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Música

O Prince é o Rei no Quesito Estilo Há Longas Quatro Décadas

Afinal, o Prince inventou o sexo. É sério.

Toda geração acha que inventou o sexo. Mas o Prince inventou mesmo o sexo, pelo menos no que se refere à cena musical dos anos 80. Sem recados, ironias ou metáforas. Ele se tornou um mega-astro cantando sobre todo tipo de safadeza e se vestindo de acordo, transformando o olhar sexy indecente em chique de passarela. Ele se cansava de si mesmo antes que qualquer outra pessoa tivesse a chance. Na época, quando apresentava álbuns clássicos a cada duas semanas, ele nunca deixou de inovar, lançando tendências de moda toda vez que aparecia e em seguida botando fogo em tudo e criando visuais novos para a próxima aparição. Aceitando o desafio de Bowie, ele se tornou o maior transmorfo do pop. Vamos absorver isso tudo.

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Versão ao vivo recente da música "She's Always In My Hair", de 1985. Pois é. Ele ainda está com tudo.

Fotos por Robert Whitman via Vulture.

1978
Fotos tiradas por Robert Whitman de um Prince de 19 anos passeando por Minneapolis foram divulgadas recentemente e são um tesouro. O black power é uma maravilha simétrica almofadada, os olhos são grandes e puros como os de Bambi, mas oculto sob a gola rolê e a calça boca de sino fermentava uma confiança inabalável. Essas fotos foram feitas pouco depois do lançamento do seu disco de estreia, For You. Prince compôs, produziu, tocou e cantou tudo nessa coleção pantanosa. Musicalmente, os falsetes animados parecem inofensivos, mas as cantadas lascivas são o epicentro de músicas como “Soft And Wet”: “Hey, lover, I got a sugarcane/ That I wanna lose in you/ Baby can you stand the pain?” (“Ei, amor, tenho uma cana / que quero perder em você / Gata, você aguenta a dor?”)

Fotos surrupiadas do fansite do Prince, Prince.org. 1979
Ele rapidamente trocou o black power por uma juba escovada, usando uma malha que deixava o mamilo exposto como se não fosse nada demais. Ele pode até ter ficado parecido com alguém de Fame, mas 1979 fez isso com as pessoas. Foi aí que suas composições se aperfeiçoaram com os clássicos absolutos “I Feel For You”, “I Wanna Be Your Lover” e “Why You Wanna Treat Me So Bad”. Seu segundo álbum foi uma grande declaração pop, e provavelmente foi por isso que ele o batizou com seu próprio nome.

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Na primavera americana de 1980, ele abriu os shows do Rei do Jehri Curl Rick James na turnê Fire It Up, deste último. O Rick tinha lançado seu primeiro álbum no ano anterior e a turnê não era grande o suficiente para os egos ou o cabelo dos dois. As histórias voaram: o Prince supostamente roubou os passos do Rick; o Rick aparentemente afanou o equipamento do Prince. A tensão explodiu na festa de aniversário do Rick quando ele agarrou o Prince pelo cabelo e enfiou conhaque goela abaixo. “Ele cuspiu tudo que nem uma p**inha e eu ri e saí fora”, escreveu Rick em sua autobiografia. “Eu adorava f**er com ele daquele jeito.”

1980
A libido do Prince estava em destaque desde o início, mas no terceiro álbum, Dirty Mind, ele não foi sutil. “You wouldn't have stopped/ But I, I came on your wedding gown” (“Você não teria parado / Mas eu, eu gozei no seu vestido de casamento”), cantou para a noiva de outra pessoa em “Head”. Na capa do álbum ele usou uma capa cheia de tachas, um lenço, e uma cueca de corte alto, um requebrado no quadril, a postura tipo “Qualé”. Roupa íntima feminina, meia 7/8 e botas de salto viraram um elemento básico no palco. Sobre o salto, Prince declarou: “As pessoas dizem que uso salto porque sou baixinho. Eu uso salto porque as mulheres gostam”. Homem de salto? Só funciona em você, Prince.

