Fotos dos Refugiados Hazaras Presos na Indonésia no Caminho para a Austrália

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Fotos dos Refugiados Hazaras Presos na Indonésia no Caminho para a Austrália

No ano passado, o fotógrafo Mike Read viajou para a Indonésia a fim de documentar o cotidiano dos refugiados hazaras fugindo da perseguição no Afeganistão.

No ano passado, o fotógrafo Mike Read viajou para a Indonésia a fim de documentar o cotidiano dos refugiados hazaras fugindo da perseguição no Afeganistão. A política atual do governo australiano, de recusar os barcos com refugiados em busca de asilo, deixou a Indonésia com o abacaxi de lidar com milhares de refugiados num limbo. Sem poder trabalhar ou estudar, eles passam o tempo esperando que seus pedidos sejam processados. A série de Mike tenta mostrar o que acontece com as pessoas mais afetadas por essa política controversa.

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VICE: Quais eram as impressões da Austrália que tinham os refugiados que você conheceu?
Mike Read: Fotografei lá em junho e janeiro deste ano. Você pode ver a diferença dentro desse período. No começo, as pessoas tinham muito mais esperança; agora, muitos perderam isso. Quando eles falam sobre serem reassentados em algum lugar, eles não têm nenhuma possibilidade em mente – antes, eles achavam que acabariam na Austrália.

Como eles se sustentam na Indonésia?
Eles não têm permissão para trabalhar ou estudar. Isso é parte do problema. Agora que os barcos pararam de chegar, as pessoas que viviam lá há alguns meses podem passar até seis anos na Indonésia. Quanto ao sustento, a maioria vendeu tudo antes de partir e agora vive de suas economias. Outro problema é que ainda é tecnicamente ilegal para os migrantes viverem na comunidade. Muita gente está se entregando para a imigração e ficando em instalações de detenção, onde pelo menos eles têm abrigo, comida diariamente e algum acesso aos médicos. E isso sabendo que há muitos abusos acontecendo nesses lugares, mas é a única opção para eles.

Qual a resposta da comunidade indonésia?
Em Cisarua, muitos refugiados não saem à noite, porque há histórias de ataques pelos locais. Acho que é um choque cultural. O governo local às vezes aperta o cerco contra os refugiados, mas eu sempre ouvia os comerciantes locais dizerem que gostavam de tê-los por ali, porque eles não causavam problemas e significavam mais vendas.

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Com é a rotina deles?
Os caras afegãos normalmente fazem pão em casa toda manhã. Depois, ficam sentados por ali, fazendo nada. Eles podem acessar o Facebook pelo celular ou conversar com as pessoas em casa através de algum aplicativo de mensagem. Existe uma sensação de tédio total. De novo, eles não podem trabalhar nem estudar.

Como eles se sentiram com você os fotografando?
Foi uma experiência interessante. Um dos caras adorava malhar; então, sempre que eu pegava minha câmera, ele fazia várias poses. Emprestei minha câmera para ele uma vez, e ele me devolveu isso com várias fotos dele sem camisa apoiado em árvores. Também há essa coisa de como eles querem ser representados nas fotos; muitas vezes, eles querem tirar fotos uns dos outros para postar no Facebook e mostrar sua situação de um jeito muito idílico.

Depois de ficar com essas pessoas, você se sentiu um pouco responsável por eles?
Uma das conversas que tive com todo mundo era sobre quando seriam as próximas eleições e se eu achava que Tony Abbott iria vencer. Você tem a responsabilidade de não dar falsas esperanças. Porque a situação política aqui é que um lado é tão ruim quanto o outro quando se trata de política de asilo.

Mas acho que, do jeito como falamos sobre os refugiados e como o debate é enquadrado, muita gente está pregando para os convertidos. Isso não leva a lugar nenhum: isso mantém as pessoas na mesma posição. Há muita gente fazendo um ótimo trabalho defendendo mudanças, mas o diálogo também tem de abordar coisas como o custo financeiro desses centros de detenção no exterior. Há gente que só vai mudar de ideia se você enquadrar isso em termos econômicos. Ouço muita gente dizendo que os australianos não estão felizes com a maneira como o governo lida com os refugiados, mas as pesquisas mostram que o público apoia o governo nisso.

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E o que vem agora?
Espero fazer uma exposição em Sunbury e trazer isso para um público que normalmente não veria essas imagens. Podemos nos cercar de gente que pensa como nós e discutir como as coisas são terríveis, mas não acho que isso vá mudar alguma coisa. Você tem de envolver as pessoas num meio-termo para mudar as opiniões delas. Às vezes, é impossível, mas, se você mudar a maré da opinião pública, você pode mudar a política.

Texto por Emma Do. Siga-a no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor