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A Reintegração Violenta da Ocupação Cais José Estelita

Estava tudo muito bom para ser verdade.

Crédito das fotos: Marcelo Soares/Direitos Urbanos.

Estava tudo muito bom para ser verdade. Desde o dia 21 de maio, ativistas ocupavam o terreno do Cais José Estelita, no Recife, lembra? A organização do grupo já rendia frutos, como negociações entre a Prefeitura, construtoras do Consórcio Novo Recife (Queiroz Galvão, Moura Dubeux, GL Empreendimentos e Ara Empreendimentos) e órgãos estaduais, com reuniões marcadas para que fossem apresentadas propostas de redesenho do projeto. O Ministério Público intermediava uma possível desocupação pacífica. Mas não foi isso o que aconteceu.

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Cerca de 50 pessoas estavam no acampamento quando, por volta das cinco horas da manhã, 150 integrantes da Polícia Militar, Batalhão de Choque e Cavalaria entraram no local para realizar a reintegração de posse. É de praxe que, em situações como essa, um representante do Ministério Público acompanhe o oficial de justiça para tentar um diálogo com os ocupantes e minimizar qualquer uso da força. Mas o Ministério Público não foi sequer avisado da reintegração (leia a nota oficial do MP aqui) — o que já torna a operação irregular.

A polícia chegou dando cinco minutos para que todos deixassem o local e proibiram a entrada dos advogados do grupo. Mesmo na presença de crianças e gestantes, daí para frente foi só tiro de borracha, porrada e bomba de gás lacrimogênio nos manifestantes, que resistiam pacificamente. Os grupos ainda correram para os trilhos de trem, que são de domínio da União e só poderiam ter intervenção federal, mas isso não impediu que a polícia fosse para cima deles, atingindo as pessoas até com os chicotes da cavalaria.

Não satisfeitos, eles destruíram as barracas de instalações do acampamento, inutilizaram alimentos e confiscaram equipamentos eletrônicos. Enquanto isso, o presidenciável Eduardo Campos, que deixou o governo de Pernambuco nas mãos do vice João Lyra, publicava em seu twitter a seguinte mensagem: "Não se governa uma nação sem ouvir as pessoas. A boa política é feita sempre com muito diálogo e transparência em todos os momentos".

Mesmo com a saída dos ocupantes da área, a confusão continuou do lado de fora durante toda a tarde. Muitas pessoas se dirigiram ao local depois de verem postagens de vídeo e fotos nas redes sociais. Enquanto se reagrupavam embaixo do viaduto Capitão Temudo, o grupo foi surpreendido por mais bombas de gás e balas de borracha, sendo encurralado de forma truculenta e agressiva. O saldo, no final do dia, foi de seis detenções e inúmeros feridos. Ontem, o R7 noticiou que o Ministério Público de Pernambuco vai investigar os excessos da PM. Agora, a ocupação resiste com estrutura precária e precisa de doações de mantimentos e itens de primeiros socorros.

As doações devem ser feitas no local.