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Militantes pela Independência da Escócia Estão se Juntando em Massa a Partidos Políticos

Em apenas uma semana, mais de 38 mil pessoas se uniram ao Partido Nacional Escocês (PNE), tornando os nacionalistas a terceira maior agremiação política de todo o Reino Unido, atrás apenas do Partido Conservador e do Partido Trabalhista.

Militantes pró-independência na véspera do referendo. Foto por Phil Caller. 

Na manhã de sexta-feira passada, após a derrota do "Sim" no referendo pela independência da Escócia, Lizzie Cass-Maran acordou perturbada na casa que divide com sua esposa e o filho de quatro meses em Fife. Quando ela foi dormir na quinta, as coisas não pareciam estar indo bem para os defensores da independência, e ela acordou com a confirmação de que o "Não" tinha vencido. "Sentei e chorei por um longo tempo", relembra Lizzie.

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Quando finalmente secou os olhos, em vez de deixar o desapontamento vencer, ela resolveu se juntar a um partido político pela primeira vez na vida. Aos 32 anos, Lizzie se afiliou ao Partido Verde Escocês, que foi parte importante da campanha pelo "Sim".

E ela não foi a única. Desde que os escoceses votaram para continuar sendo parte do Reino Unido no mês passado, dezenas de milhares de pessoas se voltaram para os partidos pró-independência da Escócia. Em menos de uma semana, o Partido Verde dobrou de tamanho, superando os mais de 5 mil membros. Em apenas uma semana, mais de 38 mil pessoas se uniram ao Partido Nacional Escocês (PNE), tornando os nacionalistas a terceira maior agremiação política de todo o Reino Unido, atrás apenas do Partido Conservador e do Partido Trabalhista. Quando você considera que a população da Escócia é menor que a de Londres, é fácil entender a escala da onda de apoio a esses partidos.

Militantes da independência têm lutado para aceitar o resultado do referendo. Alguns até acreditaram em teorias da conspiração por um tempo, dizendo que a votação foi fraudada. Alex Salmond disse que os escoceses tinham sido enganados para votar "Não". Talvez essas sejam todas fases dos estágios de perda do modelo Klüber-Ross e o apoio a esses partidos não dure, mas a derrota parece ter cimentado ativistas de base por todo o país.

"Alguns anos atrás, eu teria sentido que me juntar ao Partido Verde seria inútil, mas, como chegamos tão perto com o referendo, você sente como se o impossível fosse possível", explicou Lizzie, cuja mãe foi vereadora pelos liberais democratas na Inglaterra.

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"Eu estava tentando tirar algo de bom da quinta-feira: 1,6 milhão votou "Sim"; 86% da população votou. Estamos tentando tirar algo de positivo do resultado ruim." A esposa de Lizzie também se juntou ao Partido Verde na sexta-feira.

VICE News: Tartan Armies. 

Em vez de a derrota ter destruído o movimento de independência da Escócia (como muitos pensaram que iria acontecer), a decepção rapidamente deu lugar a um engajamento político renovado, segundo Michael Rosie, sociólogo da Universidade de Edimburgo. Ao mesmo tempo, as principais forças pró-Reino Unido (conservadores, trabalhistas e liberais democratas) logo caíram em brigas internas sobre que poderes deveriam ser oferecidos ao parlamento descentralizado da Escócia no Palácio de Holyrood, em Edimburgo.

"O lado que perdeu está agindo como o lado vencedor, ganhando impulso, e o lado que venceu está agindo como o lado perdedor e desmoronando", frisa Rosie.

Muitos defensores da independência, define Rosie, desconfiam que os partidos de Westiminster possam renegar suas promessas de garantir mais poder a Holyrood, o que foi estabelecido na véspera do referendo e amplamente visto como o fator crucial para assegurar a vitória do "Não". Juntar-se a um partido político, para alguns, é uma maneira de pressionar Londres.

Para outros, se tornar membro de um partido pró-independência é um passo lógico depois de participar da campanha pelo "Sim", um movimento que mobilizou seções da sociedade escocesa como nenhum outro antes. "O movimento de base me inspirou. É meio como se isso dissesse: 'Sabe de uma coisa? Você pode fazer a diferença'", afirma John Thompson, de Glasgow, que se juntou aos PNE na manhã de sexta-feira. "Eu me senti orgulhoso de ter me envolvido no referendo. Agora quero me envolver mais."

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Como muitos outros na legião de novos recrutas, John, um pai de 32 anos, não era politicamente ativo antes da campanha pela independência. Na verdade, ele só votou pela primeira vez em 2011. "Eu era apático. Minha opinião era que nada disso importava, que política não fazia a diferença", informa.

Agora, depois de passar meses frequentando reuniões políticas e tentando convencer amigos e familiares a votar no "Sim", ele se tornou membro de um partido. "Não sei muito bem com o que posso contribuir no partido, mas quero fazer o possível."

A onda de afiliações a partidos na Escócia é ainda mais notável considerando que as pessoas vêm abandonando os partidos políticos do Reino Unido. Em 1983, quase 4% dos britânicos eram membros de um partido político. Hoje, esse número é menos de um em cada cem. Tanto o Partido Conservador como o Trabalhista têm menos de 200 mil membros hoje - muito inferior ao pico de 2,8 milhões no pós-guerra para os tories e mais de 1 milhão para os trabalhistas. O PNE, com mais de 50 mil afiliados, agora é maior que os liberais democratas em todo o Reino Unido.

Hoje, na Escócia, incrível 1,5% do eleitorado é de membros do PNE. Nacionalistas e outros partidos estão lucrando com o modo como a campanha pelo "Sim" envolveu pessoas que odeiam os políticos de Westminster. A maioria dos escoceses da classe trabalhadora - e quase 40% dos eleitores do Partido Trabalhista - votou pela independência.

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Militantes pró-independência choram na madrugada após o referendo. Foto por Phil Caller. 

Naquele final de semana, Clare Archibald se juntou ao Partido Socialista Escocês, que também estava envolvido na campanha pelo "Sim". "Isso manda uma mensagem para os partidos mainstream no Reino Unido: podemos ter sido derrotados no referendo, mas vamos procurar alternativas", acredita Archibald, uma assistente social de Fife.

Apesar de ter sido do clube trabalhista na faculdade, Clare conta que "não tinha muita fé no sistema" até a campanha do referendo. "Muitas pessoas perderam a esperança de que qualquer coisa poderia mudar", ela disse. "Não ganhamos a votação, mas encontramos algo para acreditar de novo."

Ironicamente, apesar de vencer mês passado, os partidos opositores da independência enfrentam agora uma tarefa eleitoral ainda mais difícil agora, segundo Michael Rosie. Apesar de ter conseguido salvar a união, o Partido Trabalhista Escocês, em particular, alienou uma grande parte de sua base com uma mensagem nitidamente negativa de alerta sobre as consequências da independência.

"Vai ser muito mais difícil agora para o Partido Trabalhista. Acredito que o número de membros deles vai cair. Eles precisam recapturar terreno na política escocesa, que está preocupada com questões de justiça social", diz Michael.

A principal dúvida na Escócia agora é se esses partidos novatos vão conseguir se manter significativos. "O desafio do lado do "Sim" é capitalizar o crescimento de seus membros. Como manter essas pessoas envolvidas e ir além das estruturas de partido político para manter o movimento social", explica Michael. Um problema que todos os partidos de Westminster adorariam ter.

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Tradução: Marina Schnoor