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Depois de Cinco Meses de Ocupação, a Tropa de Choque Grega Fechou a ERT

Após ser fechada, transferida para a internet e libertada das restrições de ser uma transmissora do estado, os jornalistas da ERT usaram a oportunidade para criticar pesadamente o governo. Daí o despejo.

A polícia do lado de fora do prédio da ERT em Atenas.

Em junho, o governo grego tentou, mas não conseguiu, fechar a ERT, o equivalente a TV Cultura do país. Na época, não muito entusiasmados com a perspectiva de demissão em massa, os jornalistas e técnicos recém-desempregados ocuparam os estúdios da estação e continuaram a transmitir, 24 horas por dia, pela internet. A equipe conseguiu ficar no controle do prédio por cinco meses, até que — seguindo ordens do primeiro-ministro Antonis Samaras — a tropa de choque invadiu o local na madrugada de quinta-feira e escoltou todo mundo para fora.

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O despejo veio depois de algum planejamento estratégico do governo: após ser fechada, transferida para a internet e libertada das restrições de ser uma transmissora do estado, os jornalistas da ERT usaram a oportunidade para criticar pesadamente o governo grego.

Para contornar essa questão, o governo decidiu que seria mais fácil estabelecer uma nova transmissora estatal, a Dimosia Tileorasi. Depois de fazer isso, eles tiraram a licença de transmissão da ERT, proibindo efetivamente  qualquer transmissão do antigo grupo e abrindo espaço legal para a desocupação.

O radiojornalista Nikos Tsimpidas, a última pessoa a transmitir pela ERT.

O apresentador Nikos Tsimpidas realizou a última transmissão do prédio na noite do despejo. O jornalista de 35 anos foi acordado por um colega por volta das 4 da manhã e alertado sobre a chegada da tropa de choque. Ele então correu para o estúdio e transmitiu por cerca de 25 minutos antes de ser preso.

Imagens das câmeras de segurança mostram policiais à paisana do lado de fora do estúdio enquanto Tsimpidas dizia: “Por tudo que tentamos defender e não pudemos, agora não é hora de se perguntar por quê; agora é hora de levantar nossas defesas mais uma vez, por nossa dignidade e honra. E lembrem-se: assim que este microfone silenciar, o que você ouvirá não será sua voz — não será a voz dos empregados da ERT. Eles me deram a ordem para parar de falar. Vamos encerrar por aqui. Nós nos encontraremos de novo”.

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Uma imagem da câmera de segurança mostra a tropa de choque entrando no prédio da ERT enquanto o último programa era transmitido.

Enquanto a multidão se reunia para protestar, Nikos me disse: “Isso é muito diferente do que você pode imaginar. Quer dizer, quando me tornei jornalista, não imaginei que um dia uma unidade da tropa de choque entraria no meu estúdio, pararia na minha frente — enquanto eu estivesse no ar —  e me daria ordem para terminar a transmissão”.

Cinco parlamentares do SYRIZA, o partido de oposição de esquerda, estavam entre as duas mil pessoas reunidas do lado de fora do prédio quando Tsimpidas foi levado para fora. Um dos políticos, Nikos Voutsis, tentou entrar no prédio, mas teve o pedido negado.

Funcionários da ERT choram enquanto o prédio é desocupado.

A Grécia parece estar entrando numa nova crise política. Em resposta ao ataque a ERT, a SYRIZA apresentou uma moção pelo fim do voto secreto contra a coalizão do governo. O líder do partido, Alexis Tsipras, disse no parlamento: “Noite passada vocês invadiram uma transmissão pública, desafiando qualquer procedimento legal. Amanhã, vocês vão mandar a polícia despejar as pessoas de suas casas, por causa de hipotecas que não podem ser pagas, só porque a Troika exige que vocês façam isso”.

As notícias que chegam da Grécia certamente não são as que se esperam de um estado democrático funcional. Nos próximos três dias, a moção apresentada pela oposição será discutida no parlamento, alimentando tensões que vêm crescendo exponencialmente nas últimas semanas, especialmente depois do assassinato de dois membros da Aurora Dourada por desconhecidos.

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A merda está prestes a atingir o ventilador novamente. No entanto, infelizmente, para o povo grego, o fechamento da ERT significa que não há mais uma voz independente para dizer exatamente onde essa merda toda acaba.

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