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Desporto

A história das 13 mulheres que atravessaram a Índia a promover o skate

A primeira skater profissional indiana, Attita Verghese, organizou uma digressão de skate para raparigas no seu país: a Girls Skate India Tour (GSI). A viagem resultou num documentário.
Todas as fotos por Fabienne Karmenn e Virginia Fernandes

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Sports.

Há uns meses, a primeira skater profissional da Índia, Attita Verghese, organizou a primeira digressão de skate para mulheres no seu país: a Girls Skate India Tour (GSI). Não demorou até que outras skaters de várias partes do Planeta se juntassem a ela.

É engraçado imaginar a cara das pessoas que viam estas raparigas a percorrer o país, desde Kovalam Beach - na ponta Sul da Índia - até ao centro do território, ao longo de um mês repleto de espectáculo e caos, em busca de skateparks onde pudessem praticar… e, ao mesmo tempo, numa tentativa de promover a prática da modalidade entre as mulheres.

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Para aqueles que, no entanto, não se contentam apenas em imaginar, toda a digressão ficou gravada e o filme já estreou em Bangalore, Melbourne, Lieja, Copenhaga, Marselha e Tel-Avive, as cidades das skaters que se juntaram à viagem.

Girls Skate India Tour - Teaser de Girl Skate India no Vimeo.

Pouco antes da estreia em Melbourne, Austrália, a VICE Sports teve a oportunidade de conversar com Monica Shaw, membro da GSI Tour.

Olá Monica! Diz-nos: qual é a ideia por trás da Girl Skate India Tour 2016?

Bem, a ideia foi da Atty. Julgo que, para ela, fazer uma digressão apenas com raparigas era um sonho. Estamos a falar da primeira skater profissional da Índia - e fundadora da associação Girl Skate India. Saiu tudo da cabeça dela. A partir do momento em que pensou nisto e graças ao poder da Internet, conseguiu entusiasmar todas as participantes, a começar por mim.

Como conseguiste juntar-te à digressão?

Na verdade foi uma mudança de planos à última hora… ou, se calhar, o destino, se acreditas nessas coisas. Tinha planeado passar um mês no Sri Lanka com uma amiga para fazer skate, documentar a cena local e encontrar skateparks em locais remotos. Tínhamos como objectivo escrever uma história e reunir fotos da viagem, mas a minha amiga acabou por não conseguir viajar.

Entretanto, dei-me conta de que esta viagem com mulheres começava a ter muita visibilidade no Facebook e pesquisei na internet se Colombo, onde eu estava, era muito longe de Trivandrum. Era um trajecto de uma hora. A partir daí foi tudo bastante simples. Contactei de imediato com Attita e juntei-me ao grupo.

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Não só pude cumprir o sonho de documentar o skate num país estrangeiro, como acabei por o fazer com mais 13 mulheres, sendo que só conhecia pessoalmente uma, a minha velha companheira de jornada Lisa Jacobs, de Paris.

Como é que foi a ligação entre todas durante a digressão?

A maioria já conhecia Attita, apesar de a cena do skate feminino na Índia ser muito pequena quando comparada com a masculina. No geral, foi uma oportunidade para fazer novas amizades através de interesses comuns… incluíndo as lesões e as quedas! (risos)

aprendemos todas alguma coisa. As alemãs, as francesas, as que fumam erva, as obcecadas com café, as amantes de cultura, as DJs, as que bebem… todas aprendemos a partir da partilha de experiências durante os longos trajectos de autocarro… e também quando tivemos de dormir em sítios bastante apertados.

Podes descrever-me o percurso?

Depois de passar o Natal sozinha a apanhar Sol no Sri Lanka, fui para Trivandrum, onde a digressão começou. As raparigas começaram a chegar uma a uma ao hotel situado junto à praia de Kovalam. Daí fomos para Bangalore, onde vive a Atty, para fazermos várias exibições. Depois seguimos para Goa, em busca de mais skateparks e terminámos em Hampi.

Passaram algum tempo no Kovalam Skate Club. Podes falar um pouco sobre isso?

Trata-se de uma escola em Trivandrum que tem um skatepark lá dentro. Se queres saber a minha opinião, digo-te que é provavelmente a escola mais fixe do Mundo. A filosofia ali é que, se realmente queres praticar skate, tens que ir às aulas e estudar.

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Têm clínicas médicas e refeições gratuitas, para que os jovens e as crianças mais desfavorecidos possam praticar, estudar e manterem-se saudáveis. demo-nos conta de que há ali muitas meninas a quem o skate desperta a atenção. Isto, num país onde, lembre-se, as opções desportivas para as mulheres são escassas, ou mesmo nulas.

Por outro lado, o skate na Índia está ainda pouco enraizado e, por isso, não há uma ideia preconcebida de quem deve praticar. Julgo que é por causa disso que não causa demasiado espanto ver uma rapariga a andar de skate. Se calhar isso até acontece mais em alguns locais no Ocidente.

O que é que esperas que as pessoas aprendam quando partilhas com o Mundo um projecto como este?

Durante a minha adolescência viajei muito para participar em competições e exibições nos Estados Unidos, Canadá, e Europa. Fazer parte disto acabou por ajudar-me a fechar um ciclo. Continuo a fazer o que gosto, mas agora de uma forma diferente.

Ao partilhar isto, talvez possa convencer mais mulheres a atreverem-se no mundo do skate e a explorarem outros países… ou mesmo que o façam nas suas garagens, ou à volta de casa, só para passarem um bom bocado. Creio que todas as minhas companheiras nesta aventura querem, através desta digressão, partilhar a alegria que sentem ao praticarem skate.