Crédito: FUNAI/Gleison Miranda
A tribo não possui um nome conhecido por não membros, e não se sabe ao certo que língua é falada internamente, disse Kayla Wieche, porta voz da Survival International, organização baseada em Londres que luta pelos direitos indígenas em várias partes do mundo.“Não existe um nome para esse grupo. Não há como saber como eles se referem a si mesmos e nem que língua falam”, disse ela. “Também é difícil saber quantas pessoas há na tribo no total, e quantas fizeram contato. Um oficial da FUNAI mencionou algo em torno de 70, mas ninguém sabe ao certo no momento.”O contato foi mais ou menos esperado, tendo em vista que nas últimas semanas a tribo brasileira Ashaninka, que mantém contato com a FUNAI, informou que os avistamentos dessa tribo isolada haviam se tornado mais constantes. No dia 30 de junho, um grande grupo se aproximou da vila dos Ashaninka.Acredita-se que esta seja a mesma tribo fotografada do alto em 2008 e 2010, ainda que as autoridades não tenham certeza absoluta. Nessas imagens, homens da tribo são vistos apontando lanças e flechas para um helicóptero. Em 2008, um boato se espalhou de que as fotos eram armadas, história sustentada pelo jornal britânico The Observer. O jornal reconheceu o erro e pediu desculpas, além de apagar o artigo original sobre o assunto.A FUNAI informou que os avistamentos recorrentes tiveram início em 13 de junho, e que o contato aconteceu no dia 29 do mesmo mês.
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Esta imagem foi capturada de um helicóptero em 2008, e acredita-se que seja do mesmo grupo que acabou de fazer contato. Crédito: FUNAI/Gleison Miranda.
Uma pesquisa recente sugere que muitas tribos isoladas acabam desaparecendo quase que imediatamente depois de fazerem o primeiro contato. Das 238 tribos que fizeram contato nas últimas décadas, três quartos não existem mais. As que sobrevivem vêm sua taxa de mortalidade subir para mais de 80%, por causa de doenças às quais não haviam sido expostas antes, dentre outras causas.A FUNAI trabalha de acordo com a “premissa do não contato, respeitando a auto-determinação dos povos indígenas e trabalhando para garantir a proteção territorial onde essas tribos estão presentes”, disse a fundação em uma declaração feita à imprensa sobre o contato. A FUNAI disse ainda que já enviou especialistas em saúde indígena e intérpretes que irão fazer o seu melhor para estabelecer comunicação com essa tribo previamente isolada, a fim de garantir sua segurança.Em 2011, o Wikileaks publicou documentos que mostravam que mais de 90% do mogno exportado pelo Peru era ilegalmente retirado da Amazônia, e grande parte vinha da área onde vivem esses povos. A organização Survival International acredita que as madeireiras ilegais são as culpadas por forçar a tribo a se deslocar em direção à fronteira brasileira, onde ela acabou esbarrando com os Ashaninka. Especialistas temem que este seja um caso parecido com o do Equador, onde a extração de petróleo está encurralando uma tribo isolada, empurrando-a para as terras de tribos não isoladas.O que vai acontecer daqui pra frente ninguém sabe ao certo, disse Sarah Shenker, uma ativista da Survival International que tem estado em contato direto com os membros da FUNAI no Brasil. Vai ser dada ao grupo a opção de se assentar em uma vila que tem contato com a sociedade. No entanto, há casos de tribos que entram em contato e depois decidem voltar a viver em isolamento.Ela diz que as autoridades brasileiras acreditam que para que uma tribo isolada chegue a procurar um assentamento como esse, é porque a situação deve ter envolvido pressões externas.“Parece que houve uma pressão bastante grande – a atuação de madeireiras e do tráfico de drogas os forçaram a fazer isso”, ela me disse. “Parece que algo grande aconteceu, para que eles chegassem à vila dessa forma. Talvez eles tenham visto os madeireiros e pensaram que não tinha mais para onde ir.”Tradução: Luiza Vilela