Como namorar gente de banda

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Música

Como namorar gente de banda

Quando a questão é namorar gente de banda, o melhor conselho provavelmente é: evite.
Emma Garland
London, GB
MS
Traduzido por Marcio Stockler

Artigo originalmente publicado no Noisey UK.

Em cima do palco e banhados de suor, músicos podem ser irresistíveis. Tem alguma coisa num ser humano empunhando um instrumento e exibindo o que ele sabe fazer com os dedos que conduz você a querer sentar na cara dele e, em algum momento, quem é fã de música já se apaixonou por algum baixista taciturno, tendo certeza de que a curva de sua clavícula ou a aptidão para escrever músicas era a solução para o deserto do Saara do romance moderno. Mas isso é olhar para a coisa com óculos de fã tingidos de rosa, por cima de olhos amaciados pela cerveja.

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Você já tentou manter um relacionamento com alguém que faz música? Não só a presença deles fora do palco é horrivelmente decepcionante, como também são das entidades mais egoístas e não confiáveis do planeta, perdendo apenas para os gatos de estimação. Músicos são uma merda, e das grandes.

Quando a questão é namorar gente de banda, o melhor conselho provavelmente seria: evite. Mas, se você de qualquer maneira precisa se apaixonar por aquele cara ou garota que deu uns tabefes no seu coração com sua pegada ao tocar um teclado-guitarra – e isso vai acontecer, porque o amor desconhece fronteiras, aqui vai um guia para navegar por cada fase do relacionamento, desde pedir o telefone até ficar pensando em como foi que tudo deu errado e ficar se masturbando/chorando enquanto ouve músicas escritas sobre você.

Chirpsing [é como a gente fala "dar em cima" na Inglaterra]

Se você conhece alguém que faz parte de uma banda e que também tem internet, então ficar alguns minutos lendo o Twitter do sujeito sentada no cubículo do banheiro deve dar uma ideia vaga dos interesses dele. Então, se você está meio com pressa de marcar a sua presença no radar, solte um monte de referências recentes (mas não recentes demais) que você sabe que ele vai entender – "Ai meu Deus viram aquele Broad City em que Abbi chapada dá a louca no Whole Foods?" Esse tipo de coisa. Suba no trem na conversação; primeira parada: entroncamento da piada interna.

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Seja como for, não se deixe intimidar. A maioria das pessoas "na estrada" mata o tempo se masturbando num quarto duplo num hotel tosco, ao lado de gente com quem dividiu uma van durante o dia inteiro, então eles estão basicamente a fim levar alguém pra cama sempre que possível.

Se o seu objetivo é mais do que apenas uma noite de diversão suada, então aqui vai uma dica de especialista: tente puxar algum assunto não relacionado à música. Se ele achar difícil falar sobre qualquer outro assunto, vire as costas e vá embora. Guarde no arquivo de causas perdidas. A menos que você ache atraente a ideia de discutir o feedback modulado de Metal Machine Music do Lou Reed pelo resto da sua vida.

Sexo

A coisa mais difícil que você tem que aceitar quando começa a namorar alguém da música é que basicamente tudo o que ele escreveu até hoje é sobre a ex. Todos os encontros via Tinder tarde da noite estão documentados nas músicas, e não só será pedido de você que apoie verdadeiramente a "arte" dele, porque esse é o seu trabalho agora, como também será preciso acompanhar as músicas com a cabeça nos shows, mesmo aquelas chamadas "Na Cama Ninguém É Melhor Que Você". Então o sexo ganha importância, porque você precisa ser lembrada como um tipo de feiticeira erótica, e não como a única que vomitou no colo dele pelado enquanto ele pensava em outra.

A linda ironia nisso tudo é que os próprios músicos costumam foder mal. Eles têm uma tendência a perder tempo selecionando "músicas para criar uma atmosfera" e uma tendência maior ainda de pegar aquele instrumento encostado num canto do quarto para usar como objeto de sedução. Eu poderia escrever um livro sobre quantas vezes essa última coisa aconteceu comigo, e ele se chamaria Medo e Repulsa no Meu Útero. A música deve permanecer no lugar dela: dentro dos limites de casas de espetáculos devidamente equipadas, a Broadway e documentários de guerra.

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Maravilha, vocês estão namorando! Espere nunca mais vê-lo

Ninguém mais compra música, então a maioria dos artistas ganha dinheiro (ou, o que é mais comum, dá um jeito de levar menos prejuízo) entrando numa van apertada e vendendo bolsas de pano por 15 dólares. Isso acontece muitas vezes por ano e dura entre um final de semana e dois meses. Então, o que fazer? Ir com eles e se transformar num objeto desesperado de ressentimento tanto para o seu amante quanto para a banda inteira? Ou não ir, e aceitar que você está sendo chifrada todas as noites durante um mês inteiro porque "o que acontece em Norwich fica em Norwich"? A resposta é, na verdade, a opção secreta número três: foda-se, arrume para você também uma vida radical, acho eu ¯\_(ツ)_/¯

