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Música

Uma Estranha Canção Para Johnny Depp: Conheça o The Hit Metres, a Banda Mais Fácil de Se Pesquisar No Spotify

A obra do The Hit Metres consiste de centenas de títulos sobre personalidades e eventos atuais, como: “Hugh Jackman É Obrigado Por Contrato a Continuar Interpretando o Wolverine?”

Semana passada, enquanto compilava uma lista de músicas sobre Bitcoin para resenhar, esbarrei uma canção chamada “Bitcoin, Dogecoin or Juggalocoin”, na busca do Spotify. Era basicamente inaudível – uma coleção de barulhos de sintetizador e uma voz fazendo a pergunta central sugerida pelo título: “Que tipo de Bitcoin eu deveria escolher?” [Which kind of Bitcoin should I get?”].

Confrontado com algo que aparentemente não devia ter tantos motivos pra existir, tinha que saber mais sobre. O artista era listado como The Hit Metres, que eu imaginava – e ainda imagino, com base nas informações escassas disponibilizadas – ser um duo de synthpop garboso composto por um rapaz e uma moça. A obra do The Hit Metres consiste de centenas de títulos sobre personalidades e eventos atuais, muitos dos quais poderiam ser manchetes de posts opinativos mornos como: “Hugh Jackman É Obrigado Por Contrato a Continuar Interpretando o Wolverine?”; “O Nepotismo Não Morreu Enquanto Tivermos Emma Roberts Jaden Smith e Zosia Mamet”; “Jenny McCarthy Tem Que Desistir de Sua Cruzada Contra a Ciência”; “Zoe Saldana Tem a Palavra Final”; “Os Boko Haram São os Maiores Perdedores do Mundo”. Um disco inteiro, Something Brewing, é dedicado a furacões (“O Furacão Kyle Continua Vindo” não é mais uma péssima piada sexual que talvez eu pudesse fazer sobre mim!), enquanto outra, Made In America, apenas lista um monte de políticos e seus cargos.

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Ao criar uma obra tão grande e com termos tão eminentemente pesquisáveis em seus títulos, o The Hit Metres se destaca, intencionalmente ou não, como um experimento explorando a natureza da arte e informação em uma era de armazenamento de dados quase ilimitado. Os nomes de suas músicas são bastante eficazes como SEO, ou seja, cobrem uma gama diversa de termos e frases que as pessoas talvez possam pesquisar. Eles são engraçados, mas também funcionam como uma espécie de crítica sobre a expressão de opinião. Quantos cantos abandonados da internet mantém um sentimento do tipo “Que Esquisitice o Bill Murray Fará em Seguida?”? Um monte, pelo visto.

Que estas músicas existam desta forma é interessante, mas como essas músicas existem é uma arte tão fascinante quanto: na média, elas têm menos de um minuto, e não estão disponíveis para download gratuito, mas sim pagos, custando 89 centavos de dólar na Amazon, 99 centavos de dólar no iTunes ou em streaming pelo Spotify. O The Hit Metres parece, assim como, digamos, Jeff Koons, ser o tipo de arte com foco tanto em si mesma quanto no comércio e todo o resto. Ao menos, essa é a minha interpretação do que pareceu ser um grande experimento comercial sobre os poderes da otimização de buscas de cauda longa.

A ideia da cauda longa, que já foi explorada em muitos contextos como um modelo de negócios online, é que o tamanho sem fim da internet faz com que seja possível ter sucesso comercialmente ao disponibilizar muito conteúdo que poucas pessoas consomem ao invés de pouco conteúdo que muitos consomem. É o mesmo conceito que levou a livros compostos por artigos da Wikipédia impressos sob demanda ou ao Yahoo Respostas. Teoricamente, ao contar com termos de pesquisa esquisitos o suficiente nos nomes de suas músicas, uma banda como o The Hit Metres poderia faturar com estes termos no Spotify ou Google. Se existe gente o suficiente pesquisando por celebridades como Andy Serkis (“Andy Serkis É o Rei da Atuação em Motion Capture”), Johnny Manziel (“Johnny Manziel Não É Lá Muito Humilde”), ou Neil deGrasse Tyson (“Neil deGrasse Tyson É o Novo Albert Einstein”) no Spotify, não está totalmente claro, mas ao que parece, o The Hit Metres tem esse mercado dominado.

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Por mais que a banda, que existe online não tanto como banda e mais como um repositório de conteúdo digital, tenha sido difícil de se encontrar, finalmente consegui algum contato com eles através da empresa que distribui suas músicas na Amazon e iTunes e recebi algumas respostas bastante entusiasmadas, mas não tão satisfatórias, aos meus questionamentos. O The Hit Metres é uma banda de Nova York – “Não do Brooklyn! O bicho pega em Manhattan! Manhattan é o novo Brooklyn” – que se recusa a revelar suas identidades. Atendendo às minhas expectativas, eles listam Ke$ha, LMFAO, Nicki Minaj, Wesley Willis, They Might Be Giants, Andy Warhol e Banksy como inspiração.

O projeto surgiu como parte de uma maratona criativa chamada RPM Challenge. Ao passo em que o pré-requisito para o desafio seriam dez músicas ou 35 minutos de material autoral, o The Hit Metres se deu um objetivo absurdo de compor 100 canções em um mês. Atingir a meta exigiu, obviamente, uma abordagem rápida e metódica, e a banda então recorreu ao IMDB em busca de inspiração, fazendo uma pesquisa pelas 100 maiores celebridades.

