O mundo desta ilustradora é erótico, violento e maravilhoso

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma i-D.

Kristen Liu-Wong é uma artista de Los Angeles que cria imagens coloridas de mulheres e animais. Se parares de ler por aqui, ficas com a ideia de que estamos a falar de mais uma daquelas jovens que se dedicam a composições gráficas em tom pastel, com miúdas giras e cavalinhos. Não é de todo errado, mas, para além das colagens com cavalos e cãezinhos, dá-se o caso que o trabalho de Kristen transmite uma mensagem sobre sexo, violência, género, abuso, fétiches e ficção científica.

As suas musas são divertidas, mas também perigosas, violentas, aéreas e vulneráveis. Ao falar com ela, uma pessoa dá-se conta do muito que podes encontrar sobre ti própria na imagem de uma mulher que dispara uma arma laser, ou que tem relações sexuais com uma criatura alienígena. Ou seja, a sua arte é complexa e excitante, tal como o são as mulheres.

Quando estava a preparar esta entrevista, não conseguia deixar de pensar no teu trabalho como uma mistura de erotismo e terror.

Na minha cabeça (e na nossa cultura) essas duas ideias estão, na verdade, relacionadas. A ideia de perigo é fascinante e muito atraente, por isso estão ligadas de uma forma natural. Ambas apresentam elementos de mistério e desconhecido. Parte disto é, claro, fantasia, já que a ideia de que alguém me apontasse uma faca à garganta enquanto estou a foder é algo completamente horrível e aterrador, na vida real. O sexo pode ser perigoso e interessa-me explorar essa vertente.

As tuas personagens femininas desempenham um papel sedutor, mas também são bastante violentas.

Tenho muito prazer em representar mulheres que são atraentes, mas também ameaçadoras, acho que é algo mais interessante. Se decidisse retratar mulheres que apenas são sexy, seria muito aborrecido. Ao dar-lhes esse toque de mistério, ou violência, tento mostrar personalidades mais complexas. Ainda que a sua imagem seja sexy, normalmente coloco-lhes uns olhos negros horripilantes, ou texturas de pele asquerosas, para que haja algo visualmente inquietante que contraste com essa sexualidade.

São uma espécie de auto-retratos?

Na vida real sou bastante pacífica, por isso gosto de pintar guerreiras dominadoras, que tomam as rédeas.

Falámos sobre sexo e violência, mas algumas das tuas imagens também representam a violência sexual. Qual é a tua narrativa sobre estes temas, num sentido mais amplo?

Como já disse, ambos estão relacionados, por isso são algo inevitáveis. Suponho que é a razão pela qual tento retratar mulheres muito fortes e dominadoras. Muitas vezes somos vitimizadas e transformamo-nos na presa, mas ao criar estas figuras femininas anti-naturais e super-dominantes tento mostrar o quão poderosas podemos ser.

Parece que tens na cabeça uma mulher bastante desenvolvida quando crias o teu trabalho. Fala-nos mais sobre isso.

Ultimamente tenho estado a pintar estas mulheres a quem, em jeito de brincadeira, chamo "bruxas espaciais". São tudo o que quero ser. Podem ser cruéis e violentas, mas também frágeis e completamente carentes. São sensuais e feias ao mesmo tempo e grande parte da sua atractividade advém da vulnerabilidade que demonstram.

Normalmente as mulheres não se representam como agressoras. Há uma parte de ti que quer criar um trabalho o mais intenso possível para, precisamente, acabar com essa ideia?

Sim! estou cansada de ver mulheres representadas como estúpidas e bonecas de brincar. Somos pessoas, temos o potencial para ser tão boas como más, agressivas e submissas, bonitas e horrorosas.

Falamos muito sobre mulheres, mas os animais são também, claramente, um dos teus temas favoritos.

Sempre adorei animais e sempre foram uma espécie de consolo ao longo da minha vida. Acho que é importante que os represente no meu mundo inventado, visto que têm uma presença forte no meu mundo real. Os animais também podem ter esses significados simbólicos, que, aliás, sempre tiveram desde tempos remotos. Acrescentam mais uma camada à imagem.

Ultimamente tenho pintado muito serpentes, não só porque têm um aspecto incrível, mas também pelo que representam: o mal, o sexo, o conhecimento, o perigo. Uma serpente traz-nos todas essas ideias à cabeça quando, por exemplo, vemos uma criança a fazer-lhe festas.

Julgo que devíamos respeitar mais os animais, por isso tento representá-los como seres poderosos à sua maneira. Habitualmente como companheiros fiéis ou com uma presença reconfortante para uma figura, noutras ocasiões também como protectores. Se aparecem como presa, tento utilizar isso para mostrar o cruel que é ferir alguém tão vulnerável.

@kliuwong