parecia ser proibido e mesmo punível com penas de prisão, tortura ou morte, provavelmente às mãos dos Komiteh, a polícia moral do Irão.

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Já tinha tido alguns problemas com o Komiteh, apesar de mal ter 10 anos quando fugi. Uma vez decidiram que se via demasiado cabelo a sair do meu hijab, numa outra fui apanhada a mostrar demasiado tornozelo no carro dos meus pais. De 1979 a 1989, durante os primeiros dez anos de Revolução Islâmica, dançar era proibido, as mulheres que usassem batom em público arriscavam a que lhes cortassem os lábios com uma navalha e usar verniz nas unhas era punível com açoitamentos. Hoje em dia é um pouco menos rígido, mas ainda dá para ir de cana por se estar na companhia do sexo oposto caso as duas pessoas não sejam casadas ou familiares. O sexo antes do casamento habilita-te a ser enforcado. Se traíres o teu marido ou a tua mulher acabas os teus dias a ser apedrejado até à morte. A lapidação demora uns 20 minutos: enterram-te na areia até ao pescoço e a multidão atira-te pequenas pedras até morreres. Com isto em mente, fiquei surpreendida ao saber que Teerão tem a sua própria comunidade secreta para beber vodca, mandar ecstasy e ter orgias. A autora a trincar qualquer coisa em Brick Lane. Vivendo sob um regime tão tirânico que recusa até reconhecer a existência do sexo, os jovens iranianos estão a foder como acto desesperado de rebeldia. Só tinha regressado a Terrão há 48 horas quando fui sugada para esta rebelião. Estava num café com amigas quando conheci o Nima, um rapaz de 19 anos. Era um puto rico cheio de energia e apaixonado por carros rápidos. Quando se aproximou e me sussurrou “queres vir a minha casa para nos divertirmos?”, a minha reacção imediata foi “não”, mas ele piscou-me o olho e insistiu. “Não te preocupes, vai haver mais gajos lá. E miúdas giras também… Mesmo selvagens e loucas!” Duas noites depois estava a ver uma amiga a cobrir, com imensas camadas de tecido, um vestido curto e vermelho que quase mostrava o rabo, isto antes de sairmos de casa para as ruas entupidas de carros de Teerão, evitando, claro, o contacto ocular com qualquer polícia da moral enquanto íamos a caminho da parte alta e rica da cidade. Aprendemos que quem vai a uma festa nunca estaciona muito perto dela. A porta do apartamento abriu e fomos gentilmente recebidos por Setareh, a nossa anfitriã de vinte e poucos anos, que nos convidou a entrar. Estavam a ouvir techno merdoso. Havia garrafas de vodca, uísque, vinho e cerveja alinhadas no vasto espaço da cozinha, enquanto raparigas e rapazes semi-nus entravam e saíam dos quartos. Era um apartamento deslumbrante, com cortinas de veludo, ora rosa claro ora vermelho escuro. O chão estava coberto de tapetes persas. A minha amiga apressou-se a ir à casa de banho para se maquilhar toda. Havia imensas drogas — sobretudo ecstasy, é meio como se ainda fossem os anos 90 por aqui — e quando entrámos vimos uma gaja a ser penetrada por dois gajos, um deles tinha a pila no rabo dela. Fui vendo imensa gente enquanto continuava a explorar a casa e a festa. “É a única maneira de conseguir viver neste pântano”, explicaram-me. “Todos os dias temos que baixar a cabeça e fazer o que nos mandam para não sermos presos ou espancados, isto aqui", disse apontando para o chão debaixo dos seus pés, "é onde podemos sentir um pouco de liberdade, um pouco de ar respirável." E continuou: "Sem isto morreríamos e estamos chateados quanto baste para correr os enormes riscos que isto envolve.” Algumas semanas depois fui a outra festa, desta vez na casa de um clérigo que estava para fora. A anfitriã era a filha do clérigo, o que só prova que este tipo de festas chega a todo o lado. Como podem imaginar era uma casa grande e estavam lá entre 100 e 150 pessoas. Havia uma grande piscina sem água com pessoas lá dentro a foder. Nessa noite era por turnos: anal, oral, troca de parceiros. Enquanto estava a comer uma gaja, fiquei muito ciente de que não queria morrer. Nunca tinha feito sexo a pensar que poderia ser executada por estar a fazê-lo, mas confiava nos anfitriões porque eram muito ricos. Viviam em apartamentos caros com seguranças privados e sacos cheios de dinheiro para subornar qualquer autoridade que pudesse aparecer, por isso a minha onda era meio “ok, aqui não é assim muito arriscado”. Uma coisa que aprendi com todas as orgias que frequentei no Irão: quanto mais rico o anfitrião, mais segura a festa. Afinal de contas, não há mordomos ou dinheiro de subornos para os pobres, só orgias nas florestas e bebidas caseiras. Conto-vos isso depois. Fotografia por Aza Shade