“A ideia por trás do The Hit Metres veio daquele processo de pensamento de composição veloz”, explicou o grupo, por e-mail. “Como as músicas podem ser criadas mais rápidas, mais velozmente? Pense como se fosse arte saindo da Factory de Warhol. Um monte de arte barata e acessível para as massas (o Spotify pode ser usado gratuitamente, assim como o Rdio).”

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Como sugerido, o processo é praticamente repetível infinitamente, dependendo em pouco mais que uma lista de termos e uma abordagem aceleradíssima para lançar algum som que tenha algo, ou mais provavelmente, nada a ver com os estes termos. As músicas curtas não apenas são mais fáceis de se fazer, elas também são um experimento de se tentar criar público no Spotify. As músicas ouvidas no serviço tem que ser ouvidas por pelo menos 30 segundos para valerem royalties. Muitas das canções do The Hit Metres mal ultrapassam esta marca, mas parece que lhes falta incentivo para ir mais longe. E não é só porque os ouvintes talvez não estejam nada interessados em prestar atenção ao material barulhento e abrasivo do grupo.

“Músicas mais longas significa que menos músicas são ouvidas”, disse a banda. “Menos canções sendo ouvidas significa que menos bandas ganham alguma exposição. (Afinal, não há tantos minutos em uma hora). Por outro lado, o Spotify dá um leve encorajamento a se trabalhar com músicas mais curtas. Você recebe o mesmo, aparentemente, por uma canção de um minuto ou de cinco. Isso significa que se um fã ouve cinco músicas suas, o artista que cria músicas de um minuto ganha cinco vezes mais que o cara que faz músicas de cinco. Isso encoraja composições mais curtas, e pode (teoricamente) levar a uma exposição maior”.

Em termos de exposição, o The Hit Metres foi levemente atrapalhado pelo fato de que seu distribuidor, DistroKid, proíbe o uso do nome de outros músicos em títulos de músicas, o que os limita a utilizar nomes de celebridades pelos quais as pessoas tem menor tendência a pesquisar no Spotify (músicos, é claro, sendo o foco principal). O Hit Metres já ganhou algum dinheiro, “mas não muito”. Eles provaram, porém, que as pessoas são curiosas a respeito de Jared Leto, tema de sua canção mais ouvida, “Jared Leto Devia Desistir Desse Negócio de Música” (seguida de “Meu Trabalho de Detetive é Tipo True Detective”). Eles também desafiaram o público com questões importantes: “Vocês Acham que Christian Bale Aprovará a Versão de Ben Affleck Para o Batman?”, “Por Que a Angelina Jolie Ainda é Famosa?”; “E Se Ambos os Kendrick Se Juntassem?” (suponho que essa seja sobre Anna Kendrick e Kendrick Lamar); “Qual Delas É Elle Fanning e Qual É Dakota?”. Eles também compuseram “Uma Estranha Canção Para Johnny Depp”, que dá o título deste artigo.

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No entanto, a banda afirma que poderia fazer músicas mais voltadas para o SEO, citando a falta de metadados como letras para as músicas no Spotify, ao contrário do Bandcamp (essencialmente, se eles pudessem incluir letras, seria mais fácil de aparecerem no Google). A banda nega, de forma bem-humorada e tímida, que haja qualquer elemento de subterfúgio ou esperteza por trás do projeto. Eles supõem que, já que não podem usar nomes de músicos que a maioria das pessoas buscam em suas músicas, então na verdade estas pessoas buscam por músicas sobre, digamos, Bob Saget (“Como o Bob Saget Conseguiu um Programa de TV?”).

“As pessoas querem ouvir canções sobre esses temas aleatórios?” refletiu a banda. “Claro, por que não? O Hit Metres está feliz de preencher esse vazio escrevendo canções rapidamente sobre temas que ninguém achou que as pessoas realmente se importariam.”

É uma missão ousada, e além de ter um traço da arte do jogo do Spotify presente em projetos como o disco mudo do Vulfpeck ou a série sem fim de covers que abarrotam os resultados de buscas por músicas populares, oferece uma espécie de abordagem nova na natureza do conteúdo online. A música, como qualquer outro conteúdo digital, é feita de dados, mesmo que sejam dados que estamos mais propensos a elevar ao status de arte. Se um post sem sentido em um blog sobre cultura pop vale 30 segundos da sua atenção, por que uma música banal expressando uma opinião similar não vale também? Se alguém pode vender publicidade a partir da probabilidade de que você clicará em uma manchete sobre a Jennifer Lawrence, lucrar com o equivalente musical dessa manchete é diferente?

Vai saber se é isso mesmo – já que minhas interações com a banda foram basicamente baseadas em mensagens online anônimas, tenho até menos certeza do que quando comecei a falar sobre o nível de cinismo envolvido neste projeto – mas não acho que isso importe mesmo. A música em si é bem chata, e é incrível que exista, e que continue a existir (recentemente, a banda lançou seu mais novo projeto, Cleveland). Na torrente de informações que é a internet, qualquer coisa fascinante e engraçada e compartilhável torna-se banal. Esta é a trilha sonora banal para acompanhar, com uma música sobre cada tópico.

Kyle Kramer ama conteúdo digital. Siga-o no Twitter - @KyleKramer

Traduzido por: Thiago “Índio” Silva.