1981
Para o Controversy, de 1981, Prince parou com o falsete, aumentou as guitarras e começou a misturar sordidez sonora com letras socialmente conscientes. Mas ele ainda mandava ver na calcinha, o que não deu certo nos dois shows que fez de abertura para os Rolling Stones em Los Angeles. A plateia aguentou até ele começar a cantar “Jack U Off” (“You'll have an instant heart attack/ If I jack you off” – “Você vai ter um enfarte na hora / Se eu te masturbar”). O público respondeu com vaias, atirando latas e garrafas. Ele fugiu para Minneapolis, mas Mick Jagger ligou e falou para ele ser forte e encarar, então o Prince voltou para o segundo show, que foi ainda pior. O público dos Stones ouviu falar do primeiro show e foi preparado: desta vez ele foi bombardeado com repolho fedido e frango morto.

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1984
Quando o fã padrão do Prince brinca de se vestir de Prince, esse é o Prince que escolhe: o casaco, a camisa com babado, o cabelão. Ele aumentou o volume em todos os aspectos. O álbum 1999, do ano anterior, colocou singles no topo das paradas, mas Purple Rain — um filme e a trilha sonora que o acompanha e parecia uma coleção instantânea de grandes hits — tornou-o tão grande quanto Michael Jackson e Madonna. As músicas sensuais eram a minoria, mas “Darling Nikki”, sobre uma prostituta que leva o Prince para o castelo dela e o satisfaz com “apetrechos”, foi a gota d’água para Tipper Gore. Quando a ex-vice-primeira-dama dos Estados Unidos ouviu a filha de 11 anos escutando a música, ela cuspiu o cereal e pegou pesado com a indústria fonográfica.

“Cresci ouvindo e adorando rock, assistindo televisão e me entretendo com ela”, escreveu Tipper no livro Raising PG Kids In An X-Rated Society (algo como Criando os Filhos com Classificação Livre em uma Sociedade para Maiores de 18, em tradução livre). “Continuo gostando das duas coisas. Mas alguma coisa aconteceu desde os dias de ‘Twist and Shout’ e I Love Lucy.” Como eu disse: o Prince inventou o sexo e graças à sua obscenidade sonora, os selos de classificação indicativa esbofeteiam discos indecentes até hoje.

1987
Michael Jackson queria um dueto com o Prince na faixa-título do álbum Bad. Prince diplomaticamente recusou. Sem chance que ele ia ficar lá parado que nem um idiota enquanto o Michael cantava “Your butt is mine” (“Sua bunda é minha”), mas ele também não precisava fazer um dueto com Michael Jackson. Ele tinha sua própria obra pronta para o mundo — um álbum duplo literário e espiritual que era bem diferente de tudo em Bad. Pode não ter sido tão mainstream quanto Purple Rain, mas tudo que o Prince é está condensado em Sign “O” The Times. Em termos de indumentária, nenhum homem jamais colocou tanta ênfase no tronco; exposta ou coladinha, a cintura de um palmo do Prince competia com os 45 cm da Scarlett O’Hara. Ele não passaria batido indo na loja da esquina com esse look. Mas enfim, o Prince provavelmente nunca foi até a loja da esquina.

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1988
A reação de Prince ao sucesso de Sign “O” The Times foi gravar seu disco mais sombrio até hoje, que foi em parte um esforço para recuperar o afeto dos fãs afro-americanos avessos à sua produção mais esmerada e pop. The Black Album exala dirty funk, mas Prince cancelou o lançamento uma semana antes da data prevista, decidindo que era muito pessimista (o disco acabou sendo lançado em 1994). Em vez disso, deu uma guinada de 180 graus e fez Lovesexy, um renascimento espiritual em que ele canta músicas como “Positivity”, (amostra de letra: “Positivity/ YES” – “Otimismo / SIM”). Obviamente, a nudez é a declaração máxima de estilo. Quem precisa de roupa quando você pode reclinar nas pétalas de um lírio gigante? (Legal a disposição do estame da flor, mano. Sutil.) De alguma forma ele consegue parecer recatado e pensativo de bunda de fora.

