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O Ultraviolento “Hotline Miami 2” Já está Proibido na Austrália

O jogo 8-bit já atingiu o status cult e sua continuação vem sendo considerada um dos jogos mais violentos da história.

Quando Jonatan Söderström e Dennis Wedin, os desenvolvedores da Dennaton Games em Gothenburg, na Suécia, revelaram seu primeiro título para o mundo em outubro de 2012, eles não imaginavam que isso iria ultrapassar o status cult e se tornar um dos jogos indies contemporâneos de maior sucesso.

Jogo sangrento de tiro com gráficos retrô e uma trilha sonora de música eletrônica atmosférica, Hotline Miami usava suas influências de Drive com orgulho, mas ainda se destacava de outros títulos do mercado. Passado na Miami dos anos 80, o game levava o jogador para uma jornada sórdida de violência visceral. O jogo, que ganhou um 10/10 do site PC, também está disponível para plataformas da Sony, além de OS X e Linux. Tom Bramwell, do Eurogamer, escreveu: "Isso só funciona como um todo, ele não bate como um sabor: ele se constrói no seu sistema, com uma solução intravenosa". Provavelmente preparada com massa encefálica raspada da parede de um corredor. Mais elogios se seguiram, e depois vieram os prêmios.

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"Não achávamos que o primeiro jogo iria vender bem", confessou Dennis. "Era um projeto muito indie. Não estávamos pensando no que as pessoas queriam jogar – fizemos o jogo que queríamos jogar."

Acontece que centenas de milhares de outros gamers também queriam jogar algo assim. A Dennaton vendeu 130 mil cópias de Hotline Miami nas primeiras sete semanas. Em fevereiro de 2013, esse número já tinha muito mais do que dobrado. Começaram rumores de uma sequência, o que foi confirmado quado um teaser estreou ao vivo em junho de 2013.

Mas Dennis e Jonatan não apressaram o lançamento de seu segundo jogo Hotline. Quando isso finalmente sair – o que pode acontecer em março, considerando as novas mensagens assustadoras de secretária eletrônica, apesar de a dupla ter me confirmado apenas com um "logo" quando perguntei isso para eles –, quase dois anos terão se passado entre o anúncio e o lançamento. Ou seja, o tipo de calendário com que Grand Theft Auto V trabalhou.

O que só pode estar certo. Especialmente depois de a dupla ter declarado que a sequência de Hotline Miami, passada nos anos 90 e com o subtítulo Wrong Number, será o jogo final da série. Assim como se recusaram a se comprometer da primeira vez, os desenvolvedores bateram o pé nesse número dois – mesmo diante da polêmica causada por uma cena em particular, que retrata um estupro, e uma proibição total no mercado australiano. A Dennaton divulgou a tal cena (opcional e aparentemente simulada, num cenário de filme) no YouTube antes do lançamento do jogo; então, você pode ver por si mesmo se isso merece ou não as manchetes que tem recebido.

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Entre as publicações que usaram uma retórica particularmente forte, está o The Mirror, que publicou um artigo no dia 15 de janeiro intitulado "Cena de Estupro em Hotline Miami 2 Leva à Proibição. Críticos Rotulam o Game como o 'Mais Violento' da História". Depois da proibição na Austrália, ficamos imaginando como a Dennaton recebeu a notícia de que o espetacularmente gore Mortal Kombat X, que usa visuais realistas, foi liberado para distribuição no país, embora apenas para maiores de idade. Essa notícia chegou recentemente, depois de eu ter conversado com Dennis e Jonatan.

Hotline Miami 2: Wrong Number – trailer.

VICE: Vocês disseram que Wrong Number será o jogo final da série Hotline Miami. Isso porque vocês já fizeram tudo que podiam com o jogo e seu elenco de personagens?
Jonatan: Tivemos muitas ideias depois que terminamos o primeiro jogo, e agora estamos fazendo um jogo baseado em todas essas ideias. Não acho que vamos pensar em nada novo para acrescentar agora. Queremos muito fazer novos jogos. Não queremos fazer um Hotline Miami 3.

Você se sentiram pressionados para fazer essa sequência, já que o primeiro jogo foi um sucesso tão grande? Vocês sentiram que deviam isso às pessoas, aos fãs do jogo?
Dennis: Na verdade, não. Ainda estamos fazendo o jogo que queremos fazer. Muita gente nos disse que ele parece muito com o primeiro. Mas, sim, queríamos fazer mais disso, então…

Mas há algumas alterações substanciais que já foram mostradas, como a fase de edição e a possibilidade de se jogar com vários personagens, cada um com talentos especiais. O que vocês mais querem ver nas mãos do público desta vez?
Jonatan: Acho que a coisa mais divertida desta vez é a narrativa, ver como as pessoas vão interpretar isso e se elas vão gostar ou não.

