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Quando morrer quero ser mumificado

Mas vai sair-me caro.

Esta semana andei constipado com a mudança de estação e comecei a pensar na minha mortalidade. Cheguei à conclusão de que não quero ser enterrado nem cremado. Felizmente, encontrei a Feiticeira Cagliastro, de Nova Iorque, que se dedica à mumificação. Telefonei-lhe para fazer umas perguntas e acertar os detalhes. No final da entrevista têm alguns exemplos do trabalho de mumificação e embalsamento da nossa nova amiga. VICE: Então, o que é que tu fazes mesmo?
Feiticeira Cagliastro: Sou mumificadora. Faço e preparo mumificações tradicionais como faziam os egípcios antigos. Isto implica um trabalho que demora vários meses. Aprendeste a fazer isso com o filme A Múmia?
Hm, não. Não existem quaisquer registos desta prática, tive de desenvolver uma fórmula para tornar possível a mumificação. Levou-me cerca de cinco anos a chegar a uma pré-fórmula e mais outros cinco a experimentar para a aperfeiçoar, por isso já ando nisto há uns dez ou 12 anos. Isto não é bem ir jogar bilhar com os amigos numa sexta à noite. Como é que te meteste nisto?
Pois não. Há uns anos tive um acidente de carro e fiquei hospitalizada. Durante o tempo de recuperação comecei a questionar a mortalidade do ser humano e decidi pesquisar sobre mumificação, um tema que sempre me interessou. Mas sim, não é a coisa mais normal do mundo, não conheço mais ninguém que faça isto. Há muita procura?
É engraçado perguntares isso. Se fosse há um ano dizia-te que não. Agora há muita gente que me telefona e vem ter comigo para mumificar os seus animais de estimação. Costumam contactar-me antes do animal morrer, mas também recebo cães e gatos atropelados. É mais difícil mumificar nesses casos. Quando eu morrer podes mumificar-me?
Posso. Ainda não fiz mumificações humanas, mas tenciono fazê-lo em breve, nos próximos dois anos talvez. Já tive pessoas interessadas que me abordaram sobre isso, por isso vai acabar por acontecer. Para além disso, já fui agente funerária e embalsamadora, por isso estou confortável no que diz respeito ao assunto da morte. Isso é brincadeira para custar quanto?
Ainda não sei. Quando são animais pode ir desde 800 a quatro mil dólares, e são trabalhos que demoram entre três meses a um ano. Uma pessoa deve ficar por 15 mil ou 20 mil, depende do caso. Qual foi a coisa mais fixe que já mumificaste?
Um caimão. Foi diferente de qualquer outro animal que já mumifiquei. A pele deste réptil é muito particular. Outros animais, como cães, gatos ou pássaros, são mais fáceis. Aposto que o teu dia de aulas favorito foi quando te puseram uma rã à frente para dissecar na aula de biologia.
[Risos] Sim, já lá vão muitos anos. É curioso, estas coisas nunca me incomodaram. Sempre me senti à vontade com a anatomia dos seres vivos. Achas que depois da merda dos vampiros, as múmias vão ser a próxima grande cena?
Isso da cultura pop não me interessa nada. A mortalidade de nós, humanos, e a preservação do ser depois da morte é algo que levo muito a sério. Já para não dizer que isto é uma actividade profissional, para fazer estas coisas tenho que ter seguro, como deves imaginar. Emprego assistentes e estagiários, etc. Isto é muito mais cientifico do que oculto. Ok, eu entro em contacto daqui a uns 50 anos. Adeus.
Até lá! Tatu embalsamado. Coração de vaca com uma espécie de atacadores. Coração de faisão que funciona como um cadeado. Coração de pomba mumificado. Macaco amazónico envolto num embrulho de cabedal. Pombo de corrida. Saco de ovas de enguia. Fotografia por Feiticeira Cagliastro