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Música

Nós precisamos das canções do Cody ChesnuTT e ele precisa de ti

Um tipo genuíno que faz música genuína.

É ingrata a relação que a música manteve com Cody ChesnuTT durante estes últimos doze anos. Se é verdade que ele deu tudo de si num monumental álbum duplo (de 2002) chamado

The Headphone Masterpiece

, o mesmo não pode ser dito da indústria que o deixou tantas vezes pendurado e sem o suporte necessário para lançar discos.

E hoje, talvez mais do que nunca,

The Headphone Masterpiece

faz absoluto sentido como um documento à frente do seu tempo pela forma como revela que a soul, o R&B e o hip-hop podem perfeitamente existir na sua forma mais lo-fi. Não me parece, contudo, que o disco revelasse as limitações da gravação caseira para responder a qualquer hype, até porque a estética lo-fi e a música negra eram, nessa altura, dois elementos incompatíveis perante a maioria dos ouvidos. A natureza de

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The Headphone Masterpiece

é, além disso, demasiado genuína para obedecer a outra coisa que não seja o impulso que Cody ChesnuTT sentia para contar histórias sobre a má vida e toda a quantidade de

bitches

, droga e falcatruas que essa envolve.

Habituado à rua,

Cody ChesnuTT

saberá umas quantas coisas sobre como um gajo é tantas vezes obrigado a virar-se como pode e não como quer. O fura-vidas que conhecíamos do tal disco quase lendário é agora um homem de família redimido e mais encontrado com Deus. Tem um novo álbum (

Landing on a Hundred

) por lançar e

iniciou um projecto online para que cada um possa contribuir para esse objectivo

a troco das mais variadas recompensas (a maioria envolve receber o disco autografado pelo próprio). A questão é: quantas vezes teremos a oportunidade de ajudar a produzir um disco do criador desse momento especialmente feliz que é “The Seed” (celebrizado numa grande versão dos Roots)? O Cody ChesnuTT merece. Eis-me então à conversa com um verdadeiro bacano que respondeu a tudo.

VICE:

Assim que ultrapassei a excitação de saber que irias lançar um novo álbum, ocorreu-me que a canção “I’m New Here” (o original do Bill Callahan e a versão do Gil Scott-Heron) poderia aplicar-se a este teu regresso. Foi assim que te sentiste? Dez anos parecem uma eternidade na música de hoje. Que mudanças verificaste ao regressar para lançar este novo disco?

Cody ChesnuTT:

Não, não foi isso que senti criativamente. Nunca senti que este novo disco representasse um “regresso”. Para mim era apenas a próxima fase do processo. As maiores mudanças que verifiquei, desta vez, estão relacionadas com todas as maneiras como a música pode ser distribuída hoje em dia. A forma de comprar música mudou completamente desde que lancei o meu último projecto.

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Ainda tendo o Gil Scott-Heron em mente, devo dizer que o The Headphone Masterpiece fascina-me também pelo modo como colocas a voz naquela fronteira cool entre o falar e o cantar. Desta vez, depois de passados tantos anos, sentiste uma vontade maior de experimentar novas maneiras de cantar?

Bem… As vozes do

The Headphone Masterpiece

eram bastante espontâneas, ou pelo menos uma boa parte delas. Geralmente procuro que o tom da canção dite a abordagem da minha voz. Por isso, sim, estou sempre pronto para tentar um estilo que esteja em sintonia com a canção.

O Masterpiece era realmente diverso, até na medida em que a tua voz partia em todas as direcções possíveis naquele gigantesco espectro soul / R&B / hip-hop.

Desta vez tentei cantar afinadamente e escolher com mais cuidado a colocação das minhas inflexões vocais.Queria mesmo que a minha voz soasse mais forte neste álbum.



É ingrata a relação que a música manteve com Cody ChesnuTT durante estes últimos doze anos. Se é verdade que ele deu tudo de si num monumental álbum duplo (de 2002) chamado

The Headphone Masterpiece

, o mesmo não pode ser dito da indústria que o deixou tantas vezes pendurado e sem o suporte necessário para lançar discos.



E hoje, talvez mais do que nunca,

The Headphone Masterpiece

faz absoluto sentido como um documento à frente do seu tempo pela forma como revela que a soul, o R&B e o hip-hop podem perfeitamente existir na sua forma mais lo-fi. Não me parece, contudo, que o disco revelasse as limitações da gravação caseira para responder a qualquer hype, até porque a estética lo-fi e a música negra eram, nessa altura, dois elementos incompatíveis perante a maioria dos ouvidos. A natureza de

The Headphone Masterpiece

é, além disso, demasiado genuína para obedecer a outra coisa que não seja o impulso que Cody ChesnuTT sentia para contar histórias sobre a má vida e toda a quantidade de

bitches

, droga e falcatruas que essa envolve.



