FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Nem Pássaro, Nem Avião

É o Layonman! Um ser superior que, mais bonito, gostoso e forte, cheio de glória, poder, força, alegria, paz e amor, veio de uma galáxia distante, numa espaçonave sideral, para restabelecer a justiça sobre a Terra.

É o Layonman! Um ser superior que, mais bonito, gostoso e forte, cheio de glória, poder, força, alegria, paz e amor, veio de uma galáxia distante, numa espaçonave sideral, para restabelecer a justiça sobre a Terra. Se você acha que já viu isso na TV Manchete, tá errado. Laionmen (também ‘conhecido’ assim graças à já existência de um Lion Man), um anti-herói herói guerreiro não-ninja, a alegria da galera, é a identidade secreta do músico Oldair Valduga, o gaúcho por trás da banda de um homem só batizada… The Layonman. Aliás, esse papo todo de força, prestígio e delícia foi ele mesmo quem lançou. Tá numa música dele chamada… Layonman. Antes de continuar, ouça (aqui e aqui) o som dele.

Publicidade

Acontece que essa é só uma das quase “100” faixas já escritas pelo cara, nenhuma delas até hoje publicada em álbuns. Entende-se, afinal ele é muito “radical”. Do tipo que abandonou a escola, já cagou para o mundo e foi morar na roça, canta e compõe se lixando para os cânones e ainda tem a pachorra de chacoalhar os baluartes do establishment com referências a satanás (“vem meu Diabo, vem / Satanás, o demônio / entre em meu corpo / seja um comigo”), recados às hóstias de terceiros (“o papa vai tomar no cu / os bispos vão tomar no cu / os viados vão tomar no cu”) e cacófatos (“Mary Jane / confundindo minha mente / embananando minha vida)”.

Fazer o quê se deixaram o rapaz crescer ao som de Black Sabbath e Led Zeppelin? Só que hoje em dia tudo isso, pra ele, é “peça de museu”. Aos 44 anos, sempre misturando tudo – dance, hip-hop e rock’n’roll, esta é a “tendência final” –, o que o Oldair quer mesmo é fazer som pra juventude. Por isso pira na Lady Gaga e nos emos, “happy rock” pra ele - diz ele que a música "Garota Radical", do Cine, foi roubada de uma composição sua homônima registrada em 2001. Mas tudo não passa de influência. Ele odeia repetir coisas – fez questão de repetir isso pra mim algumas vezes quando conversamos pelo telefone.

No papo, falamos de todas essas artes que ele faz, de “Garota do Busão”, “Nóia”, “Anticristo”… Que, aliás, vêm de uma época na qual um “espírito” escrevia por ele. Até hoje o Oldair não sabe dizer se sua alma está ou não vendida pro Diabo. Na verdade ele não tá nem aí. Ele é muito “radical”, não disse? Falou isso mais de uma vez…

Publicidade

Vice: Que tipo de música você faz, Layonman?
Oldair Valguda: Eu sou de todos os setores. Publico letras românticas, MPB, pop, rock… Tudo. E poesia de vanguarda, poesia radical. Eu faço letras muito radicais. É por causa das influências que eu tenho, Lady Gaga, Bob Dylan… Aquelas coisas, né? Aí eu trilho por esses caminhos. Eu gravo as músicas, mas gravo com músicos contratados. Eu apenas canto e… Sou tipo um maestro. Eu que idealizo os arranjos delas todas. Eu já gravei 25 músicas, e estou atrás, agora no momento, de achar uma gravadora, pra editar um CD e por à venda. Ou alguma coisa assim, né?

Mas você acha que seu trabalho é interessante para alguma gravadora?
Não sei! Aí eu parto de um princípio: são músicas pop, né? E em certo ponto são bem acessadas. Se fosse pelo número de elogios que recebo por causa das minhas músicas, estaria rico. Mas só de elogios não se vive. [risos] Por isso que eu sempre continuei, vou fazendo. Sempre continuo escrevendo músicas. Agora estou numa fase mais tipo radical, rock’n’roll – faço umas letras bem radicais. Tipo assim, fala do diabo, que é bem radical. Mas eu já passei por uma fase romântica. É bem essa coisa, vou falando sobre o tempo atual, né? Aí agora pensei em fazer um vídeo de alguma das músicas que gravei, que seria da “Layonman” ou da “Emo”, que é uma música muito… Muito legal!

