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Música

Entramos no Set do Clipe de “Purple Light”, da Elliphant

“Ela é quase linda demais”.

O clipe de "Purple Light", da Elliphant, com participação do Doja Cat, via i-D

. Todas as fotos por

Alex Aristei

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Uma névoa difusa paira sobre o centro de Los Angeles em uma noite fria de janeiro, mas, envolta num casaco fofinho na altura dos joelhos, forrado de pele de carneiro, a Elliphant parece confortável. Enquanto o cabelo cuidadosamente bagunçado dela é armado, e o batom, já perfeitamente aplicado na boca, recebe alguns retoques, só os olhos dela, de um azul mármore, estão gelados. Quando as câmeras começam a rodar, ela entra em ação, esgueirando-se na frente de uma escadaria íngreme escondida em um beco secreto, enquanto lasers magenta deslizam para cima e para baixo sobre uma parede de tijolos. Há apenas algumas horas, o diretor Ellis Bahl havia pedido a ela que aprendesse a cantar a letra do seu último single, “Purple Light”, duas vezes mais rápido. Apesar da hiper-velocidade, ela repete a letra impecavelmente. “Ela é muito boa nisso!”, diz Bahl, rindo. Ele a olha em close-up no monitor. Com a sua calça boca de sino estampada de poliéster e tênis de plataforma, ela lembra a principal diva do Deee-Lite, Lady Miss Kier. Os seus olhos, no entanto, são uma mistura de duas outras glamazonas dos anos 90, Christy Turlington e Helena Christensen.

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“Ela é quase linda demais”, diz Bahl.

Neste novo capítulo de Por Trás das Lentes, espiamos os bastidores do set de filmagens do clipe de “Purple Light”, da Elliphant. Bahl e Elliphant nunca trabalharam juntos antes, mas a parceria é acertada. Elliphant é brincalhona e está pronta para qualquer coisa, e Bahl está impressionado com a coragem dela.

Antes de falar com Bahl, o Noisey conversou com a Elliphant (cujo verdadeiro nome é Ellinor Olovsdotter) enquanto ela fazia o cabelo e a maquiagem – um descanso da personagem, ela diz. “Não estou aqui para parecer bonita ou ser decifrada. Estou aqui para ser infantil. É divertido para mim ser boba!”

Noisey: Qual é o conceito do clipe?
Elliphant: 90% da Elliphant está sempre complicando tudo. Estes foram os meus últimos 10%. Só queria que fosse um vídeo de performance e brincar um pouco com o roxo – usar lasers roxos, névoa roxa, roupas roxas – e um pouco de inspiração do Prince. Queria que ele ficasse um pouco irritado com o clipe se o visse. Acho que é o melhor meio de chegar até ele, deixá-lo irritado. Acho que é a única coisa a que ele reage! De uma certa forma, acho que sou o Prince de hoje. Estou usando esse casaco de pele enorme e tentando não ser super sexy. Só estou tentando ser divertida. Então a inspiração é roxo e rosa. Não tem uma história de verdade neste clipe.

O Prince reage à energia feminina – ele está sempre cercado de mulheres.
Eu o vi aqui, era só um show surpresa, espontâneo – tinha umas 200 pessoas, provavelmente. Foi uma loucura, mas foi incrível vê-lo. Não sabia que ia reagir daquele jeito quando o visse – fiquei embasbacada. Tinha uma banda de garotas abrindo para ele que era incrível. Boa parte da banda dele era formada por meninas. Então, neste vídeo, o conceito é o roxo – obviamente, uma música sempre SIGNIFICA alguma coisa, e a minha inspiração para esta música foi que eu a escrevi depois de ter a minha primeira experiência sexual com um garoto mais novo. Então, para mim, essa era a luz roxa: “Me guie através da luz roxa”.

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Mais novo? Não li há pouco sobre como você se sente mais atraída por homens mais velhos?
Se eu quero transar com uma garota, transo com uma garota; se quero transar com um homem mais velho, transo com um homem mais velho. Foi mais tipo, só o ângulo da minha sexualidade. Nunca me diria gay, bissexual, heterossexual ou nada do tipo. Só sou humana e faço o que tenho vontade. Me dou muito bem com homens mais velhos. Tenho um jeito para me dar bem com homens um pouco mais velhos com quem ninguém se dá bem – e não é uma coisa sexual, de jeito nenhum.

Você mesma escolheu o seu figurino?
Eu queria que tivesse roxo. Normalmente, a Elliphant é um pouco rígida quando se trata de roupas. Não uso muito o que está na moda, não é o meu forte. Sou mais tipo uma pop star super confortável. Mas desta vez eu queria fazer algo divertido. Prince e roxo.

É incrível.
O meu stylist fez um ótimo trabalho! Acho que o diretor ficou tipo: “Sério? Vamos ir tão longe assim?”. Não estou aqui para parecer bonita ou ser decifrada. Estou aqui para ser infantil. É divertido para mim ser boba!

Você se lembra do Deee-Lite e da Lady Miss Kier?
Você tá me zoando? Estava falando dessa porra hoje! Me perguntaram: “Quer ouvir alguma música?”, e eu respondi tipo: “Adoraria ouvir Deee-Lite hoje”. A minha mãe ouvia, eu cresci com essa porra. Deee-Lite e Pink Flamingos: foi com isso que eu cresci. Isto é incrível no meu projeto – a maioria das coisas não está definida, acontece no caminho. Em alguns dias pode ser meio esquisito, mas isso é só porque não tem limites neste projeto. É muito líquido. Às vezes, você pode perceber isso ouvindo a música: “Ah, isto foi meio desleixado”. Mas acho que é um preço pequeno a pagar pela liberdade de poder mudar e ser a sua própria evolução.

