Como o Young Thug, 2 Chainz, YG e a Arte Pré-Renascimento Estão Relacionados

Inovação de Som nº.1 – O relacionamento do hip-hop com a arte erudita

Esquerda: Ancestral Masculino. Século 1 a 4. Mesoamérica. Nayarit – Direita: Young Thug

A arte sempre foi uma parte intrínseca do hip-hop; os primeiros clássicos como Low End Theory, Licensed to Ill e 3 Feet High And Rising implementaram o uso de pintura para suas capas – mas foi só recentemente que o gênero realmente abraçou a alta arte.

Os dois foram entrelaçados para terminar juntos em algum momento; rappers ficam de pau duro por qualquer coisa que custe mais do que a gente ganha em um ano e frequentemente estão fazendo alguma referência a pinturas em sua música. Jay Z falou sobre ter um Picasso, Kanye e A$AP estão num lance meio alta costura – e isso vai mais longe que o caso clássico da subcelebridade querendo ser modelo.

Cecilia Azacarte é uma diretora de arte e publicitária freelancer que, como o Jigga, tem uma paixão por hip hop e arte erudita. Com seu blog, B4XVI, ela encontra um monte de relações estéticas entre a arte do século XVI e Young Thug. Nós fomos trocar uma ideia com ela sobre isso.

Noisey: Como você fez essa conexão entre o hip hop e a arte do século XVI?

Cecilia: Fui no Met e vi uma pintura da A Virgem e o Filho ao Trono com Cenas da Vida da Virge, do Mestre Morata, e o chapéu do fundo me lembrou um daqueles bonés com a traseira ajustável. Isso me fez perceber que não somos tão diferentes assim, e que a pintura era moderna para aquela época.

Esquerda: detalhe de Cristo Abençoado, cercado pela Família Donor. Pintor Alemão Desconhecido, 1560 - Direita: Kanye West

Achei interessante criar uma ferramenta que faria a juventude olhar pra artes antigas de maneira diferente, e ficar empolgada pra conhecer o Museu Metropolitano de Arte de Nova York, ou pelo menos ficar curiosa sobre arte. Também atrair pessoas que não se interessam normalmente por hip-hop e fazê-los ter interesse pelo que os rappers fazem, que é bem legal.

Você acha que, no hip-hop, alguém está ciente dessas similaridades? Ou é só coincidência? Porque isso representa poder e inteligência.

Sempre existiu vanguarda em todas as artes. É tipo um swag atemporal. Os rappers de hoje são a soberania da cultura pop, então, não fico surpresa com as similaridades.

Falando em vanguarda, sempre rolou um movimento encabeçado pelo Kanye, mas apoiado em partes pelo A$AP Rocky. Você conhece mais alguém que carrega esta bandeira?

Bom, tem toda a situação do Jay Z e do Drake, o fato deles estarem sempre falando sobre as obras que eles têm em casa, isso é bem interessante. O Jay Z se apresentou numa performance da Marina Abramovic. Tem um todo um movimento misturando esses mundos, o que é fascinante! Eu humildemente adoraria contribuir pra essa mistura, para que pessoas pudessem sacar coisas que elas normalmente não notam. Eu adoraria fazer disso um projeto em vídeo ou algo ainda maior.

Esquerda: Deity Censer - 1200–1400 México - Direita: YG

E quando você realmente mergulhou na arte?

A arte sempre esteve por perto. Mesmo se fosse num mosteiro perto de casa, eu era sortuda o suficiente para ter pessoas próximas que me levavam pra ver essas coisas. Mais tarde, eu descobri os primitivos flamengos, que são bem legais. Van Eyck, Maitre De Campalle, os caras de Bruge, etc. Conheci os italianos quando visitei Roma. Fiquei surpresa como essas coisas de antes do fim do renascimento pareciam modernas e livres,eles eram muito criativos.

E no hip hop?

Eu me mudei pra NY e ficou impossível ignorar o hip hop. A cultura, as gírias, a música. Meus amigos me influenciaram e ajudaram muito nesse projeto. Fiquei muito mais envolvida com isso porque, como você disse, os gêneros estão cada vez mais entrosados. Kanye usando Margiela e pessoas como A$AP Rocky e Jay Z se envolvendo… A música é brilhante, claro, e tem muitos gênios criativos.

Esquerda: Quentin Massys. Ecce Homo - 1520 - Direita: 2 Chainz

Que som você descobriu primeiro?

Isso foi uma mistura de algumas coisas diferentes. Um amigo meu me apresentou o Bodega Bamz, que eu gostei bastante, além do A$AP Ferg. Curto ouvir Chance The Rapper quando estou dando um rolê de bike pela cidade. Gosto especialmente da garotada da internet, como o Yung Lean ou o Uzi. Adoro o que a internet está fazendo com a música e com o visual que a acompanha.

Quais são seus clipes de hip-hop favoritos?

Eu realmente curto o “Life Round Here” do James Blake junto com o Chance The Rapper. A mistura e simplicidade desses dois mundos faz muito sentido pra mim. Também pago um pau pra esse vídeo do Ratking porque é simples e puro.

Você pode explicar as comparações?

Foram três dias de trabalho pra fazer as primeiras dez. Elas precisavam de um elemento surpresa que as pessoas não notassem ou conhecessem.

O trampo de Cecilia

As mais fortes são as com os lordes e cavaleiros, como a do Wiz ou a com o A$AP Rocky, porque você sente que elas representam o poder de uma maneira mágica. As imagens se fortalecem entre si, e parece que há um diálogo real entre as duas. São pessoas poderosas de épocas diferentes, e eu adoro o modo como isso é capturado em diferentes vertentes. Eu adoraria fazer um vídeo no MET com o Kanye, ou o Jay Z, ou qualquer outro rapper. Ninguém deveria se sentir intimidado de ir a um museu. Tudo bem aparecer lá, olhar duas coisas e cair fora. É a mesma coisa com a música, em minha opinião.

Que som você recomenda pra quem curte arte erudita?

Ratkin, definitivamente. Porque eles são jovens e não são óbvios. Além deles, o Le1f.

Que obra de arte você recomenda pros fãs de rap?

Pra começar, Hieronymous Bosch. Porque é surpreendentemente antigo. Depois, Van Eyck e os flamengos.

Adoro esse jeito que eles carregam uma cabeça. Parece um filme de terror de baixo orçamento. Tá vendo o sangue pingando? É muito bom, parece mangá. Antes do Renascimento, arte era pro povão também. Era a cultura pop deles, e era usada pelas igrejas pra contar histórias para pessoas que não sabiam ler.

E qual é o futuro do projeto?

Vou continuar postando novas imagens todos os dias dessa semana. Estou muito feliz com as pessoas espalhando isso. Eu adoraria ampliar este projeto, para colaborar com artistas, museus ou quem quisesse se envolver.

Siga o Dan Wilkenson no Twitter: @KeenDang