Eu ouvi. É uma das minhas favoritas.
Gostou dela? É a penúltima que eu fiz. A última foi “Mixter Men”, mas não gostei muito dela. Vou fazer uma outra agora e depois vou fazer um rock. Eu gosto mesmo é de fazer rock. Adoro rock. Tanto que a minha base é fazer tipo vocal. Não sou muito bom em tocar – bateria eu não sei tocar, não sei tocar quase nada. Acompanho na guitarra base apenas, nada mais que isso, mas eu gosto de fazer arranjos. Eu falo pra quem estiver tocando, “Eu quero isso, quero aquilo”… E canto. Essa é a minha base, eu gosto do rock’n’roll, embora eu faça românticas, pop, e MPB, essas coisas, mas a coisa que eu curto mesmo é rock’n’roll.

Publicidade

Então sua formação é de cantor?
Cantor, isso mesmo.

Onde você começou a cantar?
Eu comecei no interior. Eu já morei em São Paulo um tempo, aí tive uma ideia, sabe, em 96/97, de abandonar tudo, ir embora pro mato. Aí vendi o restaurante do qual era sócio e comprei uma terra em Caxias do Sul. Eu sou gaúcho. Passei quatro anos lá. Certo. Na época eu não escrevia nada, coisa nenhuma, nunca escrevi nada. Aí de repente comecei a escrever umas letras, né? Comecei a cantar, o pessoal gostava… Aí depois de quatro anos no isolamento, fora do mundo totalmente, num lugar afastado, sem luz, nada, totalmente fora do mundo, entrei numa fase espiritual. Naquela fase eu lia a Bíblia, aquela coisa toda. O tempo foi passando e as letras começaram a crescer, comecei a escrever várias letras, muitas, muitas, muitas. Aí tinha um pessoal de universidade que vinha acampar lá, né, e eu cantava com eles. O pessoal gostava, adorava. Adorava “I Love Mary Jane”, adorava “A Garota do Busão”, “A Música do Diabo”. Aí uma voz me falou assim, “Faz o quê aqui no meio do mato, perdido? Vai embora pra cidade e grava suas músicas, começa a cantar, fazer isso e aquilo e vai ficar rico”. Aí eu vim embora. Como passei quatro anos fazendo nada, o dinheiro tinha acabado. Vim pra São Paulo e, como bom gaúcho, o que eu podia fazer? Fui trabalhar numa churrascaria, né? [risos] Era o que eu tinha que fazer. Aí foi passando. Em 2000 e pouco, 2003, era uma dificuldade. A minha música era meio fora da época em 2003. Também é uma época que não se lembra muito de nada, é uma época da qual ficou pouca coisa. Tava um grande vazio sobretudo, né? O tempo foi passando, a internet também não existia – até 2004 a internet era praticamente nula no Brasil, né? Tinha pouca coisa, mas muito fraco.