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Uma conversa com o diretor Ellis Bahl, que já dirigiu clipes da BANKS e do Alt-J:

Como vocês acharam aquele beco louco com aquela escada para o céu? [uma piada com “Stairway to Heaven”, literalmente, do Led Zeppelin]
Ellis: Estávamos em busca das locações, circulando por todo o centro de Los Angeles e pelo Distrito das Artes, procurando becos e fundos de armazéns, e não conseguíamos achar nada de que gostássemos. Tudo parecia muito simples, ou eram lugares onde todo mundo e a mãe de todo mundo já filmou. Então fizemos uma pausa para pegar tacos no Guisados, que são os nossos favoritos, paramos no estacionamento e ficamos tipo, “o que é isso?!”. Caminhamos um pouco e achamos esses becos incríveis, mas eles estavam todos trancados, então só olhamos através dos portões. Só esbarramos nele.

Você já trabalhou com a Elliphant antes?
Não, só a conheci três dias antes de começarem as filmagens. O conceito veio da Ellie, em colaboração com a i-D Magazine. Eles vieram até mim com um esboço, e expandi a ideia a partir disso. Isso aconteceu umas três semanas antes de começarem as filmagens.

E quando você fez a Ellie cantar duas vezes mais rápido, o que foi aquilo?
Fazemos os artistas cantarem bem rápido para que possamos diminuir a velocidade das filmagens tranquilamente – tudo está se movendo em slow motion, mas o lip sync está no tempo certo. Não fizemos isso duas vezes mais rápido, fizemos 1,5%. Duas vezes mais rápido é quase desumano, é impossível para um humano conseguir isso. Ela foi muito boa nisso. Me surpreendeu mesmo. Normalmente os artistas têm alguns dias para conseguir acertar isso, mas não tínhamos tempo, então ela conseguiu fazer isso em uma hora ou duas antes de começarmos a filmar. Ela arrasou.

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Do que você mais gostou em trabalhar com ela?
Adorei a energia e o entusiasmo que ela trouxe. Elas foi super brincalhona e sexy, estava pronta para qualquer coisa. Não estava tímida ou acanhada. Colocou tudo de si em cada cena e inventou alguns movimentos de dança incríveis que são sexy, bobos e originais, tudo ao mesmo tempo. Adoro quando há uma conexão entre Ellie fazendo algum tipo de movimento maluco e a câmera capturando a luz do jeito certo – quando todas essas coisas se juntam, essas tomadas me arrepiam. E, neste projeto, tivemos muitas desse tipo.

Como você acha que o clipe complementou a música?
Acho que a música tem uma vibe muito nostálgica, e também um feeling sombrio, atmosférico. Queria que as imagens representassem isso. Trouxe muitas influências de clipes dos anos 80, especialmente dos vídeos pop meio cafonas. O Prince foi uma grande inspiração. A faixa é muito divertida e tem uma energia de festa exuberante – me fez pensar em porres de madrugada movidos a drogas. Queria que passasse essa sensação, pegar a iconografia dos videoclipes clássicos e injetá-la num feeling moderno e ousado.

Como o beco alagado! Sempre tinha uma tomada de uma poça de gasolina nos clipes dos anos 80.
A chuva cinematográfica! [Robert] Zemeckis sempre fazia chuva. Em todos os filmes da série De Volta Para o Futuro, sempre tem uma chuva. A aparência que a luz tem à noite, quando está tudo molhado, é intrinsecamente muito cinematográfica e bonita. Nos anos 80, isso era muito popular nos filmes; e porque os clipes eram muito influenciados pelos filmes, se tornou muito popular nos clipes.

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Há quanto tempo você dirige?
Acho que fui pago para dirigir alguma coisa como freelancer pela primeira vez há uns três anos. Antes disso, filmava, editava, produzia e dirigia na MTV. E fazia filmes de estudante e filmes divertidos antes disso. E fazia filmes com Lego quando tinha cinco anos.

Aposto que esses eram muito criativos.
Ah, esses são os meus melhores trabalhos. Segundo a minha mãe, pelo menos – minha fã número um.

O que o fez decidir filmar videoclipes?
Na verdade, comecei a fazer clipes porque fazia parte de uma banda em Nova York e tinha um monte de amigos que eram músicos, então comecei a fazer vídeos para as bandas dos meus amigos. Também tinha alguns amigos na escola de cinema que estavam fazendo clipes e tendo algum sucesso – estavam sendo pagos de fato, então eu fiquei tipo, “nossa! Posso fazer isto!”. Quero fazer filmes longa-metragem, e os clipes pareciam um ótima porta de entrada para isso.

Qual é o clipe mais legal que você assistiu recentemente?
O meu favorito é o clipe do Hiro Murai para “Sweatpants”, do Childish Gambino. Acho que esse é um dos melhores clipes em muito tempo. Muito competente tecnicamente, o trabalho é muito bem feito. Ele se mostra, mas não atrapalha a performance do Gambino. É divertido, mas não é óbvio.

Rebecca Haithcoat é escritora e vive em Los Angeles. Siga-a no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta