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Priti Baiks: Magrelas para Impressionar as Gatas

Descobrimos umas fotos de alguns rapazes latinos com ares orgulhosos e desafiadores, todos montados em bicicletas transadas.

Faz uns dias, estávamos navegando pela internet e descobrimos umas fotos de alguns rapazes latinos com ares orgulhosos e desafiadores, todos montados em bicicletas transadas de tal forma que eram bem capazes de fazer inveja aos carros tunados mais extravagantes. O nome, “Priti Baiks”, é, obviamente, uma paródia do inglês

(bicicletas bonitas). Só que no Panamá—país onde foram tiradas essas fotografias—a palavra priti não quer só dizer bonito. Também pode significar engenhoso e gracioso. Sem dúvida, engenho não falta a essas magrelas, algumas chegando até mesmo a ter sistemas de som, luzes néon e telas LCD. Mais do que isso é complicado. Conversamos com José Castrellón, o fotógrafo por trás deste projeto, para sabermos mais sobre as “Priti Baiks”.

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VICE: Olá José. Conte pra gente de onde surgiu a ideia de tirar essas fotos.
José Castrellón: Desde pequeno, sempre quis fazer um projeto sobre isto. Aqui no Panamá existem muitos engraxates, e eles costumam personalizar e decorar os suportes nos quais as pessoas colocam os pés. Quando eu era pequeno, já com ideias de ser fotógrafo, adorava olhar para essas decorações, e foi assim que nasceu a minha paixão por coisas personalizadas.

Quanto tempo você demorou para concretizar o projeto “Priti Baiks”?
Em 2008, eu e um amigo estávamos numa região do interior do Panamá. Paramos para abastecer o nosso carro e nos deparamos com alguns moleques na bomba de gasolina, curtindo e enchendo as botijas das buzinas com CO2. Quanto maior a botija, mais CO2 ela leva e mais barulho a buzina faz. Nessa altura, eu estava no meio de um outro projeto, por isso só em 2009 é que comecei a trabalhar nisso a sério. E ainda não terminei: quero acabar compilando um livro com fotografias de bicicletas do Panamá inteiro, não apenas do interior.

Irado. Adoro as buzinas que esses caras usam nas bicicletas. São incríveis. Você também já aderiu à mania das “Priti Baiks”?
Não, ainda não entrei na cena, mas me interesso muito por isso. A primeira foto que tirei foi em 2009. Estava guiando na estrada e vi um pirralho com uma bicicleta modificada. Buzinei várias vezes, ele buzinou de volta, falei com ele e perguntei se podia tirar uma foto dele. Tirei uma foto 6x6 com a minha câmera analógica e uma polaróide para ele guardar.

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Nem todo mundo no Panamá tem bicicletas assim, né? Não é uma coisa famosa em todo canto, ou é?
Não, é uma coisa um tanto quanto estranha. Geralmente é o pessoal das classes trabalhadoras que vive no gueto que tem bicicletas assim. Os jovens ricos nunca teriam uma, eles não têm esse tipo de criatividade que se encontra na classe trabalhadora. Quando tudo nos é entregue de bandeja, não existe necessidade nenhuma de mudar, de alterar. Este pessoal do gueto… é uma coisa foda. Vivem na pobreza extrema. Mas, não sei como, têm, todos eles, bicicletas e tênis irados. No gueto você vê famílias com três filhos, completamente pobres, mas todos eles têm bicicletas espetaculares. Trabalham duro para poder comprá-las e depois tomam conta delas muito bem. Não é algo que eles compram e que mais tarde deixam de lado, é um projeto que demora anos para se completar até chegar ao nível que eles querem. Por vezes, até tratam melhor das bicicletas do que tratam dos filhos. Algumas até têm telas de LCD!

LCDs? Porra, que grande investimento. De onde você acha que eles tiram a inspiração para decorar as “priti baiks”?
As bicicletas têm muito a ver com a cultura cholo, sabe? Deriva do lado caribenho do Panamá e, como tal, é muito afro-caribenha.

Eles competem uns com os outros e pra tentar fazer com que suas bicicletas sejam melhores que a dos outros?
Claro que sim, é uma cultura extremamente machista. Estão sempre tentando se superar e a ser melhor que os outros. Não existem concursos nem nada do gênero, mas eu estou pensando em organizar um.

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Qual é a sua bicicleta preferida?
A que tem o boombox na frente. A história por trás dessa bicicleta é fascinante. O cara já tinha ela fazia um tempo, mas depois ganhou dinheiro na loteria e pimpou a bicicleta ainda mais. Sem dúvida, essa é a minha preferida.

Agora pouco você disse que o projeto ainda não está concluído. Quais são os próximos passos?
Como te disse, ainda só fotografei no interior, no campo. Quero ir ao gueto e fotografar lá. Não quero que este projeto se limite ao interior

Essa galera curte mesmo as bicicletas. Não é um capricho materialista, é mesmo um estilo de vida. De que forma você compara a a série “Priti Baiks” ao seu outro trabalho?
Basicamente, gosto de documentar as mudanças nas subculturas em diferentes sociedades. Na série “Impero del Sole” estava em Roma [em 2009, José Castrellón ganhou o primeiro prêmio no concurso IILA Fotografia, em Roma], uma cidade completamente cheia de turistas. Estava com o saco completamente cheio, então que porra eu ia fotografar? Daí peguei e fui até os subúrbios e fotografei a Roma verdadeira, apesar da maioria dos italianos estar de férias.

Está a planejando levar essa exposição a outros países?
Sim. Por acaso, estou de saída para Nova York, onde vou expor no Museo del Barrio.

Isso é demais. Como é surgiu essa oportunidade?
O Museo del Barrio é um museu em Nova York que mostra o trabalho de artistas latino-americanos contemporâneos que moram nos Estados Unidos. No ano passado, quando estava em Nicarágua para a 7ª Exposição Bienal de Arte Contemporânea, fui abordado por Elvis Fuentes, curador do Museo del Bi-annual, que escolheu o trabalho de três artistas de cada país da América Central para expor nesse museu.

Bem, boa sorte para a exposição. Vou ver se também começo a pimpar minha bike.

Clique aqui para ver a série de fotografias na íntegra.

ENTREVISTA POR ALEX BABAHMADI VICE PT
FOTOGRAFIAS POR JOSÉ CASTRELLÓN