Publicidade

Aí fui crescendo, procurei um produtor pra gravar… Fui gravar “Garota do Busão” com um produtor. O cara queria muito caro, e, além disso, ele me falou que a minha música não tinha como gravar. Aí foi indo até que apareceu o Marcos Lobo, um produtor aqui do Ipiranga mesmo. Comecei a gravar as músicas. Gravei a “Música do Diabo”… Como eu não tinha muita ideia, ele sugeriu colocar um pouco de Black Sabbath, o “Iron Man”, pra dar um início à obra. E assim foi, e eu comecei a gravar. Hoje estou com outro produtor que é um pouco mais dance, emo… Eu adoro rock, acho que essa tendência mundial hoje, que é dance music, Lady Gaga, acho que ela vai transcender pro rock’n’roll. Não tem nem o que ver. O que mostra é que vai ser rock’n’roll no futuro. Não é verdade? O rock tá chegando a hora, né?  Aí fui gravando, gravando e chegamos a esse ponto. Hoje eu coloco minhas músicas na internet, em vários lugares… Mas não abri minha página primeira. Quero ter um videoclipe pra mostrar a música. Porque eu penso assim: o videoclipe tem que ser bem feito, né? Eu produzi um, que é o “Loira Fatal”, mas é muito fraco, embora seja bem assistido. Eu mesmo fiz, né? Agora eu gostaria de fazer um bem produzido, legal, pra tipo a “Layonman”. Ou pra “Emo”, que seria uma coisa meio tempo atual. Daria pra fazer um vídeo bem legal. É o que eu penso fazer hoje em dia.

Conta sua história. Você nasceu no Sul, veio pra São Paulo… Como foi isso?
Foi difícil, né? Depois de tanto tempo lá acabei no zero, sem dinheiro e sem nada. Voltei pra trabalhar, não foi fácil no começo. Aí foi passando o tempo e hoje estamos até… Estamos legal. Muito bem. E a música foi crescendo com isso, sabe? Fui gravando as músicas, indo, indo… Inclusive você falou que tá ouvindo "Emo". É boa né? É muito boa. Eu gosto bastante dela. Muito interessante. E tem outras músicas que eu gostaria de fazer ainda melhor que a “Emo”. Aí agora seria o caso de uma produção tipo um videoclipe, de aparecer o Layonman. Embora o Layonman seja uma banda de um cara só. É só eu e um produtor. Pago para uns caras gravarem as músicas, então é uma banda que não existe, né? Apenas o Oldair Valduga, o tal do Layonman. Mas, a seu tempo, pode existir essa banda Layonman. Porque o nome não é ruim. O nome é bom. E as músicas são boas. As letras, analisando bem os fatos – eu leio bastante coisa –, são ótimas. São muito boas. E são bem acessadas também. Então pretendo tocar adiante esse produto Layonman, essa imagem. A imagem que eu passo é a de um artista mesmo, de uma pessoa que vem do espaço sideral, aquela coisa que tinha do David Bowie…

Publicidade

Embora eu não copiei nada de ninguém. Essa é bem a verdade, eu sou bem original. Não copiei nada. Apenas eu tenho a ideia de fazer, mas em primeiro plano, claro, todo mundo se influencia. Quem não se influencia? Todos os cantores atuais tem uma certa influência de alguém. Hoje em dia a Lady Gaga é sensacional, ela é que é influência porque é muito radical, né? Embora seja mundial, ela tem um lado radical interessante, aquela coisa do punk. Eu não sei se você já ouviu o “Os Eles”, do Layonman, que ele fala assim: “eles passam a cavalo, eles passam motorizado, eles passam em avião supersônico”. Seria toda aquela coisa do sistema e tudo, e chega uma hora que fala assim: “o papa vai tomar no cu, o bispo vai tomar no cu, os políticos vão tomar no cu, os viados vão tomar no cu.” O sistema todo, aquela coisa radical anti-sistema, anti-isso, antiaquilo, anti-nada. E tem a “Anticristo”. Não querendo dizer que o cara em si vê o diabo, que é anticristo, é noiado – que são tudo coisa demoníaca, né? Tem um certo ponto, mas é um ponto artístico da pessoa, né?

Há coisas boas do Diabo, né? O lance mundial do Diabo, que cresce. Lembro que, lendo a Bíblia, chegando o tempo atual, quem tá tomando conta do mundo é a cena diabólica, por exemplo, da Lady Gaga, que foi uma coisa que surgiu do nada e hoje detona tudo, tem todos os prêmios. Então, o Layonman também á uma coisa que surge do nada, mas que não dá muita razão à Igreja e coisas horrendas, que nem políticos, porque é tudo em si uma falsidade. Pura enganação do povo. O povo tá aí, sem cultura, nem nada, e é enganado. O Lula! O Lula deu um prato de comida pros caras e ganhou os votos deles. E no fim não tem escolha. Não tem outras escolhas além do Lula.

