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Feliz Aniversário (Atrasado), Revolução Egípcia

Anteontem, os egípcios marcaram a data tomando as ruas mais uma vez.

Um ano e dois dias atrás, uma marcha que partiu do distrito de Shubra, no Cairo, deu início a uma batalha de 18 dias nas ruas do Egito. A revolução que começou naquele dia deixou 800 mortos, derrubou um ditador e inaugurou um ano de revoltas no centro da capital e nas cidades do mundo inteiro. Anteontem, os egípcios marcaram a data tomando as ruas mais uma vez.

Algumas pessoas estavam lá para celebrar, outras para lamentar e outras para traçar uma linha em direção ao futuro. Foram pelo menos 250 mil pessoas nas ruas do centro do Cairo, se acotovelando e cantando. Depois de semanas de especulações preocupantes, tudo se passou sem violência. Mas isso foi anteontem — e parece que os próximos meses não serão tão pacíficos.

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Por que não houve violência, apesar do peso simbólico do dia, e apesar dos embates ferozes dos últimos meses? Parte porque o exército foi cuidadoso o suficiente para não provocar nenhuma: ficaram fora das ruas e até libertaram o blogueiro ativista Maikel Nabil na terça feira à noite. Parte, também, porque muitas pessoas acreditam que há progresso em direção à democracia. O parlamento aqui realizou sua primeira sessão na segunda. Algumas centenas de pessoas protestaram, mas a coisa foi relativamente tranquila.

Esse cara foi um passo além.

A coisa mais importante dessa revolução é o novo clima de confiança popular e assertividade. Isso se expressa na forma das marchas nas ruas e novos sindicatos nas fábricas, mas também na maneira aberta como as pessoas falam umas com as outras agora, no dia a dia — a polícia secreta ainda pode estar ouvindo, mas eles não têm mais medo como antes. Outra expressão dessa nova autoconfiança é o envolvimento crescente das mulheres, que marcharam pela cidade alguns dias antes do dia 25.

No grande dia, me juntei à marcha de aniversário do distrito de Shubra até a Praça Tahrir.

Eventualmente, depois de termos vagado através das poças da chuva da noite de ontem, nossa marcha chegou na praça lotada.

As únicas pessoas celebrando eram da Irmandade Muçulmana e até alguns Salafis mais conservadores. Previsivelmente, não parecia muito com uma festa; mas eles estavam felizes porque conseguiram cerca de 70% das cadeiras do parlamento. Eles têm uma relação próxima, porém tensa com o exército, que continua no poder até as eleições presidenciais marcadas pra junho. O exército tinha anunciado que realizaria sua própria celebração do aniversário na Tahrir para “cidadãos honrados”, mas evidentemente eles não encontraram ninguém honorável o suficiente para discutir com centenas de milhares de revolucionários irritados — então a celebração não aconteceu.

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Para outros, foi uma mostra de força, e um lembrete de que muitos dos objetivos originais da revolução ainda não foram alcançados. Perguntei ao blogueiro ativista Hossam al Hamalawy o que ele achou das celebrações.

“Aqueles que estão celebrando querem dar a impressão de que a revolução acabou. Mas ainda não terminamos o que começamos, e muitos objetivos da revolução permanecem distantes. Nos livramos do Mubarak, o que foi uma grande conquista, mas os generais do exército continuam no comando do país.”

Hossam al Hamalawy

Mesmo que se consiga que o exército não se meta nas próximas eleições, e entregue o poder pacificamente ao presidente civil, é pouco provável que o caminho seja fácil a partir daí. Não sóo exército vai continuar a se intrometer nos bastidores, como também háa bomba-relógio econômica. Se a seca turística continuar e a quantidade de dinheiro estrangeiro entrando no país diminuir ainda mais, a moeda do Egito vai continuar em seu lento colapso, e o preço do pão —feito principalmente de trigo importado —vai atingir as alturas. Os egípcios gastam mais da metade de sua renda em comida, e essa revolução tem a ver com pão tanto quanto com liberdade. Se a economia do Egito continuar encolhendo, as pessoas vão ficar bem desapontadas.

O #occupy pode ser um Modelo para um Futuro Pós-capitalista ™ou uma caverna de drogas distópicas com pouco apelo popular e menos higiene pessoal ainda. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, as pessoas podem estar jogando bombas incendiárias na polícia, ou tocando guitarras desafinadas do lado de fora de barracas congeladas. Não importa: tudo isso começou no Cairo, e em Shubra. Acontece que estamos um pouco mais conectados do que imaginávamos.

Então deseje boa sorte pra eles.