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Música

Discos: Vários

Compilação da música que brilha no escuro de uma cidade.

In the Dark: Detroit is Back
Still Music
2013 Há algumas semanas, a pergunta colocada pela newsletter da Flur não podia ser mais certeira: “Como Detroit is Back se nunca foi embora?”. Era assim que a resistente loja de discos de Santa Apolónia questionava o título desta compilação, que mais parece anunciar um novo filme numa saga de super-heróis. Detroit contudo é uma cidade com uma vitalidade musical em permanente regresso, o que, de alguma maneira, impede a identificação do momento exacto em que voltou à carga. Detroit, à semelhança do Benfica, carrega, mesmo quando está em crise financeira. A prova disso encontra-se numa lista infindável de músicos e produtores que abrilhantaram a techno e a soul da Motor City, enquanto muitos dos aspectos socioeconómicos da cidade pioravam a cada dia. Diríamos por isso que In the Dark: Detroit is Back, lançada com paixão pela Still Music, procura ser uma espécie de compilação da música que brilha no escuro de uma cidade, que, nos últimos tempos, voltou a ficar refém de uma profunda crise. Há quem diga até que, para morrer em Detroit, basta apenas estar no lugar errado à hora errada. Ciente de que os discos devem servir mais para escapar da merda e nem tanto para cair nela, o patrão da Still Music, Jerome Derradji, decidiu-se aqui por uma selecção bem menos pesada do que o estigma da cidade que estabelece o critério.  Não é admirar então que o primeiro CD de Detroit is Back tenha como principal missão demonstrar como a house e a soul se afeiçoam tão bem nestas faixas que representam Detroit. "A message for the DJ" é uma carta de amor à música house escrita pela voz ultra-sensual de Diamondancer e selada com um groove bem atento às lições essenciais das sagradas Trax e Maxi Records. Logo de seguida surge "I'd Rather Be With You", digressão multicolor pela mão de Todd Modes, e a reincidência numa voz feminina muito atraente faz com que este seja o momento de In The Dark que mais facilmente ficará alojado na nossa cabeça. Permanecemos em terreno amigável assim que entra a remistura house do experiente Amp Fiddler para uma "Celebration", que, na sua forma original, era um tema funky bem mais óbvio e murcho.     Descrito assim, In The Dark quase parece uma viagem pela Disneyland de Detroit, mas o cenário muda quando o disco 1 dá lugar ao 2. A partir daí entramos naquela dimensão muito especial, em que cada boa malha de techno dispõe de sete minutos para nos reprogramar a cabeça com tudo o que tem de mais intrigante e deep. Quer “Cyclops”, de Keith Worthy,  ou “The Fall Guy Pt.2”, ameaça conspirada por Terrence Dixon, destacam-se neste segundo disco mais agressivo, mas há em “Hemogoblin” um despudor electro pronto a deixar os ouvidos assados e, além disso, simpatizo muito com o nome do autor Tony Ollivierra. Carrega, Tony.