Publicidade

Mas em si a história segue assim. Aí surge o herói Layonman, que vem de outro mundo… Tenho toda imaginada a ideia do vídeo, criei vilões… Aí pra salvar o mundo das trevas que está dominado, do sistema vigente que engana, que seduz o povo que tá na miséria… Não tem cultura, só tem futebol aqui no Brasil. Aí tá aí. Não tem nada pra ninguém. Aí o povo continua sendo enganado. Talvez o Layonman seja essa coisa, um anti-heroi, mas herói. O que era o Ziggy Stardust do David Bowie. Eu ouvi uma música do David Bowie, não sei dizer se parece ou não, mas não tem nada a ver com ele. É outra coisa. É uma coisa assim ainda a ser criada, porque imagem e filme do Layonman eu nunca fiz nada. Só escrevi músicas e nada mais. Agora queria dar um passo adiante e fazer um vídeo, criar esse personagem Layonman, o super-herói, que é uma coisa também que atrai as crianças. Eu acho muito bonito essa coisa das crianças. Embora eu tenha 44 anos, meu público é jovem. Esse pessoal que gosta do “Emo” e essas coisas, todas as minhas letras foram pensadas para os jovens.

De onde vem o nome Layonman?
Daquela música do Raul Seixas, “Um Som Para Laio”. Veio de lá. No começo era Laio apenas. Eu coloquei o ‘man’ depois por causa de uma coisa… Deixa eu lembrar. Ah, é que Laio era pouco. Era só Laio, Laio, Laio. Aí resolvi colocar o ‘man’. Laio, um ‘n’ e o ‘man’. Eu não sabia que tinha um tal Lion Man lá no Japão. Agora fiquei sabendo que tem até um filme na internet do super-herói Lion Man. Nunca fiquei sabendo disso. Aí, aqui no Brasil, ficou Layonman, e pra ser mais fácil de achar coloquei o 'y'. Antes era com 'men' porque já tinha outro Lion Man. Mas vem do Raul Seixas, “Um Som Para Laio”.

Publicidade

Voltando. Você chamou sua música de pop. Acha mesmo?
Sim, é pop. Ela trilha num espaço assim: ela tem o rock, tem umas coisas também MPB… Aí que tá, as minhas músicas MPB eu deixei meio de lado – eu tiro voz e violão –, que são românticas. O restante é pop, e como música pop tem tudo, um pouco de rock, um pouco de dance… Eu não usava a temática dance nas minhas músicas, comecei agora com o novo produtor. Mas eu acho um caminho pop, porque o som atual tem que ser pop. Pop rock, pop dance, pop MPB. É isso, acho.

E já vive da música?
Não, até agora eu não usei a coisa… Por exemplo: até agora não tenho nenhum CD fabricado. Tenho que fabricar pra vender. Eu acho que tá chegando o ponto de aparecer na mídia, fazer um videoclipe, alguma coisa… Aí que tá, a gravadora é pra por ele adiante e chegar longe, vender. Porque é um produto comercial. Embora possa se dizer que tá na internet de graça, não vai ser de graça pro resto da vida. Eu mesmo já estou mudando porque muitas páginas já estão cobrando pra eu colocar as músicas. Passa o tempo de graça e depois começam a cobrar. Sinal que, a seu tempo, tudo vai ser cobrado. Então tá de graça para o pessoal ouvir. Como já fiz 20 e pouco posso fazer mais 20 tranquilo. As outras músicas já tem tudo a ideia pronta e as letras prontas, né? Então, no começo eu talvez não ganhe nada, mas eu penso em melhorá-las. Aí um dia se tiver uma gravadora pra dar condição de fazer novamente o CD, melhoraria todas elas. Sobre as mesmas músicas gravadas já tenho novas ideias. Fazer até mais comercial, né, fazer o quê? Tem a ideia da pessoa, mas sempre tem alguém por trás. Se ele disse, “faça assim e assim” eu faço, né, fazer o quê? Faço do jeito que for melhor. Mas até agora eu não busquei ganhar dinheiro. Penso em no futuro ganhar.

