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Não Consigo Decidir se Quero Ter um Escravo Sexual

Será mesmo que vale a pena dominar homens sexualmente?

Finalmente, descobri meu tipo de homem. Depois de muitos anos sem ter a menor ideia do que eu estava fazendo, agora eu entendi. Acontece que gosto do tipo de cara ansioso para me satisfazer, me deixar mandar na relação, me elogiar com frequência e me deixar sentar na cara dele sem esperar nada em troca.

Eu tenho um fetiche.

Nunca achei que tivesse um, mas, quando algo que te atrai exige que você se junte a uma "comunidade" ou a "indivíduos de mente parecida", isso é uma baita pista de que você está no território das preferências sexuais incomuns. Não dá pra ter um encontro fofo com um amante em potencial num café. Quer dizer, talvez sim, mas é meio difícil mencionar dominação feminina para alguém que você acabou de conhecer – especialmente se ele não cala a boca sobre o terceiro rascunho do roteiro inovador que ele está escrevendo.

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Dominação feminina, em sua definição simples, é uma relação conduzida pela mulher. Eu não tinha a menor ideia de que era isso que eu queria até encontrar um cara no Tinder que queria ser meu escravo sexual. Pode usar isso como história de sucesso nas suas propagandas, Tinder.

Antes de conhecer o Winston (não é o nome verdadeiro dele), eu tinha mais ou menos a mesma ideia que todo mundo tem sobre dominação e submissão. A dom, ou dominatrix, sempre usa couro e aqueles sapatos de salto impossíveis de andar. Ela tem um chicote para bater e humilhar homens quando quer que eles a obedeçam. E isso não está errado. Na verdade, no ano passado, participei de uma oficina de dominação financeira que fez mais para reafirmar essas crenças do que para as descartar. Mas foi só quando conheci Winston que aprendi que há mais na dominação feminina do que tapas na bunda e mordaças.

Winston (estou me arrependendo de ter chamado ele assim) e eu saímos por uma semana antes de qualquer conversa sobre dom/sub. Mas eu sabia que tinha alguma coisa ali. Às vezes, eu pedia que ele me levasse em algum lugar, e ele dirigia sem reclamar. Ele fazia o jantar e massageava os meus pés sem eu ter de pedir. Coisas que fui percebendo que eram fora do normal.

Antes do Winston, namorar era difícil. Eu lutava para conseguir qualquer tipo de afeição genuína dos meus supostos namorados, que muitas vezes me ignoravam e nunca faziam do relacionamento uma prioridade. Os homens nunca correram atrás de mim como eu corria atrás deles, e isso fazia eu me sentir um monte de merda. Quando um cara mostrava algum sinal normal de afeição, eu achava que ele era estranho: "Espera, você quer segurar minha mão? Em público? Qual é o seu problema? Você é um serial killer?".

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Cheguei a um ponto no qual achei que namorar não era pra mim. Eu estava cansada de procurar homens e queria me devotar a trabalhar a mim mesma. Fora de relacionamentos, eu era uma pessoa diferente – muito mais confiante e com muito mais autoestima. Por muito tempo, me convenci de que, se eu entrasse num relacionamento, eu perderia essa pessoa.

Na verdade, Winston aconteceu por acidente. Achei que era uma boa ideia treinar para não perder a prática em encontros, sendo essa a principal razão para manter minha conta no Tinder. Eu me surpreendi quando começamos a sair – e me surpreendi ainda mais em não achar a adoração dele um sinal de bizarrice.

Uma noite, depois de beber uma garrafa inteira de vinho juntos, nossa conversa acabou entrando em BDSM. Ele aproveitou a oportunidade para me dizer que queria ser dominado. Estar bêbada me deu a autoconfiança para tentar. Fomos diretamente à minha cama, e eu comecei a repreendê-lo. Não lembro exatamente o que eu disse, mas foi essencialmente "Seu pinto é pequeno e você é um lixo de pessoa". Como sou muito boa com palavras, Winston teve uma bela ereção. Eu não sabia muito bem o que fazer depois; então, achei que devia dar umas palmadas nele por "ser mau". Senti-me desconfortável por dizer isso, porque nós dois sabíamos que ele não tinha feito nada para merecer uma punição. Se ele perguntasse por que estava sendo punido, não sei o que eu teria dito. "Hum… por dizer que achava Frasier chato?"

