Crédito: Steve Allen/ Shutterstock
Você é um muçulmano britânico que pesquisou "como chegar à Síria" no Google? Aí esbarrou em uma animação que detalha os motivos para não se juntar ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS)? Isso não foi acidente, cara: foi o resultado da parceria entre Google Ideas e um instituto de pesquisa britânico.Durante o festival Web We Want realizado em Londres no último fim de semana, o pesquisador Zahed Amanullah do Institute for Strategic Dialogue (ISD) explicou como sua organização tem parcerias com Facebook, Twitter e Google para usarem as mesmas técnicas dos gigantes de tecnologia na hora de promover uma propaganda anti-extremismo.A tática é simples e direta: em vez de apenas tirarem do ar conteúdos radicais, a iniciativa do ISD tenta lutar contra o ISIS com os mesmos métodos que nos fazem clicar em algo de modo quase instintivo. "O que fazemos é usar seus recursos para ajudar a ampliar vozes confiáveis", disse Amanullah.No exemplo citado por Amanullah, sua organização bombou uma série de vídeos no YouTube postados pela Against Violent Extremism, uma rede de ex-radicais. Na mídia, os ativistas listam razões pelas quais as pessoas não deveriam viajar à Síria para se juntar ao ISIS. Os motivos que levam os usuários ao vídeo ficam ocultos. "A ideia é não deixarmos nossa marca ali", diz o pesquisador, que ressalta não querer que a mídia seja identificada como parte de seu projeto."Com ajuda do Google, fizemos testes com variações e determinamos certos públicos como alvos", disse. "Contamos com alguns conselheiros para nos ajudar a melhorar o trabalho — sem alterar o conteúdo, não nos envolvemos nisso.""Durante um período de seis semanas, alcançamos mais de 50.000 jovens em situação de risco", explicou.Amanullah me falou, depois da conferência, sobre como escolhiam o público. "Determinamos os alvos por geolocalização ligados às buscas dentro da Grã-Bretanha com anúncios previamente selecionados após o uso de determinados termos — de informações gerais sobre o Islã à informações específicas sobre ir para a Síria para o jihad", falou. "Os anúncios levavam a vídeos que revelavam informações de perfis em caso de estar logado à contas do Google/YouTube. Os termos mais específicos que pareciam estar mais ligados a um interesse no radicalismo ou na situação na Síria indicavam uma probabilidade de se alcançar jovens em situação de risco na região-alvo."Muçulmanos britânicos buscando informações sobre o Islã pode parecer algo amplo demais, mas Amanullah afirmou durante o festival que suas ferramentas conseguia chegar a "um grupo muito específico de jovens na Grã-Bretanha". "O ponto principal é chegar às pessoas suscetíveis e que já mostravam interesse no assunto."
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Os alvos da ação eram jovens muçulmanos britânicos que buscaram termos como viagem para a Síria. Amanullah e sua equipe fizeram com que o vídeo parecesse ter sido postado pelo ISIS de forma a atrair a atenção daqueles que optam por este tipo de conteúdo. Eles então alternaram extensão e palavras utilizadas na descrição do vídeo — técnicas clássicas de CEO e construção de público — para ver o que funcionaria melhor."Durante um período de seis semanas, alcançamos mais de 50.000 jovens em situação de risco."
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O ISD testou 20 versões do vídeo e mediu seu êxito com métricas padrão de rede, como a média de segundos assistidos. Os organizadores consideraram o projeto um sucesso; segundo Amanullah, as lições aprendidas serão aplicadas em outras mídias sociais. "Se tivéssemos mil desses, em diferentes comunidades com diferentes nuances e diferentes backgrounds culturais, talvez consigamos fazer algo", afirmou.Ainda é cedo e mais pesquisa é necessária para compreendermos as melhores formas de lidar com radicalismo na rede. Tanto Amanullah quanto Katherine Brown, palestrante em Estudos de Defesa da King's College de Londres e também participante do festival, sugeriram que o trabalho para lidar com o conteúdo do ISIS na rede corre riscos já que os governos planejam banir conteúdo radical e acabam forçando a mão das redes sociais ou impedindo que este tipo de conteúdo seja postado. "Quando você começa a banir certos materiais e impede que sejam vistos por todos, ele se esconde… O que dificulta muito mais contra-atacar porque eles não estão visíveis", comentou Brown.Amanullah afirmou ainda que qualquer medida eficaz tem que "reconhecer os agravos". De acordo com ele, uma das queixas que leva à radicalização é o governo controlar aquilo que as pessoas podem falar ou sentir."Temos noção disso", comentou o palestrante. "A resposta ao discurso de ódio muitas vezes consiste em mais discurso, um discurso que afaste. Mesmo que você tenha que mexer em resultados de busca para que ele seja visto."Tradução: Thiago "Índio" Silva"A melhor resposta ao discurso de ódio muitas vezes consiste em mais discurso, um discurso que afaste."