Habituado à rua,

Cody ChesnuTT

saberá umas quantas coisas sobre como um gajo é tantas vezes obrigado a virar-se como pode e não como quer. O fura-vidas que conhecíamos do tal disco quase lendário é agora um homem de família redimido e mais encontrado com Deus. Tem um novo álbum (

Landing on a Hundred

) por lançar e

iniciou um projecto online para que cada um possa contribuir para esse objectivo

a troco das mais variadas recompensas (a maioria envolve receber o disco autografado pelo próprio). A questão é: quantas vezes teremos a oportunidade de ajudar a produzir um disco do criador desse momento especialmente feliz que é “The Seed” (celebrizado numa grande versão dos Roots)? O Cody ChesnuTT merece. Eis-me então à conversa com um verdadeiro bacano que respondeu a tudo.





VICE: Assim que ultrapassei a excitação de saber que irias lançar um novo álbum, ocorreu-me que a canção “I’m New Here” (o original do Bill Callahan e a versão do Gil Scott-Heron) poderia aplicar-se a este teu regresso. Foi assim que te sentiste? Dez anos parecem uma eternidade na música de hoje. Que mudanças verificaste ao regressar para lançar este novo disco?
Cody ChesnuTT: 

Não, não foi isso que senti criativamente. Nunca senti que este novo disco representasse um “regresso”. Para mim era apenas a próxima fase do processo. As maiores mudanças que verifiquei, desta vez, estão relacionadas com todas as maneiras como a música pode ser distribuída hoje em dia. A forma de comprar música mudou completamente desde que lancei o meu último projecto.



Ainda tendo o Gil Scott-Heron em mente, devo dizer que o The Headphone Masterpiece fascina-me também pelo modo como colocas a voz naquela fronteira cool entre o falar e o cantar. Desta vez, depois de passados tantos anos, sentiste uma vontade maior de experimentar novas maneiras de cantar?

Bem… As vozes do

The Headphone Masterpiece

eram bastante espontâneas, ou pelo menos uma boa parte delas. Geralmente procuro que o tom da canção dite a abordagem da minha voz. Por isso, sim, estou sempre pronto para tentar um estilo que esteja em sintonia com a canção.



O Masterpiece era realmente diverso, até na medida em que a tua voz partia em todas as direcções possíveis naquele gigantesco espectro soul / R&B / hip-hop.

Desta vez tentei cantar afinadamente e escolher com mais cuidado a colocação das minhas inflexões vocais.Queria mesmo que a minha voz soasse mais forte neste álbum.





Fico sempre parvo com a ambiguidade do que cantas na “5 On a Joyride”. Pode ser sobre tudo e isso é lindo. Não consigo, mesmo assim, evitar escutá-la agora sem concentrar-me mais na sua sensualidade, isto, claro, depois da canção ter sido utilizada naquela cena do Me and You and Everyone We Know, o filme da Miranda July. Como aconteceu isso?

Foi só mais um pedido de licenciamento típico. Nem sabia disso quando aconteceu. O meu ex-sócio garantiu os direitos. Só fiquei a saber depois do filme estar, há meses, no mercado…



Ficaste satisfeito com o enquadramento da canção no filme?

Nem por isso, porque, tal como disseste, a canção pode tratar de tudo o que imaginares. O ambiente da canção abriga imagens tão poderosas e tão cheias de inocência. Tê-la para sempre ligada às imagens do filme aniquila uma parte do gozo.





O que adoro na “5 On a Joyride”, e em muitas das faixas do The Headphone Masterpiece, é aquele aspecto cru e muito autêntico. A certa altura da “5” é até possível ouvir-te a engolir a saliva. Faz todo o sentido. Em relação a esse tempo, o que mudou na gravação do Landing on a Hundred?

Tal como já referi, muitas dessas primeiras vocalizações eram bastante espontâneas. Partiam de mim enquanto escrevia as canções e tentava assentar a ideia no papel. O desenvolvimento deste disco foi diferente: gravei muitas das minhas vozes, mas desta vez não estava sentado no meu quarto. Parti para um novo espaço, para um estado mental diferente. Acredita que me empenhei muito mais nestas novas vozes.