Publicidade

Você tem o dom pra música?
Acho que sim, porque ficam tão bem feitas. O pessoal gosta. Você não falou que gosta da “Emo”? Tem pessoal que gosta da “Música do Diabo”, da “Nóia”… A “Nóia” daria um super vídeo. Embora eu não me diga satisfeito com elas, nem um pouquinho. Porque é aquilo, o produtor não coloca tudo o que penso. Eu fiquei muito insatisfeito com a última, “Mixter Men”, porque falta sal. Tem que ter mais sal, mais tempo, dez minutos pela música… Quero colocar o pessoal pra dançar. Eu queria melhorá-las, colocar mais tempo, mais ritmos. Mas a seu tempo acho que aparece quem faça isso, porque não é fácil achar duas cabeças que pensam a mesma coisa.

Usa drogas?
Não.

É tudo criatividade mesmo?
É tudo criatividade. Eu acho uma coisa: política e drogas hoje em dia é totalmente errado no Brasil. Mas eu sou pela liberdade, cada um use o que for. Eu não uso droga, mas quem quiser que use. Deveria mudar a política do governo pra não ser o que está hoje, só violência. Não ficar com a imagem de um país de terceiro mundo que só aplica dinheiro no combate às drogas, mas não combate nada. Só cria a violência. Deveria mudar, mas droga não faz o meu apetite, não.

"Mary Jane" não tem nada a ver com drogas, então?
A Mary Jane é outra história. Teve uma época que eu andava pela estrada, certo? Como tinha minha roça no interior, lá em Caxias, e minha família morava do outro lado de Caxias, em Bento Gonçalves, muitas vezes eu tinha que pegar ônibus. Só que eu chegava e não tinha ônibus, então tinha que andar. Aí tinha um grupo de travestis que ficava perto da estrada, era a Mary Jane. A partir disso tinha um grupo de universitários que vinha acampar lá do lado da minha chácara. E é aquela coisa, tinha aquela loucura na época “yeah, mary Jane”. Os caras fumavam maconha, aí era Mary Jane, de marijuana, né? Ficou em cima disso. Aí Mary Jane pra cá, Mary Jane pra lá, inventei uma história de uma garota que andava pela estrada, passou por mim e nem me viu. Aquela história da fumaça que passou por você, mas você não viu. [risos] Aí você olhou pra trás e encontrou com Mary Jane. Encontrou um baseado, né? A partir disso veio toda a historinha. Ela é baseada em marijuana, mas é a história de Mary Jane, de um cara que anda pela estrada, encontra uma garota… E rola aquela coisa toda. É desse tempo, um tempo louco, quando morava no interior e tinha aquela coisa da universidade. Hoje tá fora, o tempo passa. Muitas das minhas letras tinham a ver com isso, como a “Música do Diabo”. Elas foram situadas em outra fase da minha vida. Hoje eu já estou em outro lado, tipo assim, pensando até em montar um negócio próprio. Uma lanchonete, bar ou coisa assim. E só ir em paz na música. Adoro cantar “Mary Jane”, adoro cantar essas músicas. “O Diabo”, “Emo”… Aí que tá, junta tudo e dá um puta som, meu. Pra abrir show de punk rock até. O Layon anda por todos os caminhos, do punk, do MPB, do rock… Não tem preconceito contra eles, nem contra os drogados nem contra os caretas. Caminho por todos os lados. Assim que é.

Publicidade

Sua música tem muito humor…
Você acha isso? Pra mim isso é novidade.

