As Pessoas e as Fábricas Clandestinas por Trás da Maior Feira Têxtil da Argentina

FYI.

This story is over 5 years old.

Fotos

As Pessoas e as Fábricas Clandestinas por Trás da Maior Feira Têxtil da Argentina

A fotógrafa alemã Sarah Pabst trabalhou com o sociólogo Matías Dewey para entender a vida das pessoas trabalhando em La Salada e nas fábricas clandestinas da capital argentina.

Um estande vendendo jeans em La Salada. Todas as fotos por Sarah Pabst.

La Salada é a maior feira têxtil informal – e ilegal – da Argentina. Imigrantes bolivianos vêm à feira na esperança de encontrar emprego e fazer dinheiro rápido. Mas a realidade é que muitos acabam empregados nas fábricas clandestinas das favelas de Buenos Aires.

A fotógrafa alemã Sarah Pabst trabalhou com o sociólogo Matías Dewey para entender a vida das pessoas trabalhando em La Salada e nas fábricas clandestinas da capital argentina. Ela falou com a VICE sobre essa experiência de intersecção entre fotografia e sociologia.

Publicidade

VICE: Qual foi seu primeiro contato com La Salada?
Sarah Pabst: Meu primeiro contato foi em alemão quando encontrei o sociólogo argentino com quem fiz o projeto. Ele disse que seria legal tornar a história mais acessível através da fotografia, e foi assim que comecei a tirar as fotos.

Para você, qual a ligação entre sociologia e fotografia?
Acho que as duas disciplinas têm uma abordagem similar. Queríamos contar a história dessas pessoas e o quanto elas trabalham duro para garantir um futuro melhor para os filhos. Não queríamos mostrar apenas pobreza, apesar de isso estar presente no ambiente. Você pode facilmente cair no estereótipo da América Latina sufocada na miséria mostrada através das lentes de um ocidental, mas não queríamos falar sobre isso.

Muitas das pessoas trabalhando nas fábricas clandestinas de La Salada são bolivianas. Por que há tantos imigrantes da Bolívia em La Salada?
Eles acham que isso é o sonho americano, porque você pode ficar rico muito rápido lá. Todo mundo com quem falamos tinha esperança de garantir seu futuro. A Bolívia é muito pobre e Buenos Aires parece "a cidade grande", o lugar aonde você sonha ir para ganhar a vida, porém não é tão fácil assim.

Uma boliviana amamenta o filho enquanto trabalho num estande.

Quem são os compradores dessas roupas?
La Salada é uma feira de roupas baratas. É um grande mercado têxtil de cópias de marcas famosas. A maioria dos compradores são revendedores que vêm de todo o país de ônibus para abastecer suas lojas. E tudo é pago em dinheiro; então, você pode imaginar quanta grana circula ali todo dia.

Publicidade

Logo, isso é um produto da indústria da moda?
Sim. Seja lá o que estiver na moda, é o que todo mundo vende e compra, aí o mercado se satura e as pessoas precisam se reinventar. Houve um tempo em que camisetas com estampas em strass eram o hit: alguém começou a fazer isso primeiro e ganhou muito dinheiro. Aí todo mundo começou a fazer isso – e a coisa degringolou.

Muitas das roupas produzidas são versões piratas de marcas famosas.

Os estandes e as fábricas que os abastecem são operações de grande porte. Há muita segurança?
A segurança fica por conta do submundo criminoso. Cada mercado tem sua própria segurança, que controla tudo para que as pessoas paguem o aluguel e não roubem. Cada marca falsa paga muito dinheiro para a polícia. Em alguns dos mercados, os seguranças andam pesadamente armados.

Como você teve acesso?
Falamos com os donos dos mercados. Os chefões do submundo tipicamente são muito charmosos e simpáticos. Eles nos convidaram para o festival boliviano e foram nossos guias nos mercados.

Entrevista com Laura Rodriguez Castro. Siga-a no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor

O segurança de um mercado.

Ônibus lotados de sacoleiros chegam à feira todos os dias.

A segurança é particular e geralmente fornecida por figuras do submundo local.

Os bolivianos chegam à feira esperando fazer dinheiro rápido.

Os estandes apertados em La Salada.

A feira é a maior do tipo na América do Sul.

Os estandes são abastecidos com as roupas feitas em fábricas clandestinas.

A feira começa a lotar logo que o sol nasce.