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cinema

Filmes maus que eu vi: Crash

A prova de que Brendan Fraser é mesmo um dos piores actores de sempre.

Paul Haggis
2004
2/10 Não há nada pior que um mau filme desesperado por simular a fórmula de um filme mil vezes melhor. A cópia que este Crash faz de Traffic (inspiradamente realizado por Steven Soderbergh) encontra-se algures entre o insultuoso e o risível (às vezes o patético). A intenção seria provavelmente a de criar uma malha de histórias vividas em Los Angeles, que, ao serem sobrepostas, revelariam qualquer coisa de extraordinário sobre o racismo e a tensão nas metrópoles. O resultado contudo é bem diferente e, em vez de revelar o que seja, levanta duas questões essenciais: 1) quantos filmes de episódios cruzados seremos obrigados a ver até que alguém perceba que essa merda está esgotadíssima? 2) Quantos aspectos o realizador Paul Haggis pode roubar ao estilo de Steven Soderbergh? Se alinhássemos num "jogo de shots", em que cada um bebesse conforme cada acrescento à segunda resposta, acabávamos todos bêbados (e a rir do Crash). "Isto é um assalto! Passa-me tudo o que o Traffic tem de bom!" E este assalto não deixa Soderbergh sequer com cuecas ou óculos de massa: leva-lhe a narrativa vertical (dos mais poderosos aos mais pobrezinhos), a distinção dos vários fios narrativos através de um código de cores (de surra, vá lá), as expressões sérias das pessoas enquanto guiam, o elenco misto de actores mainstream e outros mais aventureiros, o registo de câmara em mão e até a música que Cliff Martinez gravou para a brilhante banda-sonora de Traffic. Mas este Paul Haggis é um gajo sôfrego e atreve-se ainda a roubar a sequência de Magnólia, a saga familiar de Paul Thomas Anderson, em que é feito o ponto de situação emocional de todos ao som de “Wise Up”, de Aimee Mann. Humm… nada parecidos. Toda esta sequência de roubos é agravada por um conjunto de personagens sem graça e por uma mão cheia de cenas em que Brendan Fraser prova que é mesmo um dos piores actores do cinema a cores. Crash não é sequer credível no seu ritmo de trinta coincidências por minuto. Repare-se, por exemplo, em como toda a gente se encontra numa cidade com o tamanho gigantesco de Los Angeles. Impressionante. Não há paciência e tudo piora à medida que o filme avança. Nos momentos em que quer atingir um pico dramático, Crash obriga-nos a escutar uma música insuportável de Enya (ou da irmã dela) para sabermos que nos devemos comover,  enquanto o Matt Dillon abraça a mulher que apalpava à bruta há apenas meia hora atrás. E esta merda ganhou o Óscar para Melhor Filme?! Não merecia sequer a vaga para um final de tarde num domingo da TVI.