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Música

Enquanto tu estudavas, o Dylan Baldi criou os Cloud Nothings

Fiquem desde já a saber que em Junho virão a Portugal.

Além de tudo o que sabemos e daquilo que alguma vez foi dito em prol da invenção da internet, inclusive pelo Papa Francisco quando a apelidou carinhosamente de “dádiva de Deus”, há que a aceitar enquanto força potenciadora de toda uma corrente de artistas deste milénio. A constante partilha de conhecimento e de informação abre janelas de oportunidade que facilitam em muito o acesso a artistas e públicos. Se por um lado tiram a piada à descoberta de

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bootlegs

 e cassetes, por outro permitem a explosão de bandas e não só.

Entra (ou faz

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) Dylan Baldi, um tipo que há uns anos gravava, camada por camada, faixas repletas de ruído e de vontade de fazer algo de si mesmo, na cave dos pais, em Cleveland. Acabou por se tornar na face dos Cloud Nothings, banda que juntou em redor do seu crescimento pessoal e musical, e que faz crescer a partir do que continua a compor e da sua determinação em fazer mais.

A mim, chamaram-me a atenção quando, há dois anos atrás, atacaram o que até então neles era reconhecível de forma visceral, através de um terceiro álbum apropriadamente chamado de

Attack on Memory

. Avançando até ao presente, o lançamento previsto para Abril do quarto trabalho da banda,

Here and Nowhere Else

, serviu-me de motivo para também eu fazer uso da internet e (finalmente) inscrever-me no Skype para falar com o Dylan e perceber o que move um tipo mais novo que eu a criar tanto em tão pouco.

VICE: Os Cloud Nothings começaram contigo. Ainda eras muito jovem e já tocavas, gravavas e misturavas faixas na cave dos teus pais e publicavas na internet. Era um hobby teu, ou já na altura tinhas em mente avançar para um projecto a sério?

Dylan Baldi:

Queria apenas algo para fazer, algo que me permitisse tomar outro caminho que não a faculdade. Na altura ainda estudava, mas odiava tudo. Fazer música pareceu-me uma escolha legítima para mudar de vida, até porque eu adoro música.

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Então, foi um escape para fugires aos estudos.

[Risos] Sim, de certa forma. E também uma oportunidade de viajar e ver o mundo, em vez de ficar confinado a um lugar.

Nas tuas gravações mais antigas eras tu quem tocava todos os instrumentos, não eras?

Sim, os primeiros dois álbuns foram exclusivamente meus.

Isso é o mais incrível. Onde, ou como, é que aprendeste a tocar?

Tive aulas de piano e de saxofone quando era puto. O resto, guitarra, baixo e bateria, tive de aprender sozinho.

E o resto da banda? Quando é que decidiste juntar toda a gente?

Juntei a banda para o primeiro concerto que demos, em Dezembro de 2009. E até hoje é a mesma banda… Tocaram no

Attack on Memory

 e no

Here and Nowhere Else

, e são todos meus amigos de longa data, de Cleveland, a minha cidade natal.

Isso quer dizer que eles estão contigo desde o início. Mas disseste que os primeiros álbuns foram feitos exclusivamente por ti.

Certo. De início era muito mais fácil para mim fazê-lo eu mesmo. Mas acho mesmo que um álbum soa melhor quando a banda grava comigo.

E o processo criativo, alterou-se com a entrada em cena da banda? Ou ainda tens a tendência de escrever e compor a maior parte das músicas sozinho?

Não, o processo criativo não se alterou; ainda faço tudo sozinho. Depois mostro tudo à banda, e aí sim, juntos, transformamos tudo em canções “a sério”.

Estou a ver. Perguntei-te porque as tuas gravações mais antigas eram muito mais negras e agitadas. A tua música parece ter evoluído para um estilo mais nítido e acentuado, uma espécie de rock mais áspero e agressivo. A banda deve ter tido influência nesse resultado.

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Sim, sem dúvida. Especialmente o nosso baterista. Eu não sou lá grande coisa na bateria, mas quando ele toca consegue realmente transformar as faixas em algo que nunca conseguiria alcançar se o fizesse sozinho.

