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Música

Discos: Muro

Um mix-CD abençoado.

Diggin’ Greensleeves
AWDR / LR2
10/10 O relógio marca 18:38 neste momento e o tempo que me vai tomar a escrita deste texto será provavelmente o suficiente para que DJ Muro tenha cá fora mais um ou dois discos. Senhor de uma discografia mais que extensa, Muro é também um dos nomes da linha da frente do diggin’ em todo o mundo. Se há um break por descobrir numa canção há muito esquecida numa cave, o mais provável é que Muro chegue a esse antes que o Sporting volte a ser campeão. Aliás, Muro é aquilo tipo de digger que era capaz de descobrir breaks onde a tua avó guarda as ceroulas. Não é portanto de admirar que os mais recheados catálogos sejam colocados ao seu dispor para que os possa explorar à vontade e a partir daí seleccionar o que lhe interessa para um mix-CD. As mãos de Muro estão mais que calejadas por todo o material que já misturou, mas é importante ressalvar o seu papel na recuperação de brilhante música boogie, funk, disco e as várias investidas pelo extenso catálogo da P-Vine. Agora chegou a vez de meter a Greensleeves Records a jeito de Muro e a única reacção que me ocorre pode ser resumida em duas letras: ui. Oferecer todos os ritmos jamaicanos da Greensleeves a Muro será quase o mesmo do que colocar uma bazuca no ombro do Chuck Norris do Força Delta. Recorrendo a uma comparação mais sóbria, diríamos que é um mix-CD abençoado pelo facto de ter a música certa nas mãos da pessoa certa. Há alguns anos DJ Spooky tinha feito algo muito semelhante com o catálogo da Trojan, no duplo In Fine Style: 50,000 Volts of Trojan Records, mas até esse colosso perde na luta com este Diggin’ Greesleeves. Assim acontece porque o critério e a articulação de Muro como DJ são, a todos os níveis, impressionantes. Reparemos, por exemplo, em toda a riqueza dos cinco minutos iniciais de Diggin’ Greesleeves: em primeiro lugar, entra o ritmo de “Children Children”, de Toyan, ao qual é impossível descobrir o menor sinal de envelhecimento, mesmo tendo sido criado há mais de trinta anos pelos Roots Radics (brilhante banda) e depois misturado por Scientist (o genial aprendiz de King Tubby). Depois surge “Ice Cream Love”, em versão dub, pela voz sagrada de Johnny Osbourne. Tudo isto vai sendo intercalado com as apresentações feitas por um verdadeiro toaster e não por um qualquer novo ídolo do reggae alemão. Passaram cinco minutos e estamos seguros de que a próxima hora será uma sova inacreditável de reggae-dub-dancehall (noção confirmada por infernais malhas de Eek-a-Mouse, Ranking Joe e outros tantos). O relógio marca 19:43 e este mix-cd do enorme Muro vai receber a segunda pontuação máxima que dei na VICE.