FYI.

This story is over 5 years old.

Música

POR ODIN, CÊ TÁ PENSANDO QUE SOU LOKI?!

No último domingo aconteceu em São Paulo o Thorhammerfest, festival que reuniu bandas da cena viking metal da América Latina. Com uma câmera tosca na mão e a menor ideia do que iria encontrar na cabeça, esta ex-headbanger que vos escreve se meteu em um Manifesto Bar lotado para conferir o peculiar evento.

Para quem está se perguntando "que porra é essa de viking metal?!", já aviso que, como acontece com todo sub sub sub gênero musical, é preciso fazer um contorcionismo mental para entender do que se trata. Cecil Forlenza, organizador do festival, me explicou que é um gênero vindo do death metal cujas letras tratam da mitologia viking e são cantadas em línguas nórdicas. O estilo também se diferencia pelo uso de instrumentos como violino e flauta.

Publicidade

O viking metal possui dois "irmãos": o pagan metal (descendente do black metal) e o folk metal (estilo mais alegre e festivo, fruto da união da música folclórica escandinava com o metal). Apesar da distinção entre os três, para descrever o som de algumas bandas é preciso criar compostos como "folk viking", "viking pagan" e até um improvável "pagan folk". Se a ideia de "black metal alegre e festivo" não foi suficiente para dar uma cãibra nos seus neurônios, saiba que o Amon Amarth, tido como um dos principais grupos de viking metal, na verdade é "death metal melódico com temática viking", já que não usa instrumentos folclóricos e as letras são em inglês.

O disco que pode ser considerado o primeiro registro de viking metal é Hammerheart, lançado em 1990 pelo Bathory – que também não usava instrumentação folclórica, cantava em inglês e ainda por cima era uma banda de… black metal. Nenhuma pesquisa ainda foi feita, mas a porcentagem da Humanidade capaz de entender isso deve ser menor do que aquela capaz de lamber o próprio cotovelo.

Com esse modelito ideal para os trópicos, o robusto mestre de cerimônias anuncia o início do festival. O chifre grande é uma espécie de berrante, e os que estão dependurados são os drinking horns, tradicionais copos feitos de chifre de boi. E falando nisso, a imagem do viking usando um elmo com cornos é uma invenção dos cristãos, que queriam relacioná-los ao diabo. Malditos cristãos, que não gostavam dos vikings porque eles eram pagãos e acreditavam que o paraíso (Valhalla) é um lugar onde todo mundo enche a cara e se diverte. Malditos cristãos!

Publicidade

A noite começou com a apresentação do grupo Taberna Folk, cujo repertório é todo baseado em canções medievais, celtas e vikings. Nada de guitarras distorcidas: aqui há somente espaço para violões, violino, percussão e flautas diversas, incluindo uma feita com o quase onipresente chifre de boi. Já o recipiente de vidro no chão não é um instrumento musical, mas sim uma garrafa de hidromel, que o vocalista, violonista e flautista Ricardo Amaro secou durante a apresentação – se tem uma coisa que os vikings de ontem e de hoje adoram é beber.

Esses caras são do Hednir – Viking Reenactment Project, clã que se reúne para estudar mitologia nórdica, confeccionar artigos como drinking horns e armaduras e encenar batalhas vikings. Quando se apresentam em locais espaçosos, as lutas são feitas sem ensaio e as machadadas comem soltas. Como aqui o palco era pequeno e ficava muito próximo do público, eles tiveram que coreografar partes das brigas e maneirar na pancadaria – mesmo assim, lascas de madeira não paravam de voar dos escudos.

Sei que a ideia não era essa, mas não consigo olhar para esses dois sem lembrar de Hagar e Helga.

Renato Santos, flautista e vocalista da banda SkaldicSoul, de Jundiaí. Por algum motivo que até Odin desconhece, há uma pequena, porém unida, cena viking metal na região de Campinas e Jundiaí.

Surt, vocalista do Hugin Munin, agitando a horda e provando que não é preciso ter cabelo até a bunda e barba até o umbigo para ser um guerreiro viking. No fim do show, ele propôs um brinde à moda antiga e berrou "Odiiiiiiiin!" com uma garrafa de Brahma na mão. Pós-modernidade é isso aí.

Depois ainda teve o show dos argentinos do Einher Skald, mas a essa altura do campeonato a bateria da câmera já tinha ido para o espaço. Eles parecem ser conhecidos dentro da cena viking, já que têm até um hit ("Drinking in Valhalla"), cantado em coro pelo público.

Balanço da noite: uma cotovelada na cabeça, várias cabeladas na fuça, surdez temporária e a impressão de que não vou ouvir alguém gritar "Toca Raul! Toca Burzum!" de novo tão cedo. Pelo menos não até janeiro, quando rola o Thorhammerfest 2. Odiiiiiiin!

TEXTO E FOTOS RAQUEL SETZ