Vocês só vão se ver nos shows de merda dele

Você inevitavelmente terá de comparecer a centenas de shows e quase nenhum deles será divertido, mas aqui vão algumas regras: enquanto eles estão longe, fazendo a passagem de som, um negócio que parece levar muitas horas, não fique de cara amarrada andando pra lá e pra cá na casa de shows, como se fosse a Grumpy Cat passando as férias com a família inteira; fique de boa. Quando o show começar, não fique na frente do palco tirando múltiplas fotos com zoom de você e seu namorado/namorada como uma mãe irritante num concurso de princesinhas. E não fique sentada num canto fazendo cara de bunda enquanto ele estiver ocupado demais para prestar atenção em você. Entre instalar todos os equipamentos, fazer o show propriamente dito, empacotar tudo de novo e tentar fazer com que o promoter não fuja com o dinheiro, você precisa aceitar que vai passar a maior parte da noite sozinha. Leve um livro. Descubra a senha do wi-fi. Encha a cara com um desconhecido. O que for necessário para passar o tempo.

Ele/ela vai arruinar todas as suas bandas favoritas

Pare um pouco para lembrar de todas as coisas que você curte na música hoje, porque alguns meses dormindo com um músico é algo que lentamente vai corroendo todas elas. Quer seja falando mal recreativamente da música pop, destruindo os discos que foram responsáveis pelo vínculo entre vocês ao explicar suas complexidades com um detalhamento exaustivo, ou minando você sutilmente ao desligar seu iPod do som do carro e colocar o dele no lugar sem pedir permissão, esteja preparada para sacrificar tudo o que você amou um dia sobre a grande e significativa experiência que é o som. Por natureza, as opiniões e hábitos deles serão mais opressivos do que um inverno canadense, mas tente impedir que influenciem demais os seus, ou o relacionamento estará fadado à ruína. Um músico me forçou a ouvir The National por um ano inteiro, e o único efeito que isso teve foi me fazer destrambelhar num surto sincero porém de curta duração de ouvir powerviolence. Não é necessário dizer que nos separamos devido a diferenças de estilo.

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A deterioração

Você talvez tenha conseguido ser o objeto exclusivo de atenção dele durante mais ou menos o primeiro mês do relacionamento, mas depois disso ele vai parar de reparar quando você entra na sala, porque está ocupado colocando alguma coisa em loop no Garageband, e vai presumir que você vai organizar a sua vida em torno da agenda de gravações. Na maior parte do tempo, esse tipo de indiferença insana pelos sentimentos da outra pessoa não é intencional – eles simplesmente não conseguem evitar. A maioria dos músicos está profundamente concentrada naquilo que faz, o que é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição para todos os envolvidos. Em última análise, o músico sempre vem em primeiro lugar no relacionamento, a música em segundo e você em terceiro. E como a música não é uma entidade física, você não pode nem jogar seu drink na cara dela e chamá-la de piranha.

Outras babaquices que músicos fazem

- Começar uma briga com você para ter assunto para a próxima música.

- Só comer merda, morar numa merda de apê, gastar R$ 3.000 numa quarta guitarra.

- Comentar como todo mundo no X-Factor canta num tom monótono (o que é verdade, mas por isso que é bom)

- Se recusar a ir a qualquer show em que não consigam entrar na lista de convidados.

- Obrigar você a ir num show às duas da tarde de um domingo.

- Reclamar de como é difícil trabalhar com música.

O término

O perfil do compositor "sensível" é um que se presta muito facilmente a fantasias totalmente fora da realidade e cheias de romance e aventura, enquanto a dura realidade costuma ser bem diferente. Só porque eles sabem se exprimir criativamente, não necessariamente significa que são os grandes campeões da empatia e comunicação. Muitas vezes, a concepção que têm do amor veio de roubar poemas de W.H. Auden e usá-los em suas letras, e não de experiências reais de vida. Então, se acontecer de as coisas não serem tudo o que você esperava, é bem possível que você mesma tenha se colocado no caminho do fracasso inevitável.

Algumas idiotas azaradas podem até mesmo namorar músicos realmente famosos, o que pode parecer a melhor e mais incrível coisa que já aconteceu na sua vida, até o momento em que acaba. Aí o seu processo de recuperação emocional será implacavelmente estragado pelo fato de que os pôsteres do disco dele pontilham todo o seu trajeto casa-trabalho todos os dias durante um ano inteiro. Dito isso, que se crie arte sobre ou por causa de você também deve ser uma das experiências humanas mais únicas nesse mundo, mesmo que os detalhes íntimos da sua vida acabem sendo cantarolados por uma turba de bêbados em Glastonbury. Talvez tudo termine empatado, mesmo que ele tenha te ignorado por uma semana inteira e você tenha substituído todos os presets no teclado Casio dele por barulhos de peido.

Espera… Vocês dois trabalham com música e estão namorando?

Se esse for o caso, por favor se sinta à vontade para ignorar todos os conselhos acima. Ou os seus egos vão neutralizar um ao outro e vocês viverão felizes para sempre como um super casal, ou então as carreiras de ambos serão enriquecidas por um jogo estilo Justin versus Britney para ver quem supera quem. Todo o poder para você.

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