Fomos lá e vimos: Black Bombaim + La La La Ressonance

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Música

Fomos lá e vimos: Black Bombaim + La La La Ressonance

Harmonia é isto.

Corria a terceira — ou quinta, se se estiverem a armar ao cagalhão — edição do Milhões de Festa quando se deu o primeiro coito público entre os Black Bombaim e os La La La Ressonance. Qual George Clooney à deriva no espaço, esse primeiro choque iniciou um trajecto de aceleração exponencial — depois de mais um concerto no Amplifest e outro no Zigurfest as duas bandas decidiram finalmente assumir o compromisso e registaram o seu amor para a eternidade num 12 polegadas. O primeiro dos concertos de apresentação do disco teve lugar no dia 20 de Março, na solene casa de Passos Manuel, no Porto. Havia muita gente que sabia ao que vinha, e outros que apenas fantasiavam. Afinal, de um lado tínhamos uma banda de prog/stoner/psicadélico, e do outro um colectivo de experimental/jazz/fusão. Como poderia, então, esta nova entidade ser retalhada e encaixada em géneros? A resposta é obviamente que não, não poderia. O Paulo Miranda inaugurou o palco, um arauto da limpeza catártica que tratou de nos remeter ao aqui e ao agora com uma espiral de choro inclemente do seu alto sax. Aos poucos, os restantes marialvas tomaram as suas posições, e prontamente varreram a sala com uma parede de som sólida e assertiva. Começava aqui uma exploração de sons evocativos que se recusavam a assemelhar a algo familiar. Com “Carpa” parecíamos explorar a atmosfera sulfurosa de Vénus, com percussão arrojada a guiar-nos por entre as nuvens de guitarras venenosas. Já “Kin” remeteu-nos para uma viagem sob os mares de etanol de uma das luas de Saturno, guiados por linhas de baixo que funcionavam como uma âncora que nunca aprendeu o que é a gravidade. E algures entre estas viagens, coube ao novíssimo membro dos La La La Ressonance, Luís Fernandes (The Astroboy), fazer pontes iridescentes entre a personalidade de uma e outra metade deste monstro. A tentação de passar um concerto assim a tentar distinguir a voz dos Black Bombaim ou a voz dos La La La Ressonance era inevitável: mas foi mandada às urtigas logo ao fim da primeira composição. Quem esteve em palco não foi uma banda nem outra. Foi algo ulterior à soma das partes. Já dizia o outro: “water can flow, or it can crash”. Black Bombaim e La La La Ressonance foram água, meus amigos. Fotografia por Daniel Sampaio

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