Estas novas canções tiveram de percorrer também algumas versões demo antes de chegarem ao disco final?

Existem algumas coisas que passaram da demo para o álbum. Algumas baterias aqui, algumas partes de guitarra ali.



Sentiste alguma daquela vibração do Al Green ao gravar nos Royal Studios, por onde ele também passou em tempos?

Sim, aquele seu espírito… O espírito de uma era esteve sempre presente. Sentimos isso assim que entrámos no estúdio.



A canção “Everybody’s Brother” lembrou-me do documentário Gospel according to Al Green. Já o viste, certo? O que te pareceu?

Achei que era um documento fantástico de um homem em transição. Bateu-me forte porque consegui identificar-me com aquela luta relacionada com a busca de um equilíbrio entre o espiritual e o secular. Al Green, o homem e o artista, é uma luz. A sua voz e escrita fazem com que passe a ser um familiar teu enquanto o escutas. Ele é grande.



Não quero parecer moralista e “Bitch, I’m broke” é uma das minhas malhas favoritas, mas ainda te sentes à vontade a cantá-la num concerto ou é pouco estranho nesta altura?

Na verdade, nunca a toquei. E, sim, essa estranheza acontece, mas apenas quando tenho de me dirigir a um membro do público que a tenha pedido para o informar, com muito jeitinho, que essa canção não encaixa no espírito do

Landing On a Hundred

.

Fico sempre parvo com a ambiguidade do que cantas na “5 On a Joyride”. Pode ser sobre tudo e isso é lindo. Não consigo, mesmo assim, evitar escutá-la agora sem concentrar-me mais na sua sensualidade, isto, claro, depois da canção ter sido utilizada naquela cena do Me and You and Everyone We Know, o filme da Miranda July. Como aconteceu isso?

Foi só mais um pedido de licenciamento típico. Nem sabia disso quando aconteceu. O meu ex-sócio garantiu os direitos. Só fiquei a saber depois do filme estar, há meses, no mercado…

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Ficaste satisfeito com o enquadramento da canção no filme?

Nem por isso, porque, tal como disseste, a canção pode tratar de tudo o que imaginares. O ambiente da canção abriga imagens tão poderosas e tão cheias de inocência. Tê-la para sempre ligada às imagens do filme aniquila uma parte do gozo.

O que adoro na “5 On a Joyride”, e em muitas das faixas do The Headphone Masterpiece, é aquele aspecto cru e muito autêntico. A certa altura da “5” é até possível ouvir-te a engolir a saliva. Faz todo o sentido. Em relação a esse tempo, o que mudou na gravação do Landing on a Hundred?

Tal como já referi, muitas dessas primeiras vocalizações eram bastante espontâneas. Partiam de mim enquanto escrevia as canções e tentava assentar a ideia no papel. O desenvolvimento deste disco foi diferente: gravei muitas das minhas vozes, mas desta vez não estava sentado no meu quarto. Parti para um novo espaço, para um estado mental diferente. Acredita que me empenhei muito mais nestas novas vozes.

Estas novas canções tiveram de percorrer também algumas versões demo antes de chegarem ao disco final?

Existem algumas coisas que passaram da demo para o álbum. Algumas baterias aqui, algumas partes de guitarra ali.

Sentiste alguma daquela vibração do Al Green ao gravar nos Royal Studios, por onde ele também passou em tempos?

Sim, aquele seu espírito… O espírito de uma era esteve sempre presente. Sentimos isso assim que entrámos no estúdio.

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A canção “Everybody’s Brother” lembrou-me do documentário Gospel according to Al Green. Já o viste, certo? O que te pareceu?

Achei que era um documento fantástico de um homem em transição. Bateu-me forte porque consegui identificar-me com aquela luta relacionada com a busca de um equilíbrio entre o espiritual e o secular. Al Green, o homem e o artista, é uma luz. A sua voz e escrita fazem com que passe a ser um familiar teu enquanto o escutas. Ele é grande.

Não quero parecer moralista e “Bitch, I’m broke” é uma das minhas malhas favoritas, mas ainda te sentes à vontade a cantá-la num concerto ou é pouco estranho nesta altura?

Na verdade, nunca a toquei. E, sim, essa estranheza acontece, mas apenas quando tenho de me dirigir a um membro do público que a tenha pedido para o informar, com muito jeitinho, que essa canção não encaixa no espírito do

Landing On a Hundred

.