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Tecnologia

Super Mario Kart, Vincent Gallo e música stoner

Haverá algo mais divertido do que ser um macaco dentro de um kart a alta velocidade a ouvir Fu Manchu?

Dizer que o

é um dos mais perfeitos jogos de sempre é uma afirmação capaz de revelar a personalidade de cada

gamer

só pela reacção de cada um. Nesta sondagem, não seria de admirar que os

nerds

mais alinhados com os novos RPGs começassem a rir do elogio e que os reis dos FPS tivessem uns cem títulos para ridicularizar o clássico da Super Nintendo. Mas o

gamer

com um coração de ouro concordaria de imediato que o

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Super Mario Kart

é um videojogo sagrado, independentemente de todas as versões actualizadas (

Mario Kart Double Dash!

, por exemplo) que entretanto saíram para as mais diferentes consolas.

Importa, antes de mais, referir que a sofisticação e a intemporalidade do

Super Mario Kart

não dependem sequer dos melhores gráficos ou de um poderoso chip 3D. Num jogo em que uma boa parte da diversão reside na utilização dos poderes especiais para tramar os adversários, atingir o Luigi com uma carapaça de tartaruga 16 ou 64-bits é basicamente a mesma coisa. Da mesma maneira que uma banana será sempre uma banana, quer esteja mal ou bem desenhada. Com oito personagens disponíveis (Mario e os amigos) e uma quantidade generosa de pistas e desafios, o jogo da Super Nintendo é tão inesgotável como outros prazeres que duram até ao fim dos dias.

Super Mario Kart

é tão somente a essência da vida num cartucho de plástico com o selo Nintendo.

A essência da vida.

E, como se sabe, a essência da vida renova-se desde que nos esquivemos daqueles objectivos tipicamente caretas: casa, carro desportivo e férias em

resorts

. Quando visitei a Game On, a maior exposição de videojogos do mundo, que esteve recentemente no Museu de Arte Popular, em Lisboa, reencontrei-me com o

Super Mario Kart

e com outros tantos jogos que deixarei para um próximo artigo. Por agora, a prioridade é mesmo descrever todas as maravilhas e revelações que se encontram na simples imagem do Super Mario a guiar um kart pelas pedras de uma pista fantasmagórica.

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Um clássico, como se sabe, resiste ao tempo e extrai dele as mais diferentes abordagens: se há 20 anos o

Super Mario Kart

era perfeito para me vingar de todas as torturas a que estava sujeito como o primo mais novo nas férias de Verão em família, ali na Game On passou a ser apenas o jogo certo para viajar pela memória de todo o tipo de referências populares. Todo este último processo teve início quando, numa corrida a oito, a minha amiga Maria começou a deixar o Super Mario ficar para trás, até que o boneco estivesse completamente abandonado e numa situação bastante triste. A verdade é que um Super Mario ao volante de um carro, sozinho no mundo, não é assim tão diferente da imagem que guardamos do Bud Clay, a personagem interpretada por Vincent Gallo no infame

The Brown Bunny

.

Super Bud Clay.

A partir daí, não havia um único boneco que estivesse em último lugar que não parecesse perdido naquela trip torturada do

road movie

. Aconteceu com o Mario, com o Donkey Kong Jr., com o Toad: todos ganharam uma pinta de Vincent Gallo a chorar ao volante de uma carrinha, em busca do fantasma da ex-namorada drogada. De repente, passou a ser muito mais engraçado estar a perder do que chegar em primeiro e ganhar uma taça ridícula. Entusiasmei-me de tal maneira com este cruzamento de universos que até fiz algumas montagens e desenhos temáticos.

"Porque é que tens de mandar drogas e de dormir com o Luigi? Porquê?…"

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Quando não passa a ser uma experiência paradoxalmente divertida e deprimente, o

Super Mario Kart

pede o acompanhamento da melhor música stoner. A questão é: haverá algo mais divertido do que ser um macaco dentro de um kart a alta velocidade a ouvir Fu Manchu? A Game On ainda não proporciona os discos adequados para esse efeito e foi também por isso que tive de começar a reproduzir os riffs favoritos com a voz e a cantar coisas como “it’s late enough to go driviiiiiin’” (“Song for the Dead”, Queen of the Stone Age) ou “king of the road says you move too slow” (“King of the Road”, Fu Manchu). Faltou-me foi a oportunidade para pegar no Toad, esmagar todos os adversários e cruzar a meta a gritar “Jesus on the dashbooooooaaard!!” (“Spacegrass”, Clutch).

Ainda haverá tempo para isso.

Super Mario Kart

é uma satisfação permanente.