Mesmo?
É novidade. Às vezes eu acho que elas são sérias demais. Eu não consigo colocar… Embora eu tenha outras que não gravei – eu penso em fazer música instrumental e música gospel. Eu tenho uma baseada em um poema, “O Dia D”. Tem outra chamada “Linda Demais”. Tinha uma fase que eu tinha uma namorada que deu poemas muito lindos, mas nunca musiquei nenhum. Aí já é outro setor que pretendo fazer no futuro. Essas músicas iriam por outro caminho do Layonman. O Layonman pretende trilhar por todos os caminhos. Nos anos 60 as bandas não faziam só um tipo de música. Depois veio a divisão, do metal, punk, MPB, mas o tempo atual se compreende a chegar a uma união de todos os tipos de música.

Tá, mas você disse que nunca tinha ouvido falar que tinha humor…
Nunca tinha ouvido…

Ok, mas você acha que as pessoas estão levando a sério a sua música?
[Risos] Olha, eu acho que… Aí que tá, às vezes eu fico até meio que cabreiro com isso. Porque o pessoal leva a sério. Por exemplo, ouvem a “Música do Diabo” e pensam que eu sou um satânico. Eu pretendo melhorar ela. Quero tirar aquele começo de Black Sabbath, com "Iron Man", e colocar ela mais moderna, com um ritmo hip-hop e metal, heavy metal.

Certo…
Pretendo fazer isso no futuro. Ao vivo! Embora minhas músicas são gravadas em sistema, como se fala, em gravadoras mesmo. Nunca foram apresentadas ao vivo. Ao vivo elas compreendem metal. Heavy metal e blues. E muito misturado com dance music. E mais cena teatro. Teatro pro Layonman. Essa é a cena que eu imagino fazer ao vivo. Então elas ao vivo seriam ainda mais radicais. Eu cortei um monte de palavras, tirei um monte de coisas, que eu pretendo colocar de volta ao vivo. Então eu sou muito radical mesmo. Junta a “Diabo”, por exemplo, com “Emo” e com “Mary Jane”. O que não vai virar isso? É um banquete radical, louco. Aí eu penso: “pô, eu sou louco?” Não, sou um careta. Sou muito careta. Mas eu tenho que seguir a história do Layonman. O Layonman não é o Oldair, é outra pessoa. Tem que dividir. Pretendo montar um show bem radical mesmo, mas essa pessoa que comparece ao show não é a pessoa que vive seu dia-a-dia, é outra história.

Publicidade

É seu eu lírico?
Certo. É o personagem, é o artista. Música fala disso. Adoro música lírica, música clássica. Eu sei fazer isso, mas nunca consegui transcrever. Tem uma música que eu chamo “Computer Gold” que tem dez minutos uma orquestra sonora fazendo música, sons de computador… Mas nunca consegui transcrever. Talvez no futuro eu consiga, mas sigo por esse caminho mesmo, pela eletrônica total.

De onde vem todo esse radicalismo?
Vem das músicas, que vem da cena. Eu cresci ouvindo Black Sabbath, Jimi Hendrix, Bob Dylan, Led Zeppelin, rock, punk… Tudo isso. Aí as influências vêm disso. Embora hoje em dia eu não goste mais muito desses caras, não. Eu ouço às vezes, mas sou muito fissurado na música atual. Por exemplo, acho o Restart sensacional. Até tem umas bandas que tão começando a copiar a minha pessoa, por exemplo o Cine, que copiou com “Garota Radical”. “Garota Radical” eu escrevi em 2001. Era minha antigamente, mas os caras começaram a copiar. Tem muita influência das minhas letras nesses caras, Cine, Restart… É umas músicas que eu gosto, adoro esse pessoal novo. Adoro Lady Gaga, Black Eyed Peas… Muito melhor do que ficar ouvindo peça de museu. Até apelidei o emo de happy rock porque eu acho muito bonito o visual deles. Tá começando, né, sabe lá se vai dar certo ou não, mas eu acho sensacional. Todas elas.