1991
Posso discutir o que o Prince estava fazendo musicalmente em 1991, mas na verdade só quero chamar atenção para o que estava rolando com essa roupa amarela sem bunda e corte a laser. Isso foi uma apresentação de “Gett Off” no VMA de 1991. Eu vi um show do Prince na primeira fila na mesma época e ele enfiou o rabo na minha cara. Diferente dessa foto, o traseiro estava coberto, mas o fio apertado ainda assim não deixava muita coisa para a imaginação. Imagino que era para a alegria da arena toda, mas essa é a questão do Prince – parecia que ele tinha feito aquilo só para mim.

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1999
Em 1999, Prince ainda estava em guerra com sua gravadora, dizendo que era escravo e referindo-se a si mesmo como “squiggle” (“rabisco”). Para celebrar a liberdade que enfim ganhou de seus grilhões, ele recuperou seu nome, como uma fênix das chamas — embora seja uma com tranças e marias-chiquinhas questionáveis. E um macacão metálico com gola rolê. Ele também lançou o álbum Rave Un2 The Joy Fantastic, que não trouxe muita coisa, mas parece que a ovelha está curtindo.

Anos 2000
Cansou do Prince? Sem problema. Essa década pode ser resumida por essa imagem de uma apresentação no Superbowl em 2007. O homem sabe trabalhar uma silhueta.

O Legado
O DNA do Prince pode ser encontrado em inúmeros artistas. Todo mundo que foi influenciado por ele é, invariavelmente, influenciado por Sign “O” The Times. André 3000 o chama de “um dos maiores álbuns da história” e praticamente todo o R&B moderno foi atingido pelo seu legado, de Terence Trent D’Arby a D’Angelo, de a Dev Hynes a todo o guarda-roupa do Lenny Kravitz. Justin Timberlake admite com frequência que se baseia no Prince, afirmando à Playboy que é “o maior músico que já viveu”. Mas a música "Spaceship Coupe" do álbum 20/20 é a homenagem mais direta do Justin até hoje, lírica, vocal e sonora — até o grande solo virtuoso de guitarra. Compare com “Do Me Baby” de Controversy e vai entender de onde ele vem. O Beck da época de Midnite Vultures também exala o perfume do Prince, principalmente em “Debra”, música sobre seduzir uma menina que ele conheceu na JCPenny. A partir disso, portfólio do Prince + “Debra” do Beck = todas as músicas do Flight of the Concords.

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Por achar impossível escolher sua música favorita do Prince, Pharrell William do N.E.R.D. resumiu o apelo dele para a MTV assim: “Como dizer que sorvete de pêssego é melhor que branco pérola? É aí que o Prince é genial. Ele tem tantas cores e texturas diferentes na carreira e composição que não dá para comparar, e é por isso que você precisa de tudo. De algumas pessoas, você ouve uma música e já ouviu todas. Ou tem dois álbuns bons entre cinco. O Prince não é assim. Ele te pega com momentos tipo bop, bop, bop, bop, bop”. Como se você não tivesse reparado, Pharrell acredita muito em sinestesia.

Atualidade
Hoje em dia o black power pode estar sob controle e entopetado, mas ainda não há domesticação para sua supremacia indumentária. Óculos escuros à noite? Máscara dourada sólida até o fim. Ele não precisa ver suas caras feias. O Prince não está mais usando calcinha ou mostrando a bunda, mas já tem 54 anos, então ninguém precisa ver isso. Enfim, ele ainda está melhor do que qualquer um de nós. Te amamos, Prince, seu alienígena lindo.

Alex Godfrey gosta de cantar músicas do Prince no chuveiro. Ele tem um falsete matador. Siga-o no Twitter - @MrGodfrey.

Style Stage é uma parceria entre o Noisey & a Garnier Fructis para celebrar música, cabelo e estilo.