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Procurei pelo quarto alguma ferramenta de punição. Minha busca eventualmente resultou num chinelo. O momento "a-ha" que tive nesse instante me fez sentir como uma mulher das cavernas, descobrindo que uma simples pedra podia abrir uma castanha dura. De certa maneira, eu estava mesmo "abrindo uma castanha". Não. Esquece que eu disse isso.

Quando as chineladas começaram, Winston ficou exultante. Sua fantasia estava finalmente se realizando. Eu, por outro lado, estava me sentindo OK com tudo aquilo. Eu não estava gostando particularmente da linguagem forçada e extremamente brega de "Você foi um mau menino". Nem curti a violência física, o que me deixou surpresa. Na verdade, o que me excitou foi ver que ele estava excitado. Percebi que o que me excitava era ser a pessoa que um homem escolhe para explorar seu fetiche. Era como se eu fosse uma encantadora de fetiches.

Winston e eu continuamos saindo por alguns meses. Comprei brinquedos para ele: uma mordaça, algemas e um anel peniano. E, por mais que eu desdenhasse dessa parte da nossa dinâmica dom/sub, eu falei a mim mesma que isso era necessário. Eu estava gostando de fazer exigências, de ser servida e de ser dona do pênis dele. Quando não estávamos juntos, estabelecemos que ele tinha de me mandar uma mensagem pedindo permissão quando quisesse se masturbar. A única vez que isso não me excitou foi quando ele me escreveu às 7 da manhã. "Sério, cara? Você não quer tomar café antes?"

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Uma noite, no caminho para o banheiro, escorreguei na mordaça que estava no chão do quarto e caí de bunda. Admito, foi um tombo engraçado. Pareceu algo saído de uma versão pornô dos Três Patetas, que, pelo amor de Deus, espero que não exista. No entanto, também foi o ponto em que acordei. Passei o dia seguinte pensando no que eu estava fazendo. Estou realmente sendo a dominadora se sigo os desejos dele? Eu não sabia se estava realmente curtindo isso ou se estava novamente pondo os sentimentos da outra pessoa na frente dos meus. Terminei com o Winston alguns dias depois.

Fiquei completamente perdida. Se eu não era uma dominatrix, o que eu era então? Não saber se eu curtia mesmo BDSM resultou numa verdadeira crise existencial. Aí fui visitar minha mãe num final de semana. Vi-a gritar com o meu padrasto por não assar os hambúrgueres direito. Pensei na minha avó e em como ela era com o meu avô. Foi quando pensei: "Talvez eu seja uma dominatrix. Talvez eu seja uma mulher judia finalmente encontrando seu destino!".

Deixei isso quieto por vários meses. Até algumas semanas atrás, quando recebi uma mensagem de um cara que queria que eu o dominasse financeiramente. Eu não fazia a menor ideia de quem ele era, mas contei a verdade: eu não tinha certeza se essa coisa de dominação era certa para mim. Expliquei que eu não gostava de humilhar os submissos, e a resposta dele foi chocantemente entusiasmada. Ele afirmou que preferia não ser humilhado, reiterando que só queria que eu recebesse o dinheiro e os presentes dele. Bom, nesse caso…

Dei uma chance à dominação financeira e me dei um juicer chique, além de um par de sapatos fofos via cartões de presente. Ainda não sei exatamente quem esse cara era. Eu sabia que ele não tinha muito dinheiro; então, decidi terminar. Mesmo ele ficando excitado por me dar coisas, eu não queria ser a responsável por sua falência. Mas isso me inspirou a fazer uma conta no Fetlife. Escrevi explicitamente no meu perfil que queria dominar, mas não humilhar ou me envolver em tortura física. Uma série de mensagens apareceram na minha caixa de entrada. Vários homens submissos tinham respondido que preferiam não ser humilhados ou que estavam de acordo com os meus termos. Meus termos. Dã.

Agora, estou imersa nesse mundo mais uma vez – e, dessa vez, com uma ideia melhor do que estou realmente fazendo e do que realmente quero. Se não fosse pelo Winston, eu nunca teria mergulhado em dominação e submissão. As coisas não deram certo entre a gente, mas agora sei que dominação feminina não tem nada a ver com seguir um conjunto de regras específicas, e que, em algum lugar por aí, existe um sub perfeito para mim. Tanto em forma humana como em forma de sanduíche.

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Tradução: Marina Schnoor