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Entretenimento

​Toda a Internet será arquivada no Canadá para contornar a possível censura de Trump

A lógica: se o discurso de censura do presidente eleito for mesmo a sério, o Internet Archive terá uma cópia num país onde as leis norte-americanas não se aplicam.​
Foto via Flickr/Gage Skidmore

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Motherboard.

À medida que, nos Estados Unidos da América, Donald Trump se aproxima da Sala Oval, uma organização que arquiva a Internet e a disponibiliza para qualquer pessoa está a criar um backup completo da rede no Canadá a fim de a proteger de uma possível censura.

Sediada no território americano, The Internet Archive é uma organização sem fins lucrativos, que tem vindo a arquivar a web ao longo de 20 anos. Até ao momento, catalogaram o equivalente a petabytes de conteúdo e garantem que continuam a arquivar 300 milhões de novas páginas todas as semanas.

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O gigantesco banco de dados permite que a organização disponibilize serviços como a Wayback Machine a que qualquer um pode aceder para encontrar uma versão salva da maioria das páginas da web, algumas com vários anos de idade.

O grupo refere-se a si próprio como uma espécie de biblioteca e, como comentado num post recente, "a história das bibliotecas é feita de derrotas", seja por causa de desastres naturais, ou por causa de mudanças de regimes políticos.

"Durante a sua campanha, Trump pareceu favorecer uma postura dura no que respeita à censura à Internet".

Com um governo Trump, possivelmente pró-censura, à espreita, o Internet Archive não quer correr riscos e lançará em breve o "Internet Archive of Canadá", já que as informações digitais armazenadas no exterior não estarão sujeitas às leis norte-americanas.

Toda a equipa e o espaço em servidor necessário "custará milhões", de acordo com o grupo, que está a recolher doações. Até ao momento, o Internet Archive não respondeu à nossa tentativa de contacto, mas, num post colocado há pouco tempo os responsáveis afirmam: "A eleição de Donald Trump foi um forte lembrete de que instituições como a nossa, construídas para o longo prazo, têm de se preparar para a mudança". E acrescentam: "Para nós, isso significa manter o nosso material cultural a salvo, privado e eternamente acessível. Significa prepararmo-nos para enfrentarmos, provavelmente, uma rede com maiores restrições".

Durante a sua campanha, Trump pareceu favorecer uma postura dura no que respeita à censura à Internet, ao dizer que a indústria tecnológica tem de "fechar a Internet" para acabar com o crescimento do extremismo. "Alguém dirá: 'ah, mas e a liberdade de expressão'. Essas pessoas são idiotas", disse na altura.

Se o discurso de Trump for a sério, pode, obviamente, dar muitas dores de cabeça ao Internet Archive. A iniciativa anti-extremista Clarion Project, por exemplo, tem postado edições da revista do Estado Islâmico Dabiq, que, por sua vez, foram arquivadas pelo Internet Archive. Se alguma lei dissesse que tais revistas devem ser inacessíveis aos cidadãos dos EUA, o Clarion Project poderia ser obrigado a retirá-las do ar, mas continuariam a existir no Internet Archive como documento histórico.

Preparados para receber refugiados do governo Trump, a maioria dos canadianos, todavia, não estaria à espera de receber uma cópia integral da Internet.