Polaróides Inéditas: Reféns Redux

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Polaróides Inéditas: Reféns Redux

Tentando explorar a forma que a mídia apresenta artefatos chocantes como vídeos de abduções enquanto meios de excitação e entretenimento para as massas.

Eu já mostrei pra vocês um lote de polaróides inéditas tiradas durante a última década, muitas das quais aparecem no meu novo livro Bruce(x)ploitation. Aquelas imagens vieram de um happening encenado em Los Angeles, no qual 40 artistas ficaram em 40 quartos de um hotel de crackeiros em Hollywood, chamado The Sands Coral, para criar uma instalação/performance ao longo de 18 horas.

Contando com um amigo diretor de arte, recriei, do jeito mais realista possível, as consequências de uma cena sangrenta de assassinato. Eu já havia fotografado modelos masculinos para revistas de sacanagem como Honcho e Inches durante alguns anos, então decidi fotografar um ator pornô na sala coberta de sangue como um tributo às minhas experiências. Para mim foi uma expressão da minha ambivalência em relação ao mundo pornô, uma crítica hiperbólica da natureza exploradora tanto da indústria de entretenimento mainstream quanto da indústria de entretenimento adulto, e um ato catártico de colocar para fora uma porção não totalmente resolvida de minha raiva pessoal.

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Após a sessão, convidei esse monte de pessoas que participaram do evento para entrar na sala sangrenta e posar na cama para uma polaróide, proporcionando-lhes a escolha de um facão ou um rifle como adereço. Cobrei de cada um cinco dólares para cobrir o custo do filme, que é caro, e tirei duas polaróides de cada, permitindo que eles ficassem com uma e guardando a outra para meus arquivos. Fiquei surpreso como as pessoas assumiam tão completamente os papéis de agressor ou de vítima (com casais foi interessante ver como eles negociaram quem faria qual papel), e como eles participaram desse cenário violento de maneira alegre e prazerosa.

Parte disso era o tipo de diversão que se tem numa Casa Mal Assombrada de parques de diversão, mas havia algo mais primordial acontecendo: uma encenação profundamente catártica da carnificina com a qual somos inundados diariamente pelos jornais, filmes e pela vida real. Achei todo o exercício, que durou cinco ou seis horas, extremamente desgastante, como se eu estivesse sugando esses impulsos reprimidos selvagens das pessoas e absorvendo-os, como quando o Padre Karras, em O Exorcista, pede para Satanás habitar seu corpo de modo que ele possa pará-lo saltando pela janela.

Depois, apresentei esses artefatos estranhos e mais outros, feitos em três eventos semelhantes dos quais participei ao longo dos últimos anos. A série que você vê aqui foi parte de uma performance na abertura da minha exposição de arte “Heterosexuality Is the Opiate of the Masses” [A Heterossexualidade É o Ópio das Massas] na Peres Projects de Los Angeles, em 2005. A ideia era recriar os vídeos e fotografias de reféns que vemos muitas vezes em canais de notícias e, ao fazê-lo, permitir que as pessoas experimentem, mesmo que apenas por um momento, o que é estar nessa situação horrível. Os participantes tiveram a opção de ficar como eram ou respingados de sangue, e mais uma vez eu levei duas polaróides – uma com a qual eles poderiam ficar e outra para meus arquivos. Eu estava tentando explorar a forma que a mídia invariavelmente apresenta  artefatos chocantes como vídeos de abduções enquanto meios de excitação e entretenimento para as massas.

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