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As Coelhinhas de Aquarela de Suzannah Sinclair

A Suzannah Sinclair cresceu numa família religiosa e muito rigorosa em uma base militar no norte de Nova Jersey. Hoje em dia ela passa seus dias resgatando do lixo as belezas seminuas das Playboys dos anos 70 para colocá-las em suas pinturas...

A Suzannah Sinclair cresceu numa família religiosa e muito rigorosa em uma base militar no norte de Nova Jersey. Hoje em dia ela passa seus dias resgatando do lixo as belezas seminuas das Playboys dos anos 70 para colocá-las em suas pinturas translúcidas de aquarela em painéis de madeira. A Suzannah captura um ar intocável e irresistível de misticismo no olhar de suas modelos. O tipo de olhar que você imaginaria alguém como a heroína Lady Brett, do Hemingway, usando para elegantemente contrabalancear o fato de ser a mulher-troféu desejada por todos os homens enquanto ao mesmo tempo que carrega consigo uma inclinação para a putaria.

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Vice: Olá Suzannah. Qual é a da sua obsessão por pintar garotas peladas ou seminuas?
Suzannah Sinclair: Sempre fui atraída pela figura feminina. Quando era criança eu era muito moleca, mas realmente gostava de desenhar coisas bonitas como garotas ou animais. A primeira coisa que desenhei foi uma princesa com um gato – uma princesa gatinha [risos]! Depois disso comecei a desenhar mulheres a partir de revistas de moda, mas elas não tinham o corpo realista que eu estava procurando. Então quando estava na escola de arte, uns dez anos atrás, achei algumas Playboys e percebi que as roupas datavam as fotos rapidamente. Sem elas a peça fica mais atemporal e aberta a interpretações.

Você deve ter uma enorme coleção de revistas pornô hoje em dia, certo?
Tenho muitas! A maioria dos anos 60 e 70 – as mais antigas são as melhores, não curto muito as coisas novas. Gosto de procurar revistas de mulher pelada diferentes quando viajo. É divertido perguntar por elas em feirinhas de antiguidade. Acabo recebendo olhares estranhos.

Aposto que sim. É tão estranho como pedir OBs e camisinhas?
Totalmente.

Você acha que, como mulher, tem uma abordagem diferente ao pintar nus?
Pode-se dizer até que, historicamente, pintar é uma prática normalmente feita por homens. É como aquele pôster das Guerrilla Girls: “Mulheres devem estar peladas para entrar em museus nos EUA? Menos de três por cento dos artistas no The Metropolitan Museum of Art são mulheres, mas 83% das figuras nuas são mulheres”. Acho que tenho algo a mais para botar em discussão quando pinto o corpo feminino porque, ao contrário de artistas masculinos, sei como é se sentir uma mulher.

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Você definitivamente captura algo sensual -- mas mesmo assim vigoroso -- nas expressões das meninas. Está as criando como seres emocionais assim como sexuais. O aspecto “há mais em mim do que peitos” da sensualidade feminina é algo com o qual você tem que lidar muito em sua arte?
Com certeza! Há muito além dos nossos corpos na sensualidade femininina. Gosto de achar o complicado balanço entre o sexual e o emocional -- e examinar com qual dos dois estamos mais confortáveis.

Você chegou à alguma conclusão?
Bem, tudo começou quando tentava entender o motivo de eu ser estimulada a pintar o que pintava. Na maioria das vezes a pintura vem antes, e pergunto de onde ela veio depois. Mostrando o meu trabalho pelos EUA e pela Europa, fui capaz de ver as pessoas nas aberturas. Isso é fascinante e me fez aplicar essas questões aos outros. Algumas vezes as pessoas veem uma pintura pelo o que está nela e reagem falando: “Ela é gata”. Algumas vezes veem mais do que isso. Adoro isso. Uma pessoa vai perceber tristeza ou solidão, enquanto outra vai ver algo totalmente diferente.

Tipo um rabão. Você tem uma musa favorita?
Há algumas coelhinhas às quais venho recorrendo. Elas têm alguma coisa que aparece em todas as páginas – um olhar que diz muito. É isso que procuro quando folheio revistas feitas para o homem, pelo homem. Algo com que consiga me comunicar: um olhar de uma modelo em que projetei um sentimento familiar. Pode ser um olhar de antecipação ou de estar esperando por alguém, um sentimento sonhador etc. Tento desenhar o mais literal e figurativamente possível. Sinto que pinto uma intersecção do que sei e algo que está além de mim, em minha imaginação.

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Enfatizar o olhar e a emoção da modelo é a sua forma de fazer as coelhinhas serem mais do que objetos sexuais?
É possível. Estou tentando mudar o foco para que possam ser vistas de um outro jeito.

Quando foi que se interessou por arte pela primeira vez?
Meus pais normalmente levavam eu e meu irmão na cidade para ver shows na Broadway e museus. Me lembro de ir ao MoMA um dia e ver obras de arte chocantes – coisas que me surpreendiam e que não podíamos nem olhar. Acho que isso me fez perceber que você poderia ser desculpado por criar algo provocativo se aquilo fosse taxado como obra de arte.

Isso influenciou alguma ideia subversiva?
Talvez subconscientemente. Me lembro de coisas nostálgicas bem intensamente. Acho que tinha 12 anos quando fomos ao MoMA. Me lembro de ver uma imagem de sangue e o corpo de uma mulher, o que era chocante porque não podíamos ver filmes censurados para menores de 18 anos ou qualquer coisa do tipo até que tivéssemos 17!

Seus pais eram muito rigorosos?
Pensava que sim quando era criança, mas hoje em dia sou mais velha, e entendo totalmente todas as decisões que tomaram para a minha educação -- e fico contente que o fizeram. Meus pais me encorajaram a fazer arte.

Como você se sente com seu tema nudista?
Bem, foram eles que me botaram em aulas de aquarela quando era adolescente, que é a técnica que ainda uso hoje em dia. Eles são bem religiosos e conservadores com algumas coisas, mas não com a minha arte. Eles vão às minhas exposições sempre que podem e colecionam tudo que sai sobre mim na imprensa. Sempre quando alguém fala que é muito picante ou algo assim, penso: “Se não tenho problemas em mostrar isso ao meu pai, o Coronel, então qual é o problema?”

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Para ver mais trabalhos da Suzannah, clique aqui.

MILÈNE LARSSON
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR