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Socialistas outra vez? Não, obrigado

Não é por acaso que os partidos socialistas estão a desaparecer na Europa.
Alexi Lalas

Ilustração de Alexis Lalas.

Não é por acaso que os partidos socialistas estão a desaparecer na Europa. Em Inglaterra reelegeram os conservadores, não porque estavam satisfeitos, mas sim porque a alternativa eram os socialistas lá do sítio (o Labour). Em França basta olhar para o Hollande, uma anedota internacional, um pateta. Na Grécia, o PASOK desapareceu. Em Espanha, depois do Zapatero, já se viu o que se tinha para ver do PSOE e não voltaram a levantar a cabeça. Em Portugal, depois de quatro anos deste carrossel de crise, resgate, despedimentos, manifestações, estava claro que era a vez dos socialistas. Puseram o Seguro a liderar a oposição, um jota de Castelo Branco que desde pequeno queria ser primeiro ministro. Seguro era o espelho perfeito do que representa hoje o partido socialista, e toda a gente viu isso. Tiveram que emendar o erro rapidamente. Sabiam que se depois do descontentamento geral em relação ao actual governo o PS não ganha as eleições é bye bye Maria Ivone, e os socialistas deixariam de ser uma força política alternativa. Era uma questão de sobrevivência da instituição, não se podia correr riscos e portanto, convenceram António Costa a chegar-se à frente. A governação estava assegurada. O que é que aconteceu?

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Em primeiro lugar o facto do eleitorado estar a mudar rapidamente. Não só pela informação que circula livremente mas também pelo próprio desgaste deste "wrestling" do centrão. Não é preciso dizer que isto só se vai agravar quando os "nativos digitais" entrarem na idade adulta. As mensagens do centrão não vão sair do próprio quintal, aquilo não vai chegar a lado nenhum, muito menos a uma geração que vai olhar para aquele vaudeville parolo como se fosse ficção cientifica. A juntar a isto temos uma geração inteira, a geração de Abril, que ficou com cara de idiota depois de uma vida a trabalhar. Todos eles filhos de um mundo que lentamente se vão apercebendo nunca ter existido. Acreditaram num modelo que tinha como base a confiança. Foram enganados.

O problema está em que o PS tem de ter um discurso muito mais socialóide que o PSD para ir para o governo. Este desfasamento entre discurso e governação só faz com que se lhes veja muito mais a careca quando estão a governar e também, faz do PS o partido mais desonesto de todos, com muita diferença. É um problema sistémico, e quando a malta que alimentou este sistema político deixa de acreditar nele, os primeiros a arrumar para o lado são os camaradas bigodes das almoçaradas com empreiteiros (hoje já não têm bigode).

Não percebo nada de economia (e pelo que se passou nos últimos anos deu para ver que afinal ninguém percebe) mas por intuição, depois de ver uma entrevista em que António Costa explica como vai sustentar o aumento da despesa que propõe, é óbvio que não é sério. É muito simples, quando a resposta imediata a esta pergunta é: "vamos taxar as heranças acima de um mihão de euros"- não é preciso ver mais. Não é sério. E o que as pessoas estão a dizer quando voltarem a eleger Passos Coelho para moço de recados é; enquanto não houver alternativa viável, preferimos a Europa a mandar nisto que os socialistas.

O facto de, já não terem público no espaço político está a começar a transparecer numa esquizofrenia em que não inscrevem nada no seu discurso. António Costa é amigo de Sócrates mas não é; em relação à Grécia diz duas ou três parvoeiras ambíguas para não se comprometer com nenhuma posição. E a cereja em cima do bolo, é quando explica para que serve o PS: diz que é "para não estarmos como a Grécia", o que vem confirmar não só esta crise de identidade mas também a própria inutilidade do mesmo.

Conclusão: más notícias. Mais quatro anos de PSD a privatizar coisas e a instalar os afins em cargos públicos e a mostrar contas com receitas extraordinárias todos os anos para pagar juros de empréstimos irresponsáveis que alguém contraiu em nome de todos, e alguém (todos) terá que pagar. Porque como se viu no caso da Grécia, não pagar não é uma opção. Um Estado que precisa de dinheiro emprestado numa moeda que é a sua mas que não controla, não é soberano. A boa noticia é que se arruma já com o PS o que vai dar espaço para que apareça uma verdadeira alternativa.

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