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​A Guerra Contra a Caça Ilegal É Como a Guerra Contra as Drogas

O desmantelamento de um grupo organizado em Moçambique foi resultado de meses de trabalho.
O contrabando confiscado no começo da semana. Crédito: WCS

Moçambique, um país em que mais de 900 elefantes foram caçados ilegalmente nos últimos três anos, fechou uma grande associação de caça no começo desta semana, um dos primeiros sucessos de uma nova estratégia de fiscalização que valoriza a inteligência e longas investigações policiais além das patrulhas comuns em áreas protegidas onde residem elefantes.

Se a tática soa familiar, é porque você provavelmente a reconhece do combate ao tráfico de drogas. Por mais que a campanha como um todo tenha resultados variados, geralmente reconhece-se que é melhor cortar o crime organizado pela cabeça do que se preocupar com os níveis menores da organização.

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Especialistas da área dizem que o país eliminou um de cinco grupos bem organizados que caça elefantes na Reserva Nacional de Niassa, o que é uma ótima notícia. Mas, apesar de a ação ter sido bem sucedida, o fato de que pelo menos quatro grandes grupos seguem suas atividades é um indigesto lembrete de que a caça ilegal está cada vez mais próxima do tráfico de drogas. Quando uma operação é encerrada, surge outra: simplesmente é muito dinheiro a ser ganho.

De forma alguma sou o primeiro a apontar este fato, e com a associação destes grupos de graça cada vez maior com grupos terroristas e demais criminosos internacional. Mas o flagrante em Moçambique mostra que a polícia lá está começando a usar táticas empregadas nos EUA (com níveis variados de sucesso) para reprimir o tráfico de drogas.

Christian Samper ao lado de um elefante abatido ilegalmente em Niassa. Crédito: Alastair Nelson/WCS

Seis pessoas foram presas, e quatro delas acredita-se estarem envolvidas não só com a caça, mas também em atividades maiores no crime organizado. Incluindo aí o tráfico internacional de marfim, de acordo com Christian Samper, CEO da Sociedade Pela Preservação da Vida Selvagem, que estava em Moçambique.

Colocar a mira em alvos maiores no mercado ilegal de animais selvagens é um passo além da política padrão de áreas de preservação e reservas nacionais. O pensamento – muito próximo de como ocorre com as drogas – é que se você encontrar um informante ou dois e prender gente de maior calibre, se fará muito mais para reprimir a atividade ilegal do que pequenos flagras ou prender um caçador ou outro em ação.

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Neste caso, as autoridades afirmam que a investigação seguia há mais de 10 meses e a ação policial contou com membros da comunidade local para informar sobre os supostos envolvidos com a associação. De acordo com Samper, 12 presas e dois rifles foram confiscados.

Mas assim como no tráfico, a caça ilegal não vai parar só por conta de alguns flagrantes no lado dos fornecedores. Como a existência destes é uma parte importante da estratégia de supressão ao tráfico, especialmente no caso de animais selvagens raros, para parar o comércio, é preciso acabar com a demanda.

"Temos que parar a matança, o tráfico, e a demanda", declarou Samper. "A caça ilegal continuará até que acabemos com a demanda por marfim em lugares como a Ásia, como Nova York."

Elefantes em Niassa. Crédito: Christian Samper

A diferença óbvia entre o tráfico de drogas e de marfim, é claro, é que os elefantes não são de produção comercial; os argumentos em prol da legalização das drogas não se aplicam à vida selvagem, onde uma ação maior do mercado levará espécies para mais perto da extinção.

Os países tem obrigação de proteger espécies ameaçadas e o ecossistemas em que estas vivem. Como existem muitas pessoas que diriam c'est la vie para quem produz e vende cocaína e maconha, não pode-se permitir o abate no atacado de uma espécie.

Nesse sentido, a ação da polícia em Moçambique tem que ser considerada uma vitória (ainda mais se levarmos em conta que no ano passado, guardas florestais de Moçambique foram pegos trabalhando em conjunto com os caçadores para matarem rinocerontes, agora extintos no país).

"O que importa pra mim é pararmos com a matança em regiões como Niassa a partir das boas relações que temos com as pessoas no local, usando as informações que coletamos", afirmou Samper. "Não basta estar lá."

Ele está certíssimo. Acabar com a caça ilegal pode parecer impossível, mas se ela será controlada na parte do fornecimento, tem que ser com trabalho de verdade da polícia e prisões que aconteçam no mais alto escalão. O dever nunca para também: Samper me disse que há mais ações planejadas para o restante desta semana.

Tradução: Thiago "Índio" Silva