FYI.

This story is over 5 years old.

Entretenimento

“Anatomia do Inferno” Foi o Filme que me Fez Ter Medo da Minha Própria Vagina

De vez em quando alguns filmes fazem a menstruação ser realmente um troço assustador.

"Hoje, eu estraguei tudo deixando meu namorado me dedar" éuma história perturbadora do reddit que rodou pela internet em algum momento do ano passado, deixando todo mundo no processo enjoado com o almoço e as vaginas. Não vou entrar em detalhes, porque não quero ser a responsável por fazer você vomitar no seu computador, mas isso envolve um copo menstrual e "sujeira uterina podre". Essa história me lembrou do pior filme que já paguei para ver.

Publicidade

Sabe aquela mina da aula de Artes que coloca um absorvente interno numa xícara e fala várias merdas sobre ser mulher e sobre feminilidade reprimida (dizendo que o absorvente na xícara é uma obra de arte que resume tudo isso, fazendo uma referência inteligente aos opressores ideais vitorianos)? Essa mina cresce e vira uma diretora francesa como a Catherine Breillat. Em seu filme Anatomia do Inferno, ela realmente mete um absorvente ensanguentado na porra de um copo com água e faz o ator pornô italiano Rocco Siffredi beber isso. Bom, deixa eu explicar o que acontece.

O filme (francês, óbvio) começa com um boquete entre caras num estacionamento. Isso serve para mostrar que estamos do lado de fora de um bar gay. Dentro do bar gay, uma mulher (Amira Casar) de camiseta branca está com uma puta cara de tédio, como se ela devesse dar a noite por encerrada e ir pra casa tomar um chazinho. Em vez disso, ela e sua TPM vão pro meio da pista de dança e começam a esbarrar de propósito com todos os caras, que só estavam ali para se divertir (e – quem sabe? – ganhar um boquete no estacionamento). Ela dá um encontrão tão forte num dos caras (Rocco Siffredi), que ele a segue até o banheiro.

Ela vai pra lá cortar os pulsos numa sala azulejada branca, e ele a encontra sangrando quando entra ali pra ter o pau chupado. Por ela. Porque é isso que todo cara gay quer: ser chupado por uma mulher num banheiro de um bar gay. Ele pergunta por que ela cortou os pulsos num banheiro surpreendentemente vazio de um bar. Ela responde, sangrando (mas não tanto assim): "Porque sou mulher".

Publicidade

Esse é o primeiro momento em que você vai pensar "Por que diabos estou assistindo a Anatomia do Inferno?". Se sua resposta for "Porque trabalho numa locadora e assisto literalmente a qualquer filme que passa por essas portas", então somos tipos parecidos de idiota.

Depois que eles costuram os pulsos dela numa farmácia e ela chupa o cara embaixo de um poste como agradecimento, a moça diz que vai pagar uma grana para ele ir até a casa dela nas próximas quatro noites e ficar olhando pra ela enquanto "ninguém pode vê-la" – ou seja, enquanto ela estiver menstruando na cama toda. Ela argumenta que, como ele é gay – e,portanto, não vai ficar ocupado tentando traçá-la, como fariam todos os outros homens –, ele vai poder soltar várias verdades imparcialmente.

Ela essencialmente paga o cara para sentar numa cadeira desconfortável a noite toda, enquanto ela dorme e ocasionalmente olha para ele, mostrando os pelos pubianos para câmera. Puta diversão. Ninguém menciona exatamente quanto dinheiro ele vai receber, mas o ator pornô italiano mostra o pau várias vezes.

Se você está se perguntando em que tudo isso vai dar (ALERTA DE SPOILER): depois das quatro noites, a mulher sai da cidade e o homem tem emoções num penhasco, sugerindo que essa festinha de chico realmente significou alguma coisa para os dois.

O trailer de Anatomia do Inferno.

Sabe quando você assiste a um filme como Alien ou Aliens numa tela escrota no seu quarto – onde dá pra ver todos os pixels – e pensa "Queria ter assistido a isso no cinema em vez de nessa tela de merda"?

Publicidade

Não senti isso nenhuma vez enquanto assistia a Anatomia do Inferno. Tem uma tomada onde a câmera está tão perto das partes da moça que ela deve ter ficado com a marca da lente nas coxas. Quando ela dá à luz a um consolo de pedra e isso pula no meio dos lençóis, eu não pensei: "Poxa, queria que isso estivesse em HD". Também não pensei isso quando o cara tira o pinto duro de dentro da mulher e uma onda de sangue menstrual jorra dela. Jorra. Eu só pensei "Coloca uma toalha aí. Coloca uma toalha de cor escura embaixo dela".

Anatomia tem um ponto positivo: o filme tem exatamente 77 minutos de duração. Tipo um romance de 250 páginas: eu diria que esse é o tempo ideal; quer dizer… pra quem tem bexiga pequena. Mas cada minuto desses 77 é sobre como os homens têm medo e, portanto,odeiam as mulheres. Eles têm medo de serem sugados para dentro das vaginas como na cena da Bilquis em Deuses Americanos. Mas isso é verdade? Eu não tinha medo de vaginas até ver esse filme. Agora, eu tenho. O que é pior, porque tenho de ver e estar perto de uma vagina cotidianamente. Tenho medo de sentar em algum lugar de mau jeito e engolir uma bola de pilates.

Também tenho medo que uma cena específica de Anatomia do Inferno aconteça comigo na vida real: que algum cara que convidei para minha cama ande na ponta dos pés até o meu banheiro, encontre um batom vermelho de que eu realmente gosto (e que custou uns 50 paus), volte pra cama com ele e sente do meu lado. Tenho medo de que ele pegue a lâmpada do abajur da cabeceira e fique passando isso na minha bunda nua. Tenho medo de que ele pegue o batom de que eu gosto e comece a desenhar em volta do meu ânus. Tenho medo de que ele levante minha perna, como se eu fosse um animal que ele precisa ver se está com vermes, e continue a linha de batom até minha vagina e meus pelos pubianos. Tenho medo de que ele devolva o batom no meu banheiro e de que, da próxima vez em que eu quiser usar isso, ele irá ter acabado.

Antes desse filme, uma vagina era só uma coisa por onde eu mijava e um equipamento que eu trazia para a mesa do sexo. Eu não pensava muito nisso. Não era uma coisa tão interessante assim – era só uma vagina. E ainda é.

Da mesma forma como um cara grisalho de cabelo comprido usando jeans sempre vai me fazer pensar no Bob do Twin Peaks (e, subsequentemente, fazer meu estômago revirar), assim será com minas falando de menstruação como se não fosse nada – tudograças a histórias no reddit e à visão de um cara mandado para comprar absorventes, tentando decidir entre fluxo leve ou pesado. Anatomia do Inferno fez isso comigo.

@hayleycampbelly

Tradução: Marina Schnoor