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Dennis: Quero ver como as pessoas vão reagir aos novos personagens. Quero saber quem elas vão favorecer e quem vão odiar.

Esse é um jogo em que você pode terminar sem usar todos personagens, um pouco como Maniac Mansion?
Dennis: Não. Você tem de usar todos os personagens. Cada fase foi pensada para um personagem, conectada a ele. Você vai pular entre diferentes perspectivas.

Jonatan: Fora "The Fans", no qual é possível escolher que personagem usar. Mas esse não é o caso na maioria das outras fases.

E estou certo em pensar, em se tratando de enredo, que a história não é linear?
Dennis: Sim. A história é mais importante desta vez. No primeiro, não sabíamos se as pessoas iam prestar atenção à história; então, só focamos na jogabilidade. E todo mundo realmente gostou disso; então, para a sequência, todo ambiente tem sua própria história. Há mais disso no jogo.

Wrong Number foi proibido na Austrália. Vocês já achavam que isso ia acontecer? Afinal, os australianos têm uma reputação por esse tipo de coisa?
Jonatan: Não foi uma surpresa. Fomos avisados de que eles eram muito rigorosos.

Dennis: Tivemos muitos problemas com o primeiro jogo lá. Levou muito tempo para conseguirmos a certificação.

As pessoas vão perguntar por que a cena mais criticada, a do estupro, não foi removida. Por que vocês não removeram isso, já que era um dos principais problemas para a liberação na Austrália?
Dennis: É parte da história, da ideia que tivemos. Não queremos falar sobre isso antes que as pessoas joguem o jogo. Aí elas vão poder falar sobre isso no contexto.

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Foi frustrante ver o The Mirror chamar Wrong Number de o jogo mais violento da história?
Jonatan: Não é tão frustrante assim. É um tanto abstrato que tanta gente tenha opiniões sobre um jogo que ainda nem jogaram. Então, não pensamos muito nisso. É até cômico que eles estejam falando de algo que ainda nem existe completamente.

E vocês não vão mesmo produzir uma versão censurada do jogo?
Jonatan: Existe a opção de censurar o jogo enquanto você joga; então, ninguém precisa ver a cena de estupro. Achamos que isso é suficiente.

Dennis: Além disso, não foi só por aquela cena que o jogo foi proibido. Houve outras coisas. Então, seria uma tarefa complicada "consertar" o jogo apenas para um mercado. Teríamos de remover fases inteiras; então, isso realmente não é possível.

Vocês disseram que os australianos deveriam piratear o jogo se quisessem jogar. Uma declaração um tanto forte. Mas, se as pessoas fizerem isso, e a reação for grande, isso representa uma vitória contra a censura?
Jonatan: Não acho que veríamos isso como uma vitória. Só queremos que as pessoas que quiserem jogar possam fazer isso.

Dennis: Queremos que as pessoas pensem por si mesmas, formem sua própria opinião, não que tenham uma opinião forçada a eles.

Videogames violentos estão aí desde sempre. Vocês provavelmente não acham Wrong Number o jogo mais violento de todos, certo?
Dennis: [risos] Não! Mas é interessante que ele seja visto como o mais violento de todos, afinal ele é em 2D. É muito lo-fi. Achei bem legal as pessoas terem dito isso.

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Falando disso bem rapidamente: a música de Wrong Number vai sair em vinil, dando um lado físico para um produto que é muito digital. Vocês acham que isso é algo que outros desenvolvedores, trabalhando em jogos para baixar, deveriam estar fazendo?
Dennis: É incrível. É como um troféu. É legal para os músicos terem algo que é o produto deles – não apenas o jogo. Bom, quando você compra o disco, você leva o jogo digitalmente também, mas é mais uma coisa deles. Uma celebração da música, e não só do jogo.

Jonatan: Mas nem todos os jogos têm a opção de fazer algo assim, porque sai caro. Tem de valer a pena, acho – ou os desenvolvedores têm de estar realmente apaixonados pela ideia.

Dennis: Adoramos coisas [tipo] edição limitada – e adoramos discos.

Jonatan: Temos um action figure saindo também. Começamos isso com um cara nos EUA. É um trabalho DIY, mas é muito incrível e grande. Ele tem, tipo, uns 8 centímetros.

Dennis: As roupas são removíveis, assim como as máscaras. É incrível. Mal posso esperar para ter um desses na minha estante.

Hotline Miami 2: Wrong Number deve ser lançado em março. Encomende a trilha sonora em disco triplo de vinil – que vem com o jogo – aqui.

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Tradução: Marina Schnoor