Tenho de concordar contigo, soa tudo muito mais a “banda”. Mas não é só isso. Também me parece que a tua música evolui de forma intrínseca contigo, não achas?

Acho que esse tipo de coisas acontece naturalmente. Não é algo em que pense quando me sento para compor, mas de certeza que tudo o que faço está de alguma forma ligado àquilo que oiço e àquilo em que realmente penso quando me sento para compor. É normal que isso mude à medida que vou crescendo e ficando mais velho.

Claro, é expectável. Mas o que quero dizer é que, bem, tu és um tipo jovem e ainda estás a crescer. Na verdade és mais novo que eu e isso não é algo que possa dizer muitas vezes. Aquilo que sinto com cada novo lançamento teu, fruto também de seres bastante prolífero e lançares assiduamente, é que consigo perceber e acompanhar esse crescimento pessoal, além claro, do progresso da própria banda.

Isso é porreiro. Não me tinha apercebido disso e não é algo que faça de propósito, mas há-de ser divertido um dia, mais tarde, poder olhar para trás e ter estes discos todos a documentar de alguma forma quem era aos 18, 19, 20 anos. Tenho de lançar coisas novas de forma constante, senão parece-me que sou preguiçoso.

No Attack on Memory, exploravas temas mais obscuros e duros, além de uma sonoridade bem mais pesada. Este novo álbum é muito menos depressivo. Também é mais ruidoso, tem mais texturas e linhas de baixo mais corpóreas, tempos mais animados. Soa bastante a uma mistura dos dois últimos álbuns com bastantes novos elementos e estruturas, apontando ao crescimento.

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Acho que encerrei certos capítulos pessoais que não tinha resolvido enquanto gravava o

Attack on Memory

. Esse álbum foi exclusivamente obscuro, e lidava apenas com uma emoção… uma espécie de raiva. Mas este novo álbum tem muito mais sensibilidade e sentimentos. Não tem apenas um tom. E sim, queremos sempre crescer e avançar. Agora não temos tempo para olhar para trás.

Também acho isso curioso. No ano passado tinhas dito que este álbum não soaria ao último álbum, e que esse álbum não soaria ao anterior. Pareces estar numa constante busca por algo diferente. A minha questão é esta: achas que alguma vez estarás satisfeito?

Suponho que tem a ver com a minha convicção de que há imenso a explorar, em termos musicais e de composição, e certamente não acho que tenha feito tanto quanto posso. Fico satisfeito com cada lançamento por um par de meses depois de estar feito, mas depois quero voltar a experimentar coisas novas. Tenho um apetite bastante voraz por coisas novas, musicais ou não.

Também li algures que não concordas com os géneros a que tendem a ligar os Cloud Nothings.

Não é que não concorde, mas de forma geral não quero simplesmente saber de rótulos. Acho uma cena estranha. Quando oiço música, não penso, “isto é pop punk, isto é techno, isto é rock”. Oiço apenas a música. E acho que é uma cena bem mais interessante de se fazer, bem melhor do que separar e rotular tudo em géneros.

Vocês são comparados com bandas grungy punk como os Wipers. Afinal, onde vais buscar inspiração?

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Todos os bons compositores me inspiram, seja qual for o género. É verdade que aprendi imenso com os Wipers, com o Jim O’Rourke, até com músicas que são populares na rádio. Demasiadas coisas para mencionar.

Última série de perguntas então. Alguma vez vieste a Portugal?

Sim. Estive há pouco tempo em Lisboa e em Sintra, com a minha namorada, de férias. E toquei com os Cloud Nothings no Porto há uns anos (Vila do Conde, 2011, ao lado de Toro y Moi e a convite do

Estaleiro

).

Quando é que o pessoal vos pode voltar a ver?

Brevemente. Portugal é genuinamente um dos meus lugares preferidos no mundo. Em princípio estaremos aí em Junho. E estamos ansiosos.

Fixe. Vemo-nos em Junho.

Obrigado.