Você já viu o diabo?
Não, mas tem uma história. Um dia eu andava lá na minha terra e tinha um macumbeiro bem grande na esquina. Passei por lá e ouvi mentalmente “você aceita vender a alma ao diabo em troca de sucesso e fortuna?” Falei sim. Aí a voz falou assim: “ande em direção ao campo e se encontrará com ele.” Fui andando. Aí de longe vinha um homem num cavalo branco. Chegou na encruzilhada e encontrei com ele. Morava lá tinha quatro anos e nunca tinha encontrado com ele. Aí ele parou, me apresentei. Falei que morava lá, mas que fui embora pra São Paulo pra cantar. Ele falou: “siga em frente.” Aí segui nisso. Dava pra fazer um puta clipe disso, uma puta história. Embora tenha outras histórias do diabo.

Então sua alma está vendida?
Não sei! [risos] Eu apenas sigo a história. Eu penso em lançar um livro também. Já tenho umas coisas escritas. Primeiro coloquei tudo na internet, mas antes as páginas eram feias. De uns dois, três anos pra cá, as páginas começaram a ficar bonitas. E agora eu noto que agora a internet está juntando com a televisão. O próximo passo, daqui a dois, três anos, televisão e internet vão virar uma coisa só. Sinal dos tempos de que é a união disso tudo. Então é sobre esses parâmetros que novos artistas surgem. Eu creio que sou um deles, pois adoro isso. É uma coisa jovem, que nasceu com o século XXI. O público é jovem, velho não vê muito computador. O público deles é outro, é a televisão, o rádio – que já caducou. Hoje em dia você liga a televisão num canal normal e, pô, quem aguenta ver isso? Até as novelas já estão com remake, não tem mais novidade, não tem mais o que apresentar. Mesmo as audiências não são aqueles 80% de antes, hoje é 20%. E onde tá esse pessoal? Na internet…

Então o Layonman é um personagem sendo escrito?
Isso mesmo. É um personagem sendo criado. Surgiu do nada, e vai crescendo, crescendo… Hoje em dia até vê umas bandas europeias cantando músicas parecidas com as do Layonman. Tá crescendo, o pessoal tá gostando pelo jeito. Aí é o que te falei, fazer um vídeo, achar uma gravadora…

E aquelas artes todas, é você quem faz?
Sim, mas eu até parei porque não gosto de repetir imagem – nunca copiei imagens dos outros. Nunca apareci muito. Me apareça, né? Quero criar uma coisa mais profissional. Por exemplo, nunca tive uma página primeira do Layonman na internet. Agora, com essa nova geração, tão surgindo páginas mais bonitas. Quero transcender, não ficar só mais um. Não gosto de repetir.

Ah, aí vou discordar. Tem umas músicas suas que são até meio doutrinárias de tanta repetição do mesmo bordão.
[Risos].

Você usa muito eco também. Na própria "Anticristo" você repete anticristo várias vezes.
Não sei por quê. Foi feito assim, talvez nas próximas passe a usar mais eco nenhum. Pra não repetir. Eu gostaria, por exemplo, de ouvir alguma música minha cantada por uma voz feminina. Acho que ficaria muito lindo. Eu nunca estudei nada de música, é naturalmente. Cantar, nunca estudei nada de cantar. É uma coisa espontânea. Algumas foram feitas em instantes e tal, e nunca consegui mudar.

E as imagens, de onde vem sua influência pra criar todas elas?
Da Lady Gaga. Pode ver, tudo o que ela faz é diferente uma coisa da outra. Até os videoclipes, “Alejandro” não tem nada a ver com “Bad Romance”, por exemplo. Bem que ela podia fazer outro vídeo pra gente até o fim do ano, mas acho que não vai sair nada.

O que é o Layonman, afinal?
Não sei. Talvez seja adiante do emo. No momento é pop, sabe-se lá como vai ser lançado. Quem vai tocar adiante e vender nosso produto, não sei. Talvez seja um diabólico, anti-cristo. Eu tenho a música, a história e as ideias pra isso. Quem vai tocar adiante eu não sei, mas tomara que apareça logo. Pra fazer o que manda. Se alguém disser que eu tenho que fazer isso ou aquilo, posso fazer nada, né? Tem que fazer. Enfim, não sou radical de dizer que não vai mudar minhas músicas